Cerca de 250 pessoas participaram, no dia 30 de setembro, na homenagem a Manuel Fontoura Carneiro, que durante 30 anos exerceu em Porto de Mós a função de notário. A poucos dias de cessar funções por limite de idade, foram muitos os que lhe quiseram agradecer de viva voz por toda a colaboração prestada e por aquilo que fez pelo concelho.
A homenagem começou com a inauguração de uma rua com o seu nome, junto ao Centro Escolar, a escassas centenas de metros do Cartório. Depois dos discursos e de saudado o homenageado com o grito académico “F.R.A.”, lembrando que nesse dia festejava o seu 70.º aniversário, o extenso grupo dirigiu-se ao Castelo, onde houve a apresentação multimédia do poema Nunca é tarde, do músico Pedro Barroso, num trabalho de João Neto. Foi feita a entrega simbólica de uma réplica da chave do Castelo, bem como cópia do processo administrativo de atribuição do seu nome à rua e houve nova ronda de discursos. A última parte da homenagem foi passada à mesa e pela terceira vez se ouviram rasgados elogios ao notário por «uma invulgar e louvável entrega à causa pública, indo muito além daquilo a que estava obrigado».
No decorrer do repasto, e pela terceira vez nesse dia, foi evocado Dionísio Venda Morgado, solicitador falecido há escassos meses e com quem Manuel Fontoura e os elementos do grupo promotor mantinham profunda amizade. Na altura, foi entregue à sua esposa, Lúcia Venda, e ao homenageado, uma foto de ambos emoldurada. Num segundo momento, foi projetado um vídeo no qual os cinco netos do notário apareciam a simular um contrato de doação, em que o bem doado e aceite correspondia aos valores morais e profissionais que sempre nortearam a ação do avô e que estes se comprometeram a prosseguir.
Em dia de aniversário e de pública homenagem, foram oferecidas a Manuel Fontoura várias lembranças. Já a noite ia longa, quando todos se levantaram para cantar os parabéns. A festa terminou às primeiras horas da madrugada mostrando-se Manuel Fontoura Carneiro visivelmente satisfeito perante tamanha manifestação de amizade, consideração e respeito pelo trabalho de uma vida numa terra que fez sua.
O homenageado, por quem o conhece bem
A cerimónia de reconhecimento público do notário Manuel Fontoura Carneiro, promovida por um grupo de amigos em parceria com a Junta de Porto de Mós e à qual se associou a Câmara, contou, nos seus três momentos, com mais de uma dezena de discursos. Na impossibilidade de resumir cada um deles, recordamos excertos que ajudam a traçar o perfil do homenageado e as razões da homenagem.
Assim, o presidente da Junta, Manuel Barroso, destacou os 30 anos em que «exerceu o seu trabalho com competência, sabedoria e inteligência, mas sempre sem ostentação», servindo a comunidade com «elevada sapiência, mostrando ser um homem de qualidades ímpares: amizade, lealdade, honestidade e altruísmo que fizeram com que o notário da nossa terra fosse ganhando o coração das nossas gentes e se tornasse um dos nossos».
Por sua vez, o presidente da Câmara, Jorge Vala, forte «defensor de que os homens bons devem ser homenageados em vida», disse ser uma honra representar o Município na «justíssima homenagem a um homem que durante 30 anos abdicou de muita coisa para estar ao serviço da comunidade, revelando um forte compromisso de serviço público, que fez questão de cumprir sempre».
Daniela Serrano, uma das funcionárias do Cartório, falou do homenageado como alguém que passa «horas a estudar, a ler, a analisar, a ser bom para os outros, sem muitas vezes nada exigir em troca», realçando o «homem de saber porque estuda; o homem do conhecimento porque sabe; o homem das letras porque quer extrair tudo o que está impresso nos livros, espremer saberes e esgotar suposições e teorias».
Pedro Loureiro, advogado e amigo pessoal, destacou a «profunda admiração» para com uma pessoa «ímpar, única, que conseguiu sobressair pessoal, humana e profissionalmente». Do notário realçou a «superior sabedoria», a «perspicácia», a «extraordinária cultura geral» e a «coragem tremenda» que revelava em momentos de debilidade física, «mesmo quando o espaço que mediava entre a porta de entrada e o seu gabinete se tornava tão distante como a própria viagem desde a Figueira da Foz».
Fernando Moura, também advogado, comparou o amigo a um freixo de «tronco robusto, ereto, de frondosa copa e raízes profundas» e o primeiro motivo que encontrou para a homenagem foi a celebração de amizade, desenvolvida, no seu caso, ao longo de «décadas de vivência comum e ao ritmo do crescimento do freixo e das suas raízes». O segundo foi a celebração das qualidades humanas e profissionais de Manuel Fontoura, o tronco robusto e ereto da árvore. E «só a robustez do tronco do freixo transmontano seria capaz de resistir, como tem resistido, a todas as intempéries da vida, ao infortúnio das crises de saúde», frisou. Por último, destacou o homem público recordando que «pessoas das mais variadas regiões acorriam a Porto de Mós à procura de resolução dos seus problemas, sabendo que aqui encontravam um notário com profundos conhecimentos técnicos, meticuloso no estudo das soluções, sempre rigoroso e reto, emprestando aos seus atos notariais a fé pública que os mesmos devem merecer».
Perante todas esta manifestações de carinho e reconhecimento, Manuel Fontoura Carneiro mostrou-se igual a si próprio no entender de quem o conhece bem: Modesto, grato, e com um sentido de humor apurado.
Na inauguração da rua a que foi dado o seu nome, disse que esta homenagem tem um efeito «avassalador» por sentir que «é um privilégio» de que não é «merecedor». Bem disposto, referiu que a sua rua «está aberta a todos» e que por ser a da escola está certo de que por lá irão passar crianças que mais tarde serão adultos «bem formados, pessoas ilustres e criativas, hábeis, generosas e altruístas». Já no jantar, parte substancial do seu discurso foi dedicada ao agradecimento a mais de duas dezenas de pessoas com quem lidou de muito perto, desde colaboradoras, a clientes e amigos. Para cada uma teve palavras de elogio, representando nelas, todas com quem se cruzou durante três décadas.
Olhando para trás, lembrou que «aconteceram muitos momentos que nesse tempo marcaram indelevelmente as nossas vidas». «Houve momentos felizes em que tudo correu bem e nada foi preciso alterar, momentos tristes que nos mostraram o que tivemos de mudar e mudámos, e momentos difíceis que fomos capazes de superar porque soubemos gerar a dose de coragem igual ao tamanho dessas dificuldades», sublinhou, mostrando-se grato por cada um deles, por lhe terem dado a hipótese de crescer interiormente enquanto profissional e ser humano.
Fotos | Isidro Bento