O jovem designer portomosense, Joaquim Januário, foi premiado com o segundo lugar no Prémio Rometti, um concurso promovido pela Manifattura Rometti, empresa italiana da província de Perugia, fundada em 1927 e que desde essa altura, em todos os seus trabalhos, tenta fazer a síntese entre arte, artesanato e produção industrial na área da cerâmica.
O Prémio Rometti visa «premiar projetos e artistas que dão uma contribuição original à arte da cerâmica» com trabalhos que aplicam o design criativo à arte da cerâmica antiga (tradicional). O concurso destina-se a estudantes de universidades (ou politécnicos) e institutos de arte e design convidados pela entidade promotora. Neste caso, Joaquim Januário e restantes colegas da sua turma concorreram enquanto alunos da Escola Superior de Artes e Design (ESAD-CR), das Caldas da Rainha, um dos estabelecimentos de ensino superior que integram o Politécnico de Leiria.
Joaquim Januário, à altura, aluno finalista do curso de Design de Produto – Cerâmica e Vidro, concorreu a esta nona edição do Prémio Rometti com o projeto System desenvolvido no âmbito da unidade curricular Projeto de Design de Produto IV e meses mais tarde recebeu «a agradável notícia» que tinha sido um dos quatro finalistas selecionados. Com a boa nova veio a confirmação de um triplo prémio: as suas peças iriam sair do computador e ganhar forma física e o jovem teria o privilégio de acompanhar todo o processo de produção já que a empresa proporciona aos vencedores um estágio de uma semana nas suas instalações assegurando ainda todas as despesas de alojamento e alimentação. Além disso, enquanto segundo classificado teria direito a um prémio monetário de 600 euros.
«Estou muito satisfeito com este prémio mas como sou uma pessoa que fixa sempre os seus objetivos a um nível o mais elevado possível confesso que gostava de ter conquistado o primeiro lugar. De qualquer forma, este segundo lugar é muito bom porque estamos a falar de um concurso prestigiado e que conta com a participação de estudantes de vários países», refere Joaquim Januário à conversa com O Portomosense.
“Foi excelente ver as peças que criei ganharem forma física”
O jovem viveu «uma experiência inesquecível» e mostra-se grato à sua família por ter lhe «ter proporcionado as duas viagens» que fez a Itália e à ESAD, nomeadamente aos professores Carla Louro e Fernando Carradas, pelo apoio dado para o bom êxito deste projeto e à Rometti pela oportunidade que lhe deu de poder assistir a todo o processo de produção das peças e conhecer uma empresa que produz «peças de luxo, essencialmente artísticas e com pouco design associado, feitas à mão, na roda». “A cereja no topo do bolo” foi ter as suas peças expostas no Triennale de Milano, um prestigiado museu de design e arte, de Milão.
«Enquanto designer em formação foi muito bom ver as peças que imaginei a ganharem forma física. Também gostei imenso do contacto com o dono e com o diretor artístico da empresa que foram impecáveis connosco. Receberam-nos de uma forma excelente, acolheram-nos como se fossemos da sua família, andavam connosco para todo o lado e tudo aquilo que necessitávamos lá estavam eles a acompanhar. Apreciei, ainda, conhecer outras pessoas, com uma cultura e com uma ideia do design diferentes daquelas que eu tenho», reforça, adiantando que entre os premiados estiveram alunos de várias escolas italianas assim como da Bélgica e dos Estados Unidos e, naturalmente, ele a representar Portugal.
Em relação ao projeto submetido à apreciação dos seis jurados, explica que é «inspirado nas ligações que temos com a natureza», e daí nasceram «duas peças decorativas com 50 centímetros de altura, banhadas a ouro, uma de cor branca, outra, preta, e que têm a particularidade de se encaixar uma na outra».
Depois desta experiência, Joaquim Januário não tem dúvidas de que o exemplo da Rometti podia e devia ser replicado em Portugal. «Eles querem juntar a cerâmica, a arte e o design, que é uma coisa que nós também podíamos fazer perfeitamente cá, ou seja, pegar na produção artesanal e no design que temos para valorizar o produto e vendê-lo a um preço muito mais elevado. Eles lá fazem isso muito bem e eu confesso que não entendo o porquê de nós não o fazermos», frisa.
“Quero sempre aprender mais e mais”
Joaquim Januário tem apenas 22 anos, uma licenciatura recém-tirada, mas já tem uma ideia bastante concreta daquilo que quer para o futuro. Para reforçar a sua formação e alargar horizontes e oportunidades frequenta atualmente na Universidade de Aveiro, o mestrado em Engenharia e Design de Produto, tendo passado assim de uma escola mais virada para as artes para ingressar numa outra «muito mais técnica e mais ligada à ciência» e até agora está satisfeito com a escolha feita.
O jovem insiste muito na ideia de ser um designer em formação. Reconhece que a licenciatura lhe deu conhecimentos e ferramentas e o mesmo acontecerá decerto com o mestrado mas quer sempre «aprender mais e mais» e para isso considera fundamental, no futuro, vir a ter uma ou mais experiências de trabalho no estrangeiro para tomar contacto com outras realidades da sua área profissional. Antes ou depois será também incontornável passar por empresas nacionais e ir aprendendo sempre com cada uma dessas experiências, adianta.
Joaquim Januário não se vê a si nem aos designers como artistas “puros” dado que podem fazer arte mas a sua formação e experiência vai bem além disso, mas reconhece que no seu caso, independentemente daquilo que vier a fazer no futuro, quer manter sempre uma janela aberta para os projetos de índole mais artística. Nesse sentido, está a construir um estúdio na Reixida (Leiria) no Serra-Espaço Cultural, um espaço criado pela associação O Serra e dinamizado por um coletivo de criativos, que procura «contribuir para a criação e formação artística da comunidade, assumindo-se como um ponto de encontro criativo da região de Leiria».
«Concorri e fui aceite e então vou ter lá um estúdio onde poderei trabalhar com liberdade criativa e ter menos restrições que aquelas que tenho agora na faculdade. Além disso, irei conviver com artistas de várias áreas e isso será, decerto, uma experiência enriquecedora».
A terminar a nossa conversa tentamos obter a resposta que provavelmente estará na mente de alguns dos nossos leitores: Afinal, o que é isso de design de produto? «O design de produto é, basicamente, desenhar e projetar os produtos que as pessoas utilizam diariamente, desde um computador, uma pilha, uma jarra cerâmica ou uma colher, por exemplo. Muita gente confunde o design e a arte mas não são a mesma coisa. O design é uma disciplina que está ligada à arte, sim, mas tem muito de científico e um método próprio. Trata-se de uma disciplina que requer muito trabalho e dedicação e que tem um campo de ação que vai desde as Ciências Sociais à Engenharia e quando nós idealizamos um produto temos de pensar em tudo isso, nomeadamente, como é que a pessoa o vai utilizar, como é que vai ser incorporado, se será de utilização única ou o objetivo é que seja reutilizado, a forma como vai ser vendido. Enfim, uma série de coisas», esclarece Joaquim Januário.