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João Fonseca Matias, um pintor sem fronteiras

15 Fevereiro 2022
Isidro Bento

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Isidro Bento

15 Fev, 2022

A paixão, bastante antiga, começou, como sempre começa, como um “segredo” bem guardado com familiares e alguns amigos, mas há coisas que pelo seu impacto dificilmente ficam escondidas muito tempo e foi o que aconteceu com João Matias, 69 anos, contabilista a tempo inteiro, pintor amador nas horas vagas.

Da sua paixão pela pintura, desde cedo nasceram trabalhos muito apreciados e aquilo que era privado tornou-se público mas a verdadeira prova de fogo, com a sua participação numa mostra coletiva, aconteceu vários anos depois da estreia entre telas, pincéis, tintas e espátulas. Apesar do bom acolhimento por parte do público, o pintor natural da Corredoura (Porto de Mós) só em novembro de 2021, mais de 30 anos depois dessa experiência, é que decidiu aventurar-se a solo e o resultado não podia ter sido melhor, reconhece à conversa com O Portomosense.

A mostra individual composta por 32 quadros, «nove deles de recantos e encantos de Porto de Mós», levou muita gente ao Castelo, «inclusive, de bem longe do concelho», e os elogios foram uma constante. E porque às vezes o que custa é começar, menos de dois meses depois, nova exposição, desta feita na galeria de arte da Biblioteca Municipal de Leiria, uma mostra que os nossos leitores podem ainda apreciar até ao próximo sábado, 5 de fevereiro.

João Matias cultiva a discrição na sua vida pública e privada e, apesar da enorme paixão que tem pela pintura, deixa claro que não pretende «fazer dela profissão». Pinta para sua «realização pessoal», frisa, e talvez tudo isto explique o porquê de só agora ter decidido fazer uma exposição individual: «Não procuro os holofotes e a fama, muito menos ganhar dinheiro», garante.

«Para efeitos de seguro», vê-se obrigado a atribuir um valor monetário a cada quadro mas não coloca essa cotação junto aos trabalhos que expõe, diz. Não pinta para vender, mas admite que desde há muito que é procurado «por amigos e conhecidos» que lhe encomendam trabalhos, quase sempre retratos. Nesse caso, cobra «qualquer coisa para pagar os materiais e pouco mais».

Amante confesso das viagens e do contacto com outras culturas, João Matias, transporta muitas dessas vivências para a tela. É a sua forma de registar experiências muito enriquecedoras do ponto de vista pessoal, mas também de levar a outros um pouco dessas culturas e sensibilizar para várias causas. «Vivemos num mundo global e não podemos ficar insensíveis ao que se passa à nossa volta. Se com a minha pintura conseguir também transmitir alguma mensagem e informação sobre outras culturas, fico muito satisfeito com isso. Por exemplo, tenho um quadro que remete para o problema dos refugiados e outros para a pobreza, porque eu acho que é importante alertar para estas questões para as quais, muito fruto da nossa vida agitada, nem sempre estamos despertos», sublinha.

Para João Matias, a pintura só faz sentido se “mexer” com quem a aprecia, se conseguir transmitir e provocar sentimentos. No seu caso, em que tem no retrato e na paisagem os elementos predominantes, é talvez com o primeiro que mais tem conseguido captar a atenção do público e pintado alguns dos seus melhores trabalhos. «Tenho retratos de pessoas conhecidas a nível local mas também de quem encontrei por esse mundo fora e entre os mais expressivos e mais bem conseguidos estão, sem dúvida, alguns de gente pobre, miserável até à luz dos conceitos ocidentais, mas com um sorriso no rosto e uma expressividade dignas de registo e que provam que há pessoas pobres que vivem felizes», destaca.

Depois de vários anos a pintar num estilo realista, com a preocupação de que um retrato seja o mais fiel possível à pessoa em causa e que espelhe o sentimento que a sua expressão carrega, João Matias quer agora trilhar caminhos novos. O desafio a que se propõe é fazer trabalhos com menos pormenor, talvez mais “imperfeitos” se pensar numa lógica de fidelidade ao modelo original, mas onde possa dar mais vazão à sua criatividade.

O gosto pela pintura é algo que acompanha João Matias desde criança mas foi na altura da tropa, e como o tempo abundasse, que começou a fazer pinturas em pastel e também tinta da china. Por volta de 1985, estreia-se na pintura a óleo sobre tela e faz também alguma, pouca, aguarela, mas é só em 2003, portanto, 18 anos depois, que se começa a dedicar um pouco mais “a sério” a uma arte de que gosta imenso.
Assumindo-se por inteiro como autodidata, conta, bem-disposto, um episódio que testemunha precisamente o difícil exercício de aprender sem mestre: «Queria experimentar pintar a óleo sobre tela mas não sabia como se fazia. Comprei a tela e comecei a pintar na parte rugosa (que é extremamente difícil de pintar) e, afinal, uns tempos depois, ao ler um artigo percebi que, afinal, tinha começado pelo lado errado!…».

Acertadas as agulhas com a técnica, João Matias, nunca mais quis outra coisa e umas vezes usando espátula, outras, pincel, é na pintura a óleo sobre tela que se sente mais à vontade.

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