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Jovens da “Missão País” saem de Porto de Mós com um “sentimento de gratidão desmedido”

8 Março 2023
Jéssica Silva

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Jéssica Silva

8 Mar, 2023

Gratidão: é esta a palavra que melhor resume a experiência do grupo de 58 jovens universitários que esteve, em Porto de Mós, durante a semana passada, em representação da Missão País. Vindos da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, os voluntários chegaram a Porto de Mós, no dia 18, de «coração muito aberto» e com «um espírito de entrega gigante», mas estavam longe de imaginar o acolhimento que os esperava. Uma semana depois, saem de «coração cheio e com uma sensação de pertença enorme»: «Sentíamos que havia uma grande possibilidade da comunidade receber muito bem os nossos missionários, mas não imaginávamos que iam receber tão bem. Superou qualquer expectativa que poderíamos ter. Saímos com um sentimento de gratidão desmedido», sublinhou a O Portomosense, Beatriz Fonte, uma das chefes que esteve na liderança da organização, durante a realização do arraial que marcou o encerramento da Missão de 2023.

Esta foi a primeira vez que a Missão País esteve na freguesia de Porto de Mós, sendo esta a primeira de três missões que irão passar pela freguesia nos próximos dois anos. Esta foi uma estreia que deixou todos os missionários surpreendidos: «Sentimos que as pessoas nos esperavam e isso é muito raro. Às vezes o que acontece no primeiro ano é que a ligação com a comunidade é difícil, as pessoas não nos esperam, não sabem o que é, têm alguma desconfiança, alguma incerteza, e não foi isso que se passou em Porto de Mós, de todo. Aqui sentimos que a porta estava sempre aberta», sublinha. O projeto de voluntariado – criado em 2013 – tem uma vertente religiosa, o que Beatriz Fonte acredita ter sido uma vantagem em termos de acolhimento. «O que nos pareceu é que a comunidade era maioritariamente católica e achamos que esse facto ajudou a que nos abrissem a porta. Nunca nos fizeram sentir que éramos de fora, que éramos um corpo estranho que aqui estava», considera.

Ao longo de uma semana, o grupo de voluntários esteve “sediado” na Igreja de São Pedro, nas salas onde habitualmente se dá catequese. Era aí que faziam «as refeições, as dinâmicas de grupo e as orações da manhã e da tarde». Por uma questão de logística, o grupo dividiu-se e pernoitou em diferentes espaços. As raparigas ficaram em São Pedro enquanto os rapazes dormiram no Pavilhão Gimnodesportivo, onde ambos tomavam banho. «Tivemos a visita de muitas pessoas que queriam levar-nos sopa, bolos, mantas, porque não sabiam se tínhamos frio ou fome», conta Beatriz Fonte.

“Recebemos muito mais do que aquilo que demos”

Além da celebração de uma missa diária e da reza do Terço, os jovens missionários dividiram-se em grupos para visitarem diferentes instituições de âmbito social. Estiveram no polo da Cercilei, conheceram os idosos da Santa Casa da Misericórdia e os utentes da Unidade de Cuidados Continuados, deslocaram-se a três escolas (Centro Escolar; EB2 Dr. Manuel Oliveira Perpétua; Escola Secundária) onde, além de participarem nas atividades já existentes, animaram os recreios com jogos e teatros, e estiveram no ATL da ADP, no Estádio Municipal. «Tudo correu incrivelmente bem», realça.

A par disso, desenvolveram o projeto Porta-a-Porta, através do qual foram, literalmente, de porta em porta, fazer companhia a quem pudesse estar mais isolado. A ideia seria surpreender essas pessoas com uma visita pela qual não esperavam mas o que os missionários não sabiam é que, do outro lado, muitas delas já estavam à sua espera. «Já havia muitas que nos esperavam, que sabiam que existiam missionários a visitar casas e queriam também elas ser visitadas. As pessoas queriam partilhar experiências. Receberam-nos com grandes lanches e almoços. Foi muito bom», descreve Beatriz Fonte sem, contudo, conseguir quantificar o número de casas onde foram bater à porta. Do outro lado, estavam pessoas com diferentes histórias, umas que passam muito tempo sozinhas, outras que recebem a comunhão em casa e até quem estivesse acamado. Com «tempo, disponibilidade e coração aberto», os missionários visitaram dezenas de pessoas, nas localidades em redor de Porto de Mós, muitas delas sem estarem sinalizadas: «Sentimos que houve muito o “passa-palavra”, o que nos ajudou muito, porque transpareceu a vontade que as pessoas tinham em nos receber. Não só combatemos a solidão dessas pessoas como a comunidade de Porto de Mós não nos deixou sentir sozinhos». O “passa-palavra” foi de tal forma intenso que Beatriz Fonte garante que, em todos os lugares por onde passavam, eram abordados, fosse no supermercado ou numa pausa para o café. «As pessoas queriam conhecer-nos, queriam falar connosco e perceber melhor o que era a Missão País. Sentimos imensa curiosidade», conta.

A cada palavra de Beatriz Fonte ficamos com a certeza que a experiência que viveram em Porto de Mós será, seguramente, uma daquelas que não esquecerão tão cedo. «Não queríamos nada em troca, queríamos só encaixar onde desse e corresponder às necessidades que existissem. Tantas vezes demos sem esperar nada, só queríamos pertencer. Foi um esforço incansável de todos os missionários, mas acho que este espírito de entrega fez com que recebêssemos muito mais do que aquilo que demos, quase que parece impossível, mas é verdade», destaca.

A passagem de testemunho

Finda a Missão deste ano, é tempo de pensar no futuro, nomeadamente na equipa que irá chefiar a próxima Missão País que, ao que tudo indica, regressará a Porto de Mós, exatamente de 18 a 25 de fevereiro de 2024. Essa será uma missão dos chefes atuais, Beatriz Fonte e Pedro Carvalho, que ainda precisam «de refletir e de rezar» sobre essa escolha. Tendo em conta aquela que foi a recetividade demonstrada aos voluntários logo no primeiro ano, tudo indica que a tarefa da equipa estará mais facilitada. «Os próximos dois anos têm muito potencial, estou muito entusiasmada, quero muito [continuar], mas da próxima vez como missionária. Acho que a próxima equipa de chefes terá uma grande sorte, uma grande graça com a comunidade que os espera porque tenho a certeza que a comunidade estará a esperá-los», considera. Ainda não existe uma data para a passagem de testemunho mas o objetivo é que durante o verão seja anunciado o novo par de chefes, para que estes possam criar a sua equipa e começar a preparar a Missão País. «Isto tem meses de preparação mas nenhum mês de preparação poderia imaginar a semana que tivemos», conclui.

Foto | Jéssica Silva

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