Antes de o viver, Susete Cordeiro, responsável pela Comissão Organizadora Vicarial, já predestinava e dizia a O Portomosense que os Dias nas Dioceses (vulgarmente chamadas de pré-jornadas) iriam ser bons para todos: jovens, famílias de acolhimento e paróquias. O balanço, já depois destes jovens “marcharem” em direção a Lisboa para a verdadeira Jornada Mundial da Juventude (JMJ), não podia ser melhor: «Correu melhor do que as minhas expectativas, o grande objetivo destas pré-jornadas é haver uma partilha de experiências e de cultura, unidos na mesma fé e foi isso que aconteceu », salienta. Na opinião de Susete Cordeiro, vivem-se muito mais intensamente estes dias quando são «passados num seio de uma família», comparativamente a dormir em pavilhões, e em Porto de Mós isso foi conseguido em pleno. «Todos os jovens ficaram em famílias, essa experiência é a melhor», revela.
É normal haver «reticências de alguém que abre a porta a um desconhecido, que não fala a nossa língua e acolher da forma como acolheram». A retribuição veio de todos quantos estiveram por Porto de Mós nestes dias, mas há uma pergunta, feita por um jovem tailandês, que resume esta gratidão: “Onde é o paraíso? Nestes dias estive num paraíso». Para Susete Cordeiro, ouvir isto «é muito gratificante», depois de um trabalho longo e com algumas dificuldades pelo caminho para preparar tudo. Gratificante também foi presenciar o primeiro encontro entre jovens e famílias de acolhimento. «Quando no primeiro dia vi esse momento, foi uma grande alegria, não correu tudo como previ, mas correu ainda melhor», sublinha. A responsável agradeceu às famílias por «receberem de braços abertos », sem criarem qualquer obstáculo.
Para trás ficaram várias horas de trabalho, onde unir diferentes paróquias «com diferentes realidades », o desconhecer por completo o que era receber uma JMJ, o ter acesso aos dados dos jovens que vinham em tempo conveniente para poder tratar de todas as burocracias, foram os principais dificuldades. Se os jovens deixaram um pouco de si cá, pelas ruas que passaram, nas famílias com as quais conviveram, Susete
Cordeiro acredita que também levaram um pouco de Porto de Mós consigo.
771
Este foi o número de jovens que as 10 freguesias do concelho de Porto de Mós acolheram. Segundo a informação disponibilizada a O Portomosense pela Diocese de Leiria-Fátima, no Alqueidão da Serra estiveram 56 jovens de Macau e Polónia. Em Serro Ventoso, Mendiga e Arrimal (a diocese não tem dados concretos da distribuição pelos lugares) foram acolhidos 243 jovens da Alemanha, Porto Rico e Ruanda. Já em Mira de Aire e Minde (que apesar de ser de outro concelho, faz parte da mesma paróquia) foram 205 os jovens do Movimento Jovem Syro Malabar, com pessoas de Austrália, Estados Unidos da América e Europa albergados. São Bento acolheu 62 jovens de Alemanha, Argentina e Estados Unidos da América. Calvaria de Cima e Pedreiras (que fazem parte da vigararia da Batalha) acolheram jovens vindos de França, 60 e 20, respetivamente. Porto de Mós tinha previsto receber 151 jovens de Cabo Verde, Rússia e Tailândia, mas dos 50 cabo-verdianos que iria receber, chegaram apenas 24. Susete Cordeiro diz que até agora «são desconhecidas as causas», apenas sabe que «estes jovens não chegaram a Porto de Mós».
O que leva uma família a acolher jovens?
«Sempre gostei muito de lidar com jovens na minha freguesia e, sempre que há necessidade, tento interagir com eles», explica Paula Gomes, 49 anos, residente na Bezerra. Foi lá que acolheu dois jovens porto-riquenhos, uma «experiência fantástica», da qual afirma que «não poderia esperar melhor». «[Os jovens] mostraram-se muito gratos por estar connosco e nós adorámos cada momento que passamos juntos. Tanto para nós, enquanto casal, como para os nossos filhos, foi uma maravilhosa descoberta, o contacto com outra cultura muito diferente, outras formas de falar e receber Jesus», salienta.
Os dois filhos de Paula Gomes, um adolescente e uma pré-adolescente, foram uma das motivações para querer acolher estes jovens. «Achei que era interessante terem um contacto direto com jovens de outros países, uma forma de perceberem que é possível saírem da zona de conforto e ir à descoberta», salienta. No final, foi mesmo isso que aconteceu: «Estes jovens mostraram-nos que a fé de facto move montanhas e pode operar milagres no coração. Além disso, todo o grupo em si foi uma autêntica explosão de alegria, animação e manifestação de fé, que tanta falta faz aos nossos jovens», sublinha.
Paula Gomes sente-se «orgulhosa » por sentir que os seus filhos comungam desta fé. «O meu filho vai participar na JMJ e tem sido um participante ativo».
“Mimados como não imaginávamos”
Jordane Portela, de 34 anos, era o chefe do grupo de franceses vindos da região de Val de Marne (diocese de Meaux) e foi o porta-voz escolhido para definir a experiência em Portugal. Este foi um dos jovens que ficou hospedado em casa de Susana Brito, na Calvaria de Cima, e a forma como foi acolhido não podia ter sido melhor. «Tivemos um acolhimento inesperado, fomos mimados como não imaginávamos, nem em sonhos.
Deixar o conforto da família não foi fácil e ir ao desconhecido, mas receber tanta graça de uma família que deu tudo sem esperar nada em troca e que nos acolheu como seus filhos fez-nos sentir irmãos no amor de Cristo», salientou. «Estas famílias são para nós um exemplo do que nós podemos oferecer a outros, estas atitudes convidam-nos futuramente a dar aos outros com humildade o amor-próprio de Deus», acrescentou.
«Sentir a fé» de perto e encontrar «pessoas de outras nações, com outras culturas, outros horizontes ou simplesmente conhecer peregrinos que moram perto», mas que não conheciam e «que partilham a mesma fé», era um dos objetivos com a participação na JMJ.
«Constituído por algumas raízes portuguesas», alguns destes peregrinos sentiram também «a necessidade de voltar às suas origens na vida pessoal como espiritual». «Para outros, Portugal é rico de história de civilizações, mas principalmente terra Marial, onde Nossa Senhora nos acolhe em seu braços em Fátima, não podia haver destino mais ideal próximo de França para se aproximar do Pai e estar entre irmãos».