Mira de Aire é destaque de capa, nesta edição, por dois motivos que não podiam ser mais díspares. Se por um lado mostramos a inauguração do mercado da vila, uma obra há muito ansiada pela população, e o Festival Viver, que este ano teve palco no largo da Igreja Matriz; por outro trazemos a notícia de uma mulher agredida e do consequente sentimento de medo que a população diz viver e que está também, assumidamente, a preocupar os autarcas locais. Em nenhuma circunstância, a violência pode caracterizar uma localidade, em momento algum esse selo pode ser colado, mas o que é facto é que, na boca de alguns mirenses, é isso que está a acontecer com a Rua das Flores, em Mira de Aire, ali tão perto do local onde há dois fins de semana se fez a festa.
A vila teve em tempos um fulgor que diria incomparável. A indústria, sobretudo têxtil, mobilizou trabalhadores de toda a região e até de outros pontos do país. Construíram-se casas, famílias e raízes – como podemos ver em algumas Histórias de Vida, em que os idosos, não sendo naturais de Mira de Aire, ali se fixaram por força dos seus empregos. A crise e o evoluir dos tempos ditaram que assim deixasse de ser e hoje, quem passa por Mira de Aire, não vê a agitação de outros tempos. Porém Mira de Aire tenta não parar no tempo.
Durante o Festival Viver tive oportunidade de falar com alguns dos agentes de mudança da terra, presidentes de associações, populares, gente empenhada, que faz “coisas”, que tenta trazer à vila e à freguesia Cultura, Desporto, festa e alegria. Uma das pessoas dizia-me mesmo: «Fátima tem muita gente mas toda a sua atividade é centrada no Santuário. Em termos culturais, Mira de Aire não lhe fica nada atrás, muito pelo contrário». Há vontade, há ideias e há “forças vivas”. As coletividades somam-se e todas elas procuram proporcionar aos seus associados (e não só) atividades diversas, com focos diferentes, para todas as idades e todos os gostos. Aliado a tudo isto, Mira de Aire tem o que outras localidades não conseguiram ainda atingir, um bairrismo e um amor à terra, que faz com que os mirenses queiram sempre mais para si, para os seus e para o que lhes pertence.
Assim, há que superar os problemas e trabalhar para o bem comum. Resolvê-los não está ao alcance de todos, nem passa pelo entendimento de todos, mas o discernimento de olhar para as questões serenamente, procurar soluções e continuar a trabalhar para que o bom supere, sempre, o mau deve ser uma missão abraçada por cada um. “Teus filhos querem-te grande,/Ó Mira, ó Mira!”.