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Médico do Masterchef e nutricionista ensinam a cozinhar saudável

9 Março 2023
Isidro Bento

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Isidro Bento

9 Mar, 2023

A Escola Básica de Pedreiras acolheu, no dia 25 de fevereiro, uma palestra sobre a dieta mediterrânica proferida pela nutricionista Cátia Pontes, a coordenadora da licenciatura em Dietética e Nutrição, no Politécnico de Leiria. A dois passos de si, na cozinha, João Ribeiro, médico infeciologista do Centro Hospitalar de Leiria, que participou no concurso televisivo Masterchef, deu expressão prática aos muitos ensinamentos, objeto de partilha, cozinhando dois pratos saudáveis. Mais do que uma palestra, foi uma autêntica aula “dois em um” na qual nutricionista e médico deixaram um rol de informação e de conselhos práticos, não só em termos de nutrição, mas também de culinária, esta última com base na cozinha dos quatro “esses”: simples, saudável, saborosa e sustentável.

A palestra fez parte do projeto Educa-Me da autoria da enfermeira Damiana Sousa, enfermeira no Centro Hospitalar de Leiria, e que no âmbito do mestrado em Enfermagem de Saúde Familiar, tem estado a estagiar na Unidade de Cuidados na Comunidade Dom Fuas Roupinho, do Centro de Saúde de Porto de Mós.

“Dieta mediterrânica reduz a mortalidade”

Perante uma plateia de cerca de duas dezenas de encarregados de educação (alguns acompanhados dos filhos) e de professores e outros colaboradores do polo escolar, Cátia Pontes começou por apresentar a dieta mediterrânica como «um estilo de vida que tem associado um padrão alimentar completo e equilibrado, com inúmeros benefícios para a saúde e qualidade de vida e que se caracteriza por um conjunto de conhecimentos, rituais, símbolos e tradições sobre a forma de produzir, preparar e consumir os alimentos», reconhecido em 2013 pela UNESCO como Património Cultural Imaterial da Humanidade. Em termos de alimentação dá primazia aos produtos da época, por serem «mais ricos nutricionalmente e mais saborosos» e produzidos localmente, o que faz com que estejamos também a fazer «uma alimentação sustentável e a reduzir a pegada ecológica», acrescentou João Ribeiro.

Outra das características da dieta mediterrânica «é o estar em família à mesa, é o saber cozinhar os alimentos no tempo certo», recordou Cátia Pontes, explicando que «azeite, pão e vinho são a trilogia base». Associado está também o exercício físico diário e as atividades de convívio. «É não só o que comemos, mas como comemos e com quem comemos» e isso é muito importante para a nossa saúde mental e dá-nos anos de vida. «A dieta mediterrânica resulta numa redução considerável da mortalidade, sobretudo ao nível das doenças cardiovasculares e também da incidência de cancro, Parkinson e Alzheimer e menos riscos de diabetes, obesidade e hipertensão», disse.

A cozinha de tacho é a ideal

«Voltar a cozinhar o que a horta nos dá e a fazer os grandes almoços de família do tempo dos nossos avós» é para João Ribeiro um dos grandes ensinamentos, aproveitando para esclarecer que sinónimo de uma alimentação saudável não são só os cozidos e grelhados mas também «os guisados e os estufados», a que se juntam as sopas e os caldos. Cozinha saudável não significa sem sabor nem cheiro, muito pelo contrário, sublinhou, tudo depende da forma como os alimentos são conjugados entre si e cozinhados. «A cozinha de tacho é a ideal e não é por eu ser hipertenso, obeso ou diabético que tenho de comer diferente do resto da família. Tudo depende daquilo que vamos meter no tacho e como o vamos meter», frisou.

Na base da pirâmide alimentar, assente neste tipo de dieta, estão as águas, as infusões e os caldos, o que levou João Ribeiro a sugerir alguns caldos caseiros que todos podem fazer recorrendo àquilo que sobra dos pratos principais. Seguem-se os cereais, as hortícolas e as frutas, depois aparece o azeite como a fonte de gordura por excelência. Colocar o azeite só na parte final foi um dos conselhos. «O ideal será o azeite comprado no lagar. Se a compra for feita em supermercado, então valerá a pena pagar um pouco mais e adquirir azeite virgem extra, um azeite mais facilmente digerível», explicou.

Ainda a propósito do azeite, o médico deixou uma recomendação que serve para tudo: o consumo de forma moderada e inserido num regime alimentar variado. «O azeite é, de facto, o melhor, mas comermos uma grande posta de bacalhau a nadar em azeite será pior que noutros pratos usarmos um pouco de manteiga, por exemplo. Um alimento não pode ser visto apenas pelo seu valor nutricional, mas pelo efeito que tem em determinada pessoa», defendeu.

Cozinhar com sabor e de forma saudável passa também por usar e “abusar” de ervas aromáticas, especiarias, alho e cebola, até porque isso irá permitir reduzir o sal. As azeitonas são excelentes a nível nutricional, mas a forma como nos chegam à mesa pode estragar tudo, por isso, de acordo com o médico, quem tem hemorróidas deve evitá-las ao máximo.

“Consumo reforçado de proteína é a mais recente moda”

Numa época em que «toda a gente se diz intolerante a alguma coisa», o leite e o glúten têm estado na berlinda. Nos laticínios, o destaque deve ir para o queijo e o iogurte, mas «o leite é também um alimento de grande valor nutricional e de baixo custo», referiu Cátia Pontes, tendo João Ribeiro explicado que «somos o único animal adulto que bebe leite e ainda por cima de outra espécie e por isso é natural que surjam algumas intolerâncias», mas para isso há alternativas vegetais. Quanto ao glúten explicou que está presente, apenas, em quatro cereais: trigo, aveia, centeio e cevada. Assim, não fará sentido deixar de comer outras coisas. «Algumas pessoas dizem que perderam barriga desde que deixaram de consumir produtos com glúten. Pois, se deixaram de comer todo o tipo de hidratos de carbono é natural que emagreçam, mas isso não é saudável», afirmou a nutricionista, defendendo que tanto a “guerra ao glúten” como, mais recentemente, o consumo de produtos com dose reforçada de proteína, são, essencialmente, uma moda e fruto do marketing de alguns setores.

Durante a palestra, os especialistas recordaram também que «açúcar é sempre açúcar, portanto, um grama de açúcar serão sempre quatro calorias venha o açúcar do mel ou de onde vier. Daí, não é por substituir um pacote por duas colheres de mel que isso faz de mim mais saudável», disse João Ribeiro. Já as carnes vermelhas devem ser consumidas, no máximo, uma vez por semana, e as batatas, três vezes, a não ser que seja batata doce e, aí, já a dose pode aumentar, como referiu Cátia Pontes.

Concluída a palestra, João Ribeiro confecionou dois pratos a pensar nos mais novos: hambúrgueres vegetais e uma sobremesa. A ajudá-lo teve alguns elementos da comunidade escolar e, em particular, um grupo de crianças que se deliciou a fazer os hambúrgueres. No final, todos puderam provar as iguarias do chef num lanche onde não faltaram outros alimentos e bebidas saudáveis. Quem quis, pôde ainda visitar a exposição de trabalhos feitos durante a interrupção do Carnaval pelos alunos dos 3.º e 4.º anos sobre a dieta mediterrânica.

Fotos | Isidro Bento

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