Em versão natalícia, O Portomosense procurou para este Ossos do Ofício uma profissão apropriada à época. Entre uma panóplia de ideias, surgiu, entre a redação, uma memória antiga: o comboio turístico que, todos os anos, pela altura do Natal, se encarrega de passear pela vila de Porto de Mós os visitantes de palmo e meio – e outros mais graúdos – e que é tema na página 22 da edição 1011.
A escolha, então, foi óbvia: Luís Mesquita, de 47 anos, natural de São Jorge, o último “maquinista” deste comboio, ofício que exerceu nos últimos «cinco, seis anos» ao serviço da associação cultural O Castelo.
Com um sorriso e muito à vontade, dá-nos a conhecer quais os grandes desafios – e recompensas – de conduzir este tipo de veículo turístico. «Eu nem sou o melhor condutor, provavelmente, mas acho que tem tudo a ver com a responsabilidade», diz. «Começamos a conduzir o trator às 15 da tarde e acabamos às 19, no final a gente sai cansados, não do trabalho, da atenção que se tem de ter a todos os pormenores, é as passadeiras, é os carros, que muitas vezes não estão muito predispostos para a velocidade a que aquilo anda, as pessoas
que se atravessam, os miúdos que vão lá atrás que nem sempre vão quietos, que se levantam, o medo e a responsabilidade que possa acontecer alguma coisa», explica. Esses são os grandes desafios. Já «em questões técnicas é como conduzir um outro trator», «o problema maior» é mesmo «os obstáculos que aparecem sem se dar conta» e a pressão de «dar um toque» em algum carro estacionado (o que ainda não aconteceu até hoje).
Ainda assim, a experiência de Luís Mesquita «é que até é extremamente interessante e divertido». Afinal, todos os anos há «uma procura imensa», há quem inclusive telefone ou envie e-mails a perguntar se o comboio vai estar a circular, «miúdos que querem vir todos os fins de semana». Por outro lado, acaba por fazer um pouco de “guia turístico”, «se bem que nalguns sítios não há muito para mostrar».
E o que lhe perguntam? «Muitas vezes quem é que construiu aquilo, e no fundo a história do comboio e se é divertido conduzir aquilo». E é? «No global é divertido, até pela alegria que os miúdos demonstram quando andam no comboio». Um biscate lúdico e que deixa ainda um outro «sentimento» no maquinista: «De que estamos a contribuir para uma associação e que estamos a dar um pouco de nós pelo bem dos outros», acredita Luís Mesquita. «Acaba por nos dar alguma alegria e felicidade por saber que fizemos alguém feliz, aquece o coração no fundo, rouba-nos algum tempo noutras coisas, mas é reconfortante».
Nos últimos anos tem tido «a felicidade» de ter os filhos a ajudá-lo, «a vender os bilhetes, e ajudam os meninos a entrar dentro do comboio e a sair». E acredita que, «se eles tivessem a possibilidade, iriam gostar muito de conduzir o comboio».