O despejo indesejado dos chamados monos – objetos volumosos fora de uso – e de outros detritos, principalmente restos de material de obras, ainda é problema no concelho de Porto de Mós, com mais ou menos força no que a cada freguesia diz respeito. Numa altura em que há uma nova empresa encarregue da gestão dos resíduos (a Rodolixo) e em que se fala de um parque municipal para despejo deste tipo de lixo menos convencional, O Portomosense esteve à conversa com os autarcas das dez freguesias do concelho.
As conclusão são animadoras, se tivermos em conta que em nenhuma das divisões autárquicas há queixas de montante, apenas situações pontuais, num cenário que parece melhorar todos os anos. Carlos Cordeiro, a partir de Serro Ventoso, acredita que «as pessoas cada vez estão mais sensibilizadas para o ambiente». «Antigamente eram frigoríficos, eram máquinas de lavar, aqui e ali, hoje em dia acho que já não é tanto, ainda acontece, mas pouco a pouco as pessoas vão ficando mais educadas ambientalmente», frisa. O facto de Serro Ventoso ostentar agora uma Bandeira Verde também leva as pessoas a perguntar «porquê».
Espaços que acumulam a fama e o lixo
Mira de Aire, Juncal, Alvados e Alcaria, Pedreiras, Alqueidão da Serra, Mendiga e Arrimal. Todos os respetivos autarcas apontaram a existência de sítios, normalmente mais escondidos, mais privados, onde tem existido essa acumulação de lixo – pneus, sofás, peças de automóveis, loiça de cozinha, alcatrão, painéis, telhas, soalhos, os exemplos dados pelos responsáveis autárquicos são vários.
O Juncal até se viu no último ano de braços dados com este tipo de situação a acontecer regularmente na via pública, junto à Rotunda da Cesta, mas Artur Louceiro diz-nos que «a frequência» já não é a mesma. Luís Silva, da Calvaria, menciona que «as pessoas vazavam lixo à entrada da Calvaria», quando se passa a ponte sobre o IC9. Nas Pedreiras, os visados são de igual modo «os sítios escondidos, onde tem menos tráfego de viaturas, nas matas, onde há pouca população», segundo Pedro Pragosa, que aponta o dedo «a quem faz trabalhos de uma forma menos legal» – «Há trabalhadores ilegais que preferem agir no anonimato e na calada da noite. É impossível nós conseguirmos recolher a tempo e horas quando o carro passa no sábado à noite, temos tudo recolhido, ecopontos vazios, e esses detritos são descarregados à noite, como é que há capacidade de resposta? É impossível, pois tem de haver a deteção, a comunicação e tem de haver a previsão de recolha e isto demora sempre dois/três dias, porque temos um concelho grande».
O autarca, tal como Luís Silva, acredita inclusive que «às vezes nem são pessoas do concelho, são pequenos empresários que estão a fazer obras na freguesia, fazem as descargas e vão-se embora e é impossível nós sabermos quem são as pessoas». No Alqueidão da Serra, o último caso relaciona-se com «a mudança no operador da recolha», já que a antiga empresa tinha o conhecimento tácito do local onde os monos eram deixados – precisamente junto à sede da Junta da Freguesia, «de uma forma propositada». Filipe Batista prefere «que deixem lá do que vão espalhar pela serra ou por locais mais recônditos, depois é mais difícil apanhá-los». Já na serra, Sandra Martins, da União de Freguesias de Alvados e Alcaria, aponta o contentor «junto ao antigo Centro de Atividades ao Ar Livre» , agora Centro Interpretativo das Atividades de Natureza (CIAN), precisamente por ser mais escondido da franja populacional, algo que ainda acontece após a requalificação do espaço, com menos frequência, ainda assim. E dá maior destaque ainda à zona comummente chamada de Saibreira: «Aí é que temos o problema maior, as pessoas vão descarregar em quantidades maiores», refere.
Do outro lado do Maciço Calcário Estremenho, Francisco Batista, presidente da União de Freguesias de Arrimal e Mendiga, aponta para sítios recônditos na serra. Tão recônditos que se torna difícil explicar à Câmara Municipal onde deve fazer a recolha, pelo que são os próprios serviços da Junta de Freguesia que tomam essa missão. Lá, como em muitas outras freguesias com quem falámos, acaba por ser a Junta de Freguesia a usar os seu recursos para dar vazão aos detritos.
Solução à vista?
Campanhas de sensibilização, mais recursos, funcionários a fazer levantamentos dos casos, tudo isso são soluções mais ou menos temporárias que todos os autarcas referenciaram – o Município tem um contacto telefónico disponível para todos os fregueses que se queiram livrar dos seus monos, monstros ou verdes de forma digna (244 499 600). Outros, como é o caso de Manuel Barroso, de Porto de Mós, apontam que «a Câmara Municipal está a querer prestar esse serviço, a preparar-se para haver contentores para por esses restos, tem a intenção de fazer isso nas freguesias todas», e o mesmo diz Sandra Martins. A presidente acredita que, em Alvados, se se vedar a Saibreira, como se planeia, os fregueses encontrem um outro sítio onde despejarem os seus sobrantes. Pelo menos até haver essa solução municipal.
Três meses de Rodolixo
A Rodolixo está há cerca de três meses a atuar no concelho e, de acordo com os autarcas, os únicos problemas até agora são uma questão de adaptação. A empresa ainda estás a atuar com camiões de tamanho reduzido, algumas rotas não estavam bem definias ao princípio, mas nenhum apresenta queixas de montante. Luís Silva, da Calvaria de Cima, diz mesmo que «uma coisa boa é que estão a lavar os contentores todos os meses, uma coisa que a SUMA fazia espontaneamente, uma vez por ano, se calhar».