A minha geração é seguramente, uma das mais privilegiadas: alguns rapazes não foram chamados a cumprir o serviço militar, as raparigas usaram, pela primeira vez, calças; tiveram acesso ao controlo da maternidade através da pílula; acompanhámos, incrédulos, os primeiros passos do Homem na Lua. Aprendemos a usar a internet e a televisão tem tantos canais que teimamos em ver 3 ou 4 (hábitos que ainda transportamos dos 2 canais a preto e branco); tudo isto sem guerra na Europa. Experienciámos um tempo de abundância, num sistema político mais democrático e mais livre. Tudo parecia fácil e com uma velhice assegurada por reformas e pensões (inexistentes para a maioria da população antes do 25 de Abril). Assistimos, agora, à ruína de muitas das garantias que tomámos como seguras. E a guerra é uma ameaça real. Os privilégios são agora uma quimera.
E ainda não vimos tudo. Fernando Pessoa, intemporal e assertivo escreveu tudo em 3 frases: «Vivo sempre no presente. O futuro, não o conheço. O passado, já o não tenho». E o que podemos antecipar desse futuro que é já, hoje, à tarde? Outra Revolução Tecnológica – o ChatGPT -, ou Inteligência Artificial (IA). Haverá, seguramente, o antes e o depois. No último “Clube de Leitura” da Biblioteca Municipal de Porto de Mós, levei um dos livros que aborda este assunto e me transportou para um tempo e um modo diferentes: A Era da Inteligência Artificial, da LEYA.
Uma amostra do que está em causa: como será a guerra apoiada pela IA? Como serão as inovações veiculadas pela IA nos domínios da Saúde, da Biologia e do Espaço? Quais as consequências ao nível do emprego? Como organizar o ensino-aprendizagem na escola e em casa? Mais uma revolução anunciada há muito e agora concretizada. Falando com o engenheiro portomosense Samuel Martins, a trabalhar na Microsoft em Seatle, EUA, fiquei a saber que ainda estamos no início da IA, mas nada pode parar a investigação e o avanço desta tecnologia poderosíssima.
Quais são as medidas que nos podem ajudar a conviver com IA? Quase todos os políticos e cientistas concordam que precisamos de regulamentação e educação adequadas. Será que ainda vamos a tempo? Há sempre quem possa usar a IA para fins menos nobres e mais problemáticos ou até colocar em causa a Democracia.
Será que podemos renunciar à IA? Poder, podemos, mas não será a mesma vida. Renunciar a esta tecnologia “significará renunciar a coisas convenientes como recomendações automatizadas de filmes ou aconselhamento de trajectos rodoviários, mas também a vastos domínios de dados, a plataformas de rede e aos progressos em áreas que vão da Saúde às Finanças”. Contudo, é preciso sublinhar que esta máquina não é humana; não sente, não reza, não tem esperança, não tem consciência nem capacidades reflexivas, mas recolhe informação num segundo, corrige e aprende com os erros.
A escola e a política terão aqui um papel absolutamente decisivo que não podemos, de todo, ignorar.
Ainda não usou? É melhor experimentar.