«Quero levar isto para a vida». É assim que Manuel Bartolomeu, com apenas 15 anos, se refere ao triatlo. O jovem federado, natural do Alqueidão da Serra, é atleta do Fátima Escola de Triatlo e uma jovem promessa na modalidade como o comprovam os resultados que tem colecionado nas provas onde tem participado. Como muitos miúdos, a sua ligação ao desporto começou no futebol, mas quando foi estudar para Fátima, “arrumou” as chuteiras e abraçou não uma mas três modalidades: corrida, natação e bicicleta. «Quando fui para Fátima não tinha horários para conseguir ir ao futebol e como eu ganhava muitos corta-matos na escola, o pai de uma colega disse-me para experimentar o triatlo», recorda. De bicicleta Manuel já gostava muito, até por incentivo do seu pai que pratica com regularidade e na natação também se sentia à vontade, uma vez que teve aulas em pequeno. Já a correr estava mais do que habituado nos treinos do futebol.
Em setembro faz cinco anos que começou a praticar triatlo e a paixão foi imediata: «Passado pouco tempo fiz uma prova e fiquei logo em terceiro lugar, por isso comecei a gostar logo muito», confessa, entre risos. Em apenas quatro meses, Manuel Bartolomeu conseguiu um pódio e sentiu também logo que queria que esta fosse a sua profissão. Além dos sucessos no clube, o alqueidoense sempre fez desporto escolar, muito impulsionado pela escola, o Centro de Estudos de Fátima, que frequentou no segundo ciclo. Quando mudou de escola no 7.º ano , para a Escola Secundária de Porto de Mós, sentiu uma diferença grande de realidade: «Custou-me muito mudar de Fátima para aqui, sobretudo pelos amigos, que interferem no desporto, porque se estou bem com os amigos, também estou bem no triatlo», lembra. Embora a adaptação não tenha sido fácil, foi precisamente através do desporto escolar, que se conseguiu integrar mais facilmente na nova escola, onde começou desde o primeiro ano a ser selecionado para a representar nos campeonatos. «O desporto ajuda-nos a criar amigos, a sermos melhores pessoas, em termos de saúde e também, daqui para a frente, poderei viajar e conhecer sítios novos em provas», salienta.
Os sacrifícios de um atleta
Dia sim, dia sim – é esta a regularidade dos treinos de Manuel, que nem aos fins de semana faz uma pausa. Quase todos os dias treina duas modalidades diferentes. Como é a semana de um triatleta? «Muito cansativa», diz, ainda para mais quando se vive, estuda e treina em sítios diferentes e «tem que se andar de um lado para o outro». Todos os dias sai da escola por volta das 17 horas e só entra em casa por volta das 21. No futuro, tem consciência de que com a exigência a aumentar, poderá vir a fazer treinos bi-diários, mas está «preparado» para essa realidade.
Durante a pandemia não houve qualquer treino presencial e por isso, apesar do seu treinador atual, Marco Carreira, definir um plano de treino, tinha de ser o jovem Manuel a encontrar a motivação para, sozinho, nunca deixar de treinar. Embora tenha a pressão de se sentir em forma em todas as modalidades, assume que não pensa muito nisso: «Faço o que tenho a fazer e pronto», consciente de que trabalha muito para evoluir. Motivação tem tido também para continuar a estudar: «Sem negativas!», garante.
O que tem de especial o triatlo?
«Quando me perguntam qual o desporto que faço e digo triatlo as pessoas ficam surpreendidas. É uma coisa diferente, três em um. Na escola em Porto de Mós só há um triatleta, sou eu», frisa o jovem. Não tem um clube de sonho onde queira chegar, mas tem uma camisola de sonho para vestir: a da Seleção Nacional. Se por algum motivo não conseguir ser atleta profissional, também já tem plano B. «Gostava muito de ser fisioterapeuta na área do desporto», diz.
Recentemente Manuel Bartolomeu tornou-se vice-campeão de duatlo no Campeonato Nacional Jovem realizado em Portalegre. Tem uma estante cheia de prémios e já teve a oportunidade de fazer treinos no Centro de Alto Rendimento do Jamor. «Eles viram os meus tempos, combinaram com o meu treinador e fui lá. Estão lá os melhores treinadores, alguns da Seleção e que registam os nossos tempos», explica. Se não fosse a pandemia a meter-se pelo meio, já teria sido chamado para mais testes.
O orgulho e o apoio dos pais
Ivone Vieira é mãe de Manuel Bartolomeu e orgulhosa deste percurso desportivo. O triatleta tem noção de que o apoio dos pais é, monetária e psicologicamente, fundamental. Este é um desporto caro, que exige um grande esforço: «Na natação preciso de touca, óculos, materiais como barbatanas, palas, snorkel e fato de banho; na corrida preciso de umas sapatilhas boas, confortáveis e que ultrapassam sempre a centena de euros e no ciclismo, o mais caro, preciso de uma bicicleta, capacete e sapatilhas de encaixe», explica. Tudo isto sai da carteira dos pais, uma vez que os clubes não têm possibilidades de apoiar os atletas. Ivone Vieira, também à conversa com o nosso jornal, explica que por ser um atleta federado recebe o apoio da Câmara Municipal de Porto de Mós, podendo treinar nas Piscinas Municipais sem ter que pagar.
Apesar de proporcionarem tudo isto ao filho, os pais de Manuel não exigem «que seja um excelente aluno ou um campeão», querem sobretudo que «seja feliz». No entanto, não escondem o orgulho por tudo o que o jovem tem alcançado e sobretudo admiram a sua capacidade de trabalho: «Estamos a falar de um miúdo de 15 anos que 90% do tempo treina sozinho, não houve um dia que não treinasse, mesmo durante a pandemia. Acho que isso o ajudou muito mentalmente, esteve sempre bem disposto», diz a mãe, orgulhosa.
Momento fair-play
Desporto e fair-play nem sempre andam de mãos dadas mas quando isso acontece é importante tornar esses bons exemplos públicos. Manuel Bartolomeu protagonizou recentemente uma dessas histórias bonitas quando, em pleno duatlo de Vila Real de António (Algarve) interrompeu a sua prova e ficou para trás, para ajudar um colega de outra equipa que tinha sofrido uma queda. Enquanto, outros colegas ignoraram a situação, Manuel fez diferente e isso valeu-lhe elogios de todos aqueles que assistiam à prova nomeadamente do treinador do triatleta que ajudou. No final, o jovem alqueidoense ficou em primeiro lugar na prova e o atleta em causa, em segundo.