O Dia Internacional da Educação celebrou-se no dia 24 de janeiro e, tendo esta efeméride como mote, O Portomosense propôs-se a traçar junto dos diretores do Agrupamento de Escolas de Porto de Mós (AEPMOS), Pedro Gil Vala, e do Instituto Educativo do Juncal (IEJ), Tânia Galeão, um retrato atualizado sobre os estabelecimentos de ensino que têm à sua responsabilidade. Quantos alunos há em cada escola e quais as suas necessidades? E o corpo docente, mostra-se em números suficientes ou há horários incompletos? Como veem os principais responsáveis pelas nossas escolas o estado atual do Ensino no concelho e quais os grandes desafios que enfrentam no seu quotidiano? Foram precisamente estas algumas das questões que lhes fizemos chegar.
«Um balanço positivo»
Com o ano letivo 2023/2024 praticamente a meio, o balanço de ambos até ao momento é claramente positivo. O diretor do Agrupamento de Escolas, que segundo um relatório datado do último dia de 2023 tem sob a sua tutela 2 591 alunos e 285 docentes dispersos entre os Jardins de Infância de Alqueidão da Serra, Alvados, Arrimal, Calvaria de Cima e Mendiga, as Escolas Básicas de Alqueidão da Serra, Arrimal, Calvaria de Cima, Cumeira de Cima, Casais Garridos, Fonte do Oleiro, Juncal, Mendiga, Mira de Aire, Pedreiras, Porto de Mós, São Bento, São Jorge, Serro Ventoso e Corredoura, a Escola Básica de Mira de Aire e ainda a Escola Secundária de Porto de Mós, declara que este está a ser «um ano à semelhança dos anteriores», o que por si só acarreta fatores marcados pela positividade, como é o caso da «excelente relação entre professores, alunos, direção e funcionários» e a envolvência de todo o núcleo escolar nas «atividades que foram ou serão executadas até ao final do ano». Do lado do Juncal, Tânia Galeão, que tem à sua responsabilidade um total de 837 estudantes e 57 professores, também atribui nota positiva ao ambiente vivido entre alunos e respetivas famílias, aos «momentos de partilha com parceiros e comunidade escolar» e também à aplicação de «métodos que promovem o desenvolvimento de competências transversais nos alunos».
Novo ano traz novos desafios
No IEJ, o rácio de alunos por turma cifra-se nos 25 e, pese embora «as dificuldades de contratação em alguns grupos disciplinares», não há a registar no Instituto falta de professores. Também no AEPMOS os horários dos docentes estão completos, mas o crescente número de estudantes – que Pedro Gil Vala atribui ao facto de o concelho se ter tornado num «polo de atração para as famílias imigrantes» – e a chegada de muitas crianças e jovens oriundos das mais diversas realidades educativas têm representado um verdadeiro desafio ao corpo docente e às infraestruturas escolares. Ainda assim, frisam ambos os diretores, esta é «uma realidade transversal a todo o país» e está longe de ser exclusiva de Porto de Mós, pelo que afinam pelo mesmo diapasão quando a prioridade é a integração.
Para Tânia Galeão, «esta situação é de facto um desafio e há claramente questões a melhorar em termos do sistema educativo», já que, fruto das respetivas diferenças, os alunos estrangeiros «sentem grandes dificuldades a acompanhar o ano de escolaridade ao qual lhes é atribuída equivalência». Nesta senda, o AEPMOS, tendo por base a sua filosofia de «portas abertas» e o sentido de missão de «receber todos», “paga a fatura” com a maioria das turmas completas e as suas salas «cheias com alunos de diferentes proveniências, nacionalidades e níveis de ensino», o que obriga as suas equipas educativas a um trabalho suplementar e «bastante exigente». Ainda segundo o diretor, «nalgumas escolas há mais pressão, noutras há menos, e nós [direção] estamos também a tentar e já conseguimos encaminhar alunos da Escola Secundária de Porto de Mós para a Escola Secundária de Mira de Aire». Em conjunto com o Município, recorda, foi criada uma linha de transportes «que permite os alunos saírem às 7 da manhã de Porto de Mós para iniciarem as aulas em Mira de Aire às 8h15». Ainda para fazer face a esta questão, as infraestruturas do AEPMOS têm sofrido algumas alterações e, até às obras da requalificação e ampliação da Secundária de Porto de Mós estarem concluídas, espera-se que possam dar resposta cabal: «Eu fui cá aluno, poderá ter havido aqui alguma reorganização interna, pequenas obras, mas a escola basicamente mantém-se idêntica, sempre muito bem cuidada, de aspeto limpinho, mas o problema das instalações é o mesmo, o frio. Tenho também histórias que me contaram de haver aulas no refeitório, nos corredores… Nós ainda não chegámos aí, ainda temos alguma margem para continuar a acolher e a incluir, que é o nosso grande desígnio e não podemos desistir dele», aponta.
Falta de professores (ainda) não preocupa
Na base do Ensino estão os alunos, mas também os professores, e esta é uma classe que Tânia Galeão e Pedro Gil Vala não deixam esquecer. Apesar de todas as escolas do concelho estarem “bem servidas”, os registos nacionais apresentam pirâmides etárias tendencialmente envelhecidas. A falta de condições laborais, salariais e de progressão de carreira são prontamente apontadas como os principais fatores que estão a afastar os jovens da profissão e Tânia Galeão recorda que, se «há 15 ou 10 anos recebia diariamente currículos com candidatos à docência», hoje tornou-se algo «muito residual». Desafiada a traçar um perfil do seu corpo docente, a responsável define-o como «heterogéneo mas unido, estável, envolvido, profissional» e com uma característica que a enche «de orgulho», que é o facto de «vestir a camisola» e de se dedicar aos alunos «em prol do seu sucesso». À mesma questão, também Pedro Gil Vala responde com rasgados elogios: «Se não fosse a qualidade deste corpo docente, era muito mais difícil», afirma perentoriamente. «Temos no Agrupamento uma elevada percentagem de professores acima dos 50 anos, o que não é o mesmo que se fosse ao contrário… Por outro lado, temos mais experiência e sabedoria. Embora a competência não dependa da idade, temos professores competentes e com iniciativa, que se predispõem a participar nas nossas iniciativas . Alguns vêm, inclusive, de Coimbra ou da Figueira da Foz diariamente, e estão cá porquê? Porque se sentem bem em Porto de Mós», explica.
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