“Todos concordamos que as coisas podiam e deviam estar melhores, mas que essa certeza nunca nos faça duvidar dos méritos do 25 de Abril e de lutar pelos seus valores e conquistas”. Esta foi uma das mensagens mais fortes deixadas pelo antigo governante e atual membro do Conselho de Estado, Luís Marques Mendes, num encontro com jovens dos 11.º e 12.º anos do Ensino Secundário, que teve lugar no dia 16 de janeiro, no Cineteatro de Porto de Mós.
Marques Mendes, antigo presidente do PSD que nos últimos anos se tem destacado como comentador político, veio a Porto de Mós falar da “participação dos jovens para a vida democrática” à boleia do programa comemorativo dos 50 anos do 25 de Abril e conseguiu algo raro: prender a atenção, durante mais de duas horas e do primeiro ao último minuto, de um salão repleto de adolescentes.
Em boa verdade, ainda Marques Mendes não pisara o palco e já estava a conseguir atingir um dos principais objetivos deste encontro: levar os jovens a refletir sobre as conquistas de Abril, o Portugal de hoje e o papel que cada um pode desempenhar no país e no mundo. Isto porque, como se constatou na reta final da longa jornada, houve uma boa preparação da temática nas escolas e os alunos chegaram àquele dia com a lição bem estudada.
Na altura de questionar o orador foram muitas as perguntas, e de qualidade, que visivelmente agradaram ao comentador político. Voltando à mensagem inicial, sim, é verdade, «as coisas podiam e deviam estar melhores.
Se calhar, neste momento, faltam-nos políticos à altura dos enormes desafios com que o país se depara, como vivemos alguns nas últimas décadas e que foram os grandes obreiros do Portugal desenvolvido e democrático, mas nunca por nunca devemos pôr em causa se valeu mesmo a pena o 25 de Abril porque, de facto, valeu muitíssimo a pena», sublinhou Marques Mendes.
Às portas de um novo ato eleitoral e numa altura em que muitos temem que partidos extremistas conquistem um número significativo de lugares no Parlamento, Luís Marques Mendes alertou para o facto de que «a justa reivindicação por melhores condições de vida» e por uma política feita por gente séria e a pensar nas pessoas «não deve nunca ser confundida com a privação dos valores de Abril». Devemos esperar e lutar para que quem faz política aja com «seriedade, honestidade e coerência», mas sem nunca pôr em causa tudo aquilo que se conquistou, a começar pela liberdade nas suas várias dimensões, disse.
Marques Mendes desafiou os jovens «a serem sempre exigentes e críticos», mas a não confundirem exigência e crítica saudável ao sistema com a necessidade de limitar as liberdades e as conquistas de Abril. «Uma coisa é exigir melhores políticas e políticos, outra é ir por caminhos que conduzam a um regime autoritário e fechado ao
mundo onde as pessoas não se possam expressar livremente e tenham a sua liberdade limitada», alertou.
Durante a intervenção, Marques Mendes fez uma caracterização das fracas condições de vida no longo período de ditadura, desde a educação à saúde, passando pelas infraestruturas básicas, para concluir que, em poucas décadas, o país saído da revolução tornou-se «incomparavelmente melhor a todos os níveis».
“Democracia e liberdade não são um dado adquirido”
«Sei que para vocês algumas destas coisas serão estranhíssimas e que terão muita dificuldade em imaginar como era a vida em Portugal mas, acreditem, era mesmo assim», disse o antigo governante, deixando bem claro e em jeito de alerta que se aquilo que se conquistou em termos de qualidade de vida estará relativamente seguro, o mesmo não se poderá dizer das liberdades e garantias conquistadas.
Num mundo e num país onde os extremismos estão a crescer, é um erro que se pode pagar muito caro «dar como adquiridas a democracia e a liberdade», frisou, pedindo aos jovens que não se esqueçam disto, que estejam atentos e que nunca deixem de lutar por aquilo que tanto custou a ganhar aos seus pais e avós.
«Eu também sou crítico, também acho que não está tudo bem, que há muita coisa que precisa de mudar, mas apesar das imperfeições da Democracia, continuo a achar que é o sistema que melhor nos serve», afirmou.
Uma das mensagens também muito presentes no discurso de Marques Mendes é a de que os jovens têm motivos de sobra para se orgulharem de um país que depois de meio século fechado ao mundo, «goza hoje de prestígio e de credibilidade a nível internacional», e um bom exemplo disso será o facto de «termos tido e continuarmos a ter portugueses à frente de algumas das maiores instituições europeias e mundiais».
«É bom não esquecer o que está mal, mas também não podemos ignorar o muito que temos de bom. Sabiam, por exemplo, que antes do 25 de Abril havia gente que morria por não poder pagar os cuidados de saúde e que hoje temos um Serviço Nacional de Saúde que apesar de todas as suas carências, falhas e imperfeições é uma referência a nível internacional e uma das maiores conquistas de Abril?», afirmou em jeito de pergunta.
“Acreditem e tenham orgulho em Portugal”
«Portugal, apesar de ser um país pequeno e de poucos recursos financeiros, coloca à disposição de toda a população, seja rica ou pobre, um sistema de saúde gratuito, enquanto que em alguns países mais ricos e com outro nível de desenvolvimento económico, como é o caso dos Estados Unidos, há gente que morre por não ter dinheiro para pagar o médico ou os exames e tratamentos», frisou, explicando que é só um exemplo de algo que deveria orgulhar os portugueses e ser mais valorizado.
“Acreditem e tenham ambição em nome do vosso país! Temos capacidade de fazer pontes com todos, em todo o lado. Somos um país com quase nove séculos de história, com credibilidade e prestígio e uma capacidade inata para superar desafios nas alturas mais inusitadas», concluiu Marques Mendes, desafiando os jovens a orgulharem-se no país e a tomarem nas suas mãos o destino de Portugal, começando por ter maior intervenção cívica e política.