Passou da itinerância ao papel para «dar voz ao cidadão»: o catálogo da exposição Porto de Mós e o 25 de Abril: vivências no tempo da Ditadura e da Revolução foi apresentado precisamente no dia em que se comemoravam 49 anos da Revolução dos Cravos, no Cineteatro, em Porto de Mós.
A obra resulta «daquela que foi a atividade principal no ano de 2022» nas celebrações promovidas pelo executivo portomosense, uma exposição que andou em digressão entre abril e junho desse ano, com espólio recolhido da população do concelho. Desses 270 elementos, 216 foram selecionados para publicação no catálogo: «167 documentos de origem variada e 49 objetos», que resultam de 36 coleções particulares – seis delas são institucionais, casos das Juntas de Freguesia de Alqueidão da Serra, Pedreiras, Porto de Mós e São Bento, Grupo Recreativo da Corredoura e Bombeiros Voluntários de Porto de Mós. As fotos desse espólio, acompanhadas de relatos pelos respetivos proprietários e de diferentes testemunhos, podem dividir-se, de acordo com o coordenador executivo do trabalho, o historiador Kevin Soares, em seis subtemas relacionados com o 25 de Abril: «As heranças do passado colonial (125 dos elementos estão relacionados com a Guerra do Ultramar, como fardas e correspondência postal)»; «a participação feminina» (com a presença de propaganda do Movimento Democrático das Mulheres); o associativismo («as associações são provavelmente uma das manifestações mais importantes da democratização da sociedade em locais como Porto de Mós», considera Kevin Soares); «a transição para a democracia», com os relatos transcritos dos proprietários sobre os respetivos objetos; «a importância de Mira de Aire», «à época do 25 de Abril, um centro irradiador e económico do concelho» e onde se «fundam alguns dos partidos que depois têm presença em todo o concelho», caso do Movimento Democrático Português, exemplifica; e «o estudo particular das grandes personagens, daquelas figuras que, entre a sociedade, recolhem consensos e são tidas como figuras centrais daquilo que foi o processo de democratização», como é o caso de António Oliveira Perpétua, Licínio Moreira da Silva, Vítor Carvalho ou José Nogueira, «figuras que tiveram um papel tão importante».
O historiador lembrou ainda que há «uma obra final em preparação» e, nesse sentido, convidou quem quiser associar-se ao projeto a fazê-lo até às Festas de São Pedro, podendo obter mais informações junto do Arquivo Municipal ou do Museu Municipal de Porto de Mós.
Com Rita Santos Batista
Foto | Rita Santos Batista