Em meados de junho de 2021, a passagem da Igreja Velha de Arrimal para a esfera do Município de Porto de Mós foi a “notícia do dia”, por ser o primeiro passo para a concretização de um sonho com quase 50 anos. Quase ano e meio depois, onde estão as prometidas obras de recuperação da igreja para que seja devolvida à população com novas funções? «Será mais uma promessa adiada?», questionam alguns populares. «Não, nem pensar», assegura o vice-presidente da Câmara e vereador da Cultura, Eduardo Amaral.
À conversa com o nosso jornal, o autarca garante que a intervenção não está esquecida e que, neste espaço de tempo, houve reuniões entre as três entidades envolvidas e o arquiteto responsável e que este tem estado a trabalhar na proposta inicial. «Há cerca de duas semanas, foi-nos apresentado e ao pároco, o estudo prévio que agora será discutido com a diocese, para depois o podermos mostrar também ao conselho económico da igreja, que é parceiro nesta recuperação. Depois disso, o arquiteto irá avançar para a elaboração do projeto», esclarece Eduardo Amaral. A título de curiosidade, o autarca revela que, logo ao início, houve um grupo que se propôs dinamizar ali ações de culto, no entanto, isso foi rejeitado «por não se enquadrar naquilo que foi proposto para o local», ou seja, «um centro comunitário que a população possa sentir e utilizar como seu e que seja também um espaço de memória».
Entretanto, no âmbito do estudo prévio foi possível aprofundar o conhecimento que havia sobre a Igreja Velha e, fruto disso, há elementos que irão ser mantidos para guardar a memória do local, adianta. «Contámos com o depoimento dos mais velhos, das histórias que a população conta, de documentação escrita e da análise técnica feita e tivemos ainda a sorte de encontrar [fora do concelho] uma igreja muito semelhante à nossa, o que nos permite ter uma ideia bastante aproximada de como seria», adianta.
Velho templo albergará vários centros temáticos
A assinatura do contrato de comodato entre a Fábrica da Igreja Paroquial de Arrimal, a Diocese de Leiria-Fátima e o Município, que permitiu a “cedência” da Igreja Velha ao Município teve lugar no dia 13 de junho de 2021 no decorrer da cerimónia de inauguração do salão paroquial local, o Salão de Santa Maria. A cumprir-se o que está definido no contrato, a igreja será transformada num Centro Comunitário de Artes Criativas e Produtos da Terra, que contará com um espaço dedicado ao artesanato e à tecelagem, aproveitando saberes e práticas antigas na localidade, e uma loja de produtos da terra que fará “a ponte” entre os produtores locais e os turistas. Haverá um espaço preparado para exposições de pintura, escultura, ilustração, vídeo, design, instalação, arquitetura e tecelagem, com trabalhos a remeter para as memórias locais. A antiga igreja deverá albergar também um centro de observação de morcegos, aproveitando o facto de ali se ter fixado uma colónia de morcegos. A aposta passa por reunir parceiros, como o ICNF e o Politécnico de Leiria, e criar um centro de observação equipado com um sistema de videovigilância de visão noturna de alta resolução, o que permitirá criar um posto de observação permanente, onde os visitantes poderão observar, por exemplo, nascimentos, amamentações e primeiros voos de morcegos, isto tudo graças a imagens recolhidas 24 horas por dia.
O plano inicial prevê, ainda, um espaço para centro interpretativo da água e das lagoas, que encontra justificação na existência ali próximo das lagoas de Arrimal, às quais se junta a da Portela de Vale de Espinho. A ideia é criar um espaço de informação e educação ambiental de apoio à investigação e preservação da água no Maciço Calcário Estremenho, que se espera que venha a funcionar também com base em parcerias com a comunidade científica regional e nacional. Por último, e tendo em conta que se está a falar de um velho templo, deverá haver espaço também para um centro de retiro espiritual que poderá servir ainda de apoio à comunidade para a formação religiosa, bem como para os caminhantes e peregrinos que passem por ali.
Foto | Isidro Bento