Fazia parte do programa eleitoral dos dois partidos (PSD e PS) que compõem, atualmente, o executivo camarário, um projeto para melhorar as condições do Grupo Desportivo das Pedreiras (GDP). Mais de um ano depois das autárquicas, e com o GDP a continuar a somar bons resultados, fomos perceber a evolução do projeto junto do vereador do Desporto, Eduardo Amaral. Qual o segredo do sucesso do clube, apesar das condições menos favoráveis? O presidente do GDP, Luís Lameiro, e um dos treinadores “prata da casa”, Emanuel Moniz, dão a sua opinião.
«Já reunimos com a Federação Portuguesa de Atletismo (FPA) para dar resposta às necessidades dos atletas das Pedreiras», adianta Eduardo Amaral, que revelou que a Câmara já recebeu «um primeiro projeto proposto» pela FPA: «Estamos a interpretá-lo, o espaço que existe não chega para o que se pretende». Entre as ambições da FPA, às quais a Câmara se alia, está a capacidade deste ser não só um espaço de treino, mas também «receber algumas provas regionais e nacionais». Está ainda em causa ter «quatro corredores de corrida» e uma reta de 100 metros. Tendo em conta que o espaço não é suficiente, a Câmara está a analisar «terrenos ao lado» para adquirir e englobar todo o projeto.
A parte económica é um entrave, assume Eduardo Amaral, dado «o investimento avultado» a que o projeto obriga. «Precisamos de linhas de financiamento, procurámos junto da Federação que não tem», revelou. «Todos ansiamos pela obra, já partilhámos o pré-projeto com a Junta, com o clube, temos mantido essa ligação», adianta. Apesar de ser a Câmara a «facilitadora» da obra, por «ter a vantagem de conseguir juntar várias entidades e de conseguir financiamento», este é, «um terreno do clube». Eduardo Amaral garante que a Câmara não quer ser «dona»: «A instalação será do clube, mas aberta a toda a comunidade. Já que o Município investe, investe para todos», esclarece.
“Tartan”, sinónimo de mais atletas?
«Os atletas estão a treinar em condições precárias», assume o atual presidente do GDP, Luís Lameiro, que ressalva que este é um problema que já se arrasta há muito tempo. «Não temos uma pista de tartan para os miúdos treinarem no mesmo piso que vão encontrar em competição. Andamos a correr em terra batida. O salto em comprimento tem zonas irregulares propícias a lesões», salienta. Os atletas ficam também limitados a experimentar «modalidades novas».
Para o clube era impossível investir de forma autónoma na requalificação, por isso, admite, Luís Lameiro, a ajuda da Câmara é «imprescindível». O processo está a avançar, no entanto, o dirigente sublinha que este tipo de projetos «demoram sempre anos a começar a ser executado». Quando o sonho for realidade, não vai ser apenas bom para o clube, acredita: «Se o concelho tiver uma pista de atletismo, se calhar vêm pessoas de Mira de Aire, da Calvaria de Cima, etc… miúdos que antes não tinham condições», salienta.
O presidente considera que o sucesso desportivo que o GDP tem tido, apesar das condições de treino, se deve muito «aos treinadores» e à sua «força de vontade». «Há treinadores que andam ali há muitos anos, nunca desistiram e sabem das condições, mas insistem», frisa. A «qualidade do atleta» também é fundamental, mas o responsável acredita que é a motivação «que os treinadores passam» que os faz ter força.
Segredo é o GDP ser “uma família”
Se hoje as condições ainda não são as ideais, já foram «bem piores», que o diga um dos atuais treinadores do GDP, Emanuel Moniz, que há duas décadas está no clube. Tudo começou como atleta no futebol de formação, mas quando chegou a sénior, não tendo lugar na equipa, foi convidado por dois colegas para integrar a equipa de atletismo, que na altura se dedicava apenas a corrida em estrada. Com o passar dos anos «foram-se juntando ao clube muitas crianças, sobretudo filhos de dirigentes», o que levou a que Emanuel Moniz tivesse que tomar uma opção: continuar como atleta ou assumir o cargo de treinador para encaminhar estes jovens. Escolheu a segunda opção. «A direção, depois, construiu uma caixa de saltos e um círculo de lançamento do peso, pois já tínhamos alguns atletas, mesmo sem esse equipamento, a dar nas vistas», recorda.
Durante muito tempo treinou estes jovens sozinho, mas sentia vocação: «Gosto de ensinar, partilhar, são coisas que nascem com as pessoas», considera. Chegou a treinar, sozinho, 50 atletas e começou a fazê-lo sem curso, passando a sua experiência e o que lia. Com a evolução, sobretudo em número de atletas, Emanuel Moniz tirou um curso.
Não foi o pioneiro do atletismo no GDP, no entanto, tem consciência que foi o primeiro treinador «a trabalhar com os jovens de forma mais estruturada» e que depois foi chamando outros colegas para dar mais “corpo” ao clube. Se conseguiu fazer evoluir o clube para outras modalidades, muito se deveu ao interesse manifestado pelos atletas. «No início, não tínhamos condições nenhumas e mesmo com o nada que tínhamos, havia pessoas que viam que o desporto não era só futebol, que tinham interesse», sublinha. Isso permitiu ir-se pensando o atletismo «como algo mais» que corrida de estrada. O pensamento é igual atualmente, apesar do GDP não ter, ainda, as melhores condições, continua a ter muitos jovens com vontade.
Emanuel Moniz não pede mais que «uma pista de tartan, que seria a “cereja no topo do bolo”» para que os atletas pudessem treinar «de forma mais próxima da competição». A motivação, essa, o treinador acredita que existe “de sobra”, muito pelo espírito que se vive no clube. «O GDP tem um historial, funciona como uma família, no momento em que o atleta entra há uma ligação muito grande, entre pais, clube, atleta e treinador», afirma Emanuel Moniz, que encontra nisto uma das razões para o sucesso desportivo do clube.
Quanto às novas instalações, não tem dúvidas de que poderão atrair «ainda mais miúdos». Também o treinador encara estas obras como um benefício «para todo o concelho». «Acredito piamente que o número de atletas irá aumentar e, quem sabe, mais clubes do concelho abram portas ao atletismo», diz, em tom de esperança.
Foto | Jéssica Moás de Sá
Com Isidro Bento