Foi em 2016 que Os Miúdos da Serra arriscaram pela primeira vez subir a palco, por iniciativa dos pais que queriam «fazer qualquer coisa engraçada» para os filhos, agora (mais concretamente desde setembro) tornaram-se uma Associação oficial: Os Miúdos da Serra – Grupo de Teatro de Alqueidão da Serra. «Nunca» estiveram parados, frisa o atual presidente da direção, Sérgio Miranda (foi a sua esposa a impulsionadora do grupo), mas a verdade é que começou a existir alguma dificuldade de manutenção de pessoas no grupo. «Temos participado [desde 2016] sempre em alguma coisa, no Festival Teatro de Rua de Porto de Mós, participámos uma vez no Teatremos, já fomos a um festival de teatro em Leiria, fomos a mais um sítio ou outro e fizemos as nossas apresentações no Alqueidão da Serra, mas a verdade é que depois de arrancarmos fomos perdendo algumas pessoas ali em 2017/2018», recorda. O principal motivo era não existir, precisamente, «um grupo formal»: «Éramos apenas alguns pais que se juntaram e que tiveram uma ideia, convidaram amigos com filhos, e rapidamente arranjámos ali 30 ou 40 pessoas, mas não havendo uma estrutura formal só nos juntávamos para o Teatro de Rua, com pouca antecedência, tínhamos de andar a correr, muitos miúdos já tinham outras atividades e era difícil encaixar tudo», explica.
Há dois anos, a perspetiva começou a mudar, até porque no final de cada espetáculo que faziam, havia sempre alguém que dizia “era giro isto continuar”. Nessa altura fizeram um apelo a convidar mais “miúdos” a juntarem-se, apelo a que muitos responderam afirmativamente. «Aconteceu algo muito bom, arranjámos algumas pessoas, de Porto de Mós, Leiria, Batalha e mais alguns do Alqueidão que estavam à espera daquele “empurrãozinho”», salienta Sérgio Miranda. Juntamente com «as crianças, vieram os pais» que passaram a ser, também eles, atores. «O ensaiador lembrou-se que era giro alguns adultos entrarem para dar algum dinamismo», diz. A “viragem” correu bem, a peça teve sucesso e desde então todos têm continuado, sendo que a próxima estreia está marcada para o Festival Teatremos.
Havendo já aqui um crescimento exponencial, há cerca de um ano, os pais que “levam o barco a bom porto” lembraram-se que seria então importante criar uma associação formal, até porque «traz algumas vantagens». «A maior vantagem é podermos pedir apoios, podermos receber donativos, participar noutros eventos nos quais não podíamos», sublinha o responsável. Este grupo acarreta despesas como «cenários, refeições, deslocações» que até então ficavam ao encargo dos pais e de um ou «outro amigo com uma empresa» que queria ajudar, mas nada oficial. «Agora é diferente, agora podemos chegar às empresas e pedir que apoiem a cultura, existe um recibo, podemos também organizar outro tipo de eventos, fazer intercâmbios de grupos, receber formadores para darem workshops de teatro», projeta Sérgio Miranda. Existir formalmente acarreta também outra «responsabilidade». «Quando sabemos que não são só dois ou três pais, que teve de se formar uma direção, que há um plano de atividades, um orçamento, há outra responsabilidade, mas é algo bom, obriga-nos a fazer e traz dinâmica ao grupo», defende.
O importante é “o processo” e não o resultado final
Apresentar uma boa peça no final é importante, mas não é o mais importante para Sérgio Miranda. Em primeiro lugar está o convívio: «O pessoal gosta de se juntar todas as semanas, de estarem ali juntos». Mas tudo funciona bem, acredita, porque os miúdos «levam aquilo na brincadeira». «Nós [adultos] temos que olhar de forma diferente, mas as crianças não olham da mesma forma, é uma brincadeira que no final sai qualquer coisa e para nós é isso que faz sentido, porque o importante é o processo, depois a apresentação é só mais um momento». «Há grupos que estão sempre preocupados com a apresentação, mas isso pode causar muita pressão nos garotos», salienta ainda. «Sabe quando é que se preocupam? No dia da apresentação é que batem os nervos», brinca, lembrando que «até esse momento já se fez muito, foi um caminho, é uma aprendizagem e há miúdos que evoluem muito».
A próxima apresentação ao público dos “Miúdos” é em “casa”, no Mercado de Natal do Alqueidão da Serra. Esta é uma participação inédita: «Sentimos a necessidade de dar a conhecer a Associação às pessoas e também de angariar alguns fundos», sublinhou.
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