Início » Maria Alice recorda Natais passados na infância

Maria Alice recorda Natais passados na infância

24 Dezembro 2023
Luís Vieira Cruz

Texto

Partilhar

Luís Vieira Cruz

24 Dez, 2023

O Natal está a chegar e, com ele, Maria Alice, nascida há 73 anos na Ataíja de Cima, no concelho vizinho de Alcobaça, mas residente na Esparrela, Porto de Mós, já se prepara para o que aí vem: um dia passado em família, na companhia dos que mais ama, com uma mesa farta e uma data de embrulhos debaixo da árvore de Natal. Mas esta quadra festiva nem sempre foi assim. Até aos seus 14 anos, diz nunca ter recebido um único presente.

«A vida era muito difícil… Os Natais, quando era criança, só eram Natais porque era… Natal. No dia ia-se à missa, beijava-se o menino Jesus e voltava-se para casa», retrata enquanto relata as noites que passava junto dos seus irmãos, sentados numa manta, no chão da cozinha, a comer à luz do candeeiro. A dada altura, lá em casa começou a haver filhoses e café à ceia, «matava-se uma galinha ou qualquer coisa do género mas não passava disso, só mais tarde se matava um porco uma vez por ano e havia carne na salgadeira».

Foram muitas as vezes em que diz ter-se deitado na esperança que, no dia a seguir, «houvesse alguma coisa no sapato na lareira». Durante anos a esperança saiu gorada e só na adolescência começou a receber uma “camisolita” ou outra coisa que precisava».

Irmã de seis, Maria Alice sempre se habituou a passar o Natal em família, mas aos 20 anos emigrou para França, onde esteve até 1994. Fora do país, passava os seus Natais com o marido e «com as garotas». Só voltava à terra em agosto, para que o companheiro fosse fazendo a casa, e, de resto, «como em França não havia telefonemas», limitava-se a «enviar umas cartas [para Portugal].

Apesar da distância, as noites de Natal eram felizes, frisa. «Fazia-se uma árvorezita, elas [as filhas] enfeitavam-na com papéis de rebuçado e assim era… Mas aí já havia prendas com fartura, bonecos e bonecas, graças a Deus!», saúda.

Quando voltou de vez para casa, Maria Alice retomou o hábito de se juntar aos pais na noite da consoada. Fruto de melhores tempos, «já havia grandes jantares, com bacalhau, filhoses… Era uma maravilha!».

Convidada a analisar as várias épocas natalícias pelas quais passou ao longo da sua vida, Maria Alice não tem dúvidas: «Agora tudo é diferente. No nosso Natal, atualmente há muita comida, trocamos prendas e, acima de tudo, estamos juntos. E essa é a maior alegria que podemos ter», salienta.

Nesta altura que diz «tão especial», há alguém que Maria Alice nunca esquece. Contemplativa, fala-nos inevitavelmente de Maria, de José e do seu filho, Jesus. É neles que se inspira quando, todos os anos, constrói um presépio à escala feito de figurinhas que vai adquirindo e, sobretudo, de materiais reciclados. O projeto começou «há meia dúzia de anos», quando, por pena de deitar fora pedaços de esferovite, fez umas casas, uma igreja e um moinho. As ideias começaram a fluir e o presépio foi crescendo e crescendo. É algo que tenciona fazer «enquanto a idade permitir» e sabe que de falta de ajuda não se poderá queixar: «O meu netinho gosta muito de montar o presépio comigo. Ai o que ele andou para cá e para lá a trazer as figurinhas de um barracão… Ele conta a história do menino Jesus, sinto que ele dá muito valor».

Presépio pronto, chega-se a altura de Maria Alice e a família irem a Fátima. «É já uma tradição. Elas vão a pé, eu vou lá ter e trago-as. Gostamos muito desta época, é uma data muito especial para nós», conclui.

Foto | Tatiana Robba

Assinaturas

Torne-se assinante do jornal da sua terra por apenas: Portugal 19€, Europa 34€, Resto do Mundo 39€

Primeira Página

Publicidade

Este espaço pode ser seu.
Publicidade 300px*600px
Half-Page

Em Destaque