Luís Vieira Cruz

Mais autónomos ou mais autómatos? Eis a questão

21 Nov 2024

Tenho dado por mim a entrar de modo involuntariamente regular em trocas de impressões com gentes dos mais variados setores ou até com distintos graus de afetividade, se decidir transportar a questão para um lado mais pessoal, sobre o padrão dicotómico que observo quando coloco o avanço tecnológico e o retrocesso cognitivo lado a lado. Estará a tecnologia a começar limitar-nos ao invés de nos estimular na procura de mais conhecimento?

Sempre me assumi como um grande entusiasta da tecnologia, mas de quando em vez faz-me bem deixá-la de parte (sobretudo quando as baterias acabam e não há um raio de um carregador à beira) e parar para pensar. “Tecnologia” é definida no dicionário como “um conjunto de processos e habilidades usados na produção de bens ou serviços”, portanto, é tão legítimo associá-la à roda e ao fogo como à criação da Amália, o novíssimo modelo de linguagem de Inteligência Artificial que o PM Luís Montenegro anunciou na Web Summit.

Mas voltemos à “vaca fria”. É certo e sabido que hoje andamos com o mundo no bolso. Nunca foi tão fácil e rápido responder às questões complexas do dia a dia, mas a crescente necessidade desse imediatismo está a tirar-nos capacidade de raciocínio. Se há uns anos quiséssemos encontrar respostas para questões extremamente complexas, havia fortes probabilidades de o hiato entre a pergunta e a resposta final ser longo. Era preciso sair de casa, ir a uma biblioteca ou arquivo público, perder tempo na pesquisa e esperar ter a sorte de encontrar aquilo que se buscava.

Eu não sou propriamente dessa altura (fui mal habituado), embora goste de desfrutar desse processo quando tenho possibilidade, mas todos nós estamos cada vez mais divorciados deste modo de aprendizagem. A lentidão do processo permite-nos assimilar com maior exatidão os detalhes associados à pesquisa. Em contrapartida, o ato brusco de sacar um telemóvel e ir à internet apenas nos transmite uma ideia errada do que é, de facto, saber. E saber não é decorar, saber é interiorizar, aprender.

Com o manancial de informação que todos os dias nos chega, levanto a questão: Como podemos nós processar tanta coisa? A resposta é simples, temos que aprender a triar. Não nos podemos dar ao luxo de procurar, interpretar e interiorizar tudo, mas também não devemos cair no facilitismo de consumir só o instantâneo. O mundo está mais rápido e nós temos que aprender a abrandá-lo.