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Montessori: a caminho de Porto de Mós o método que “dá a realidade” às crianças

5 Dezembro 2022
Jéssica Moás de Sá

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Jéssica Moás de Sá

5 Dez, 2022

Se Maria Montessori (1870-1951), fosse viva, provavelmente, ficaria orgulhosa dos precursores de um caminho por si encetado na área da Pedagogia. Fátima Mendes e o seu marido são duas pessoas, das muitas espalhadas pelo mundo, que descontentes com «as ofertas formativas e educativas atuais», começaram a explorar o Método Montessori, criado precisamente por esta pedagoga italina, e que agora querem trazer até Porto de Mós. O casal, com mais sete pessoas, formaram a Ninho Montessori – Associação de Educação para a Vida e vão trabalhar na antiga escola primária dos Bouceiros, (Alqueidão da Serra), cedida pelo Município. Este vai ser um espaço dedicado a formar, informar e educar pais e crianças sobre os ideais deste método.

Mas, afinal, o que é isto de Montessori? Fátima Mendes (que fez formações na área) utiliza esta ideia para resumir o modelo: «Acreditarmos na criança e no seu potencial, sabendo que é dos 0 aos 3 anos que o ser humano tem mais capacidade de aprendizagem e é quando fundamenta os seus princípios, quando começa a criar o Homem que vai ser no futuro. A criança aprende a viver até aos seis anos, há um adquirir de independência física, começa a interagir com o mundo, com as coisas reais e queremos trazer isso, a realidade», afirma. Na sua opinião, «as crianças precisam da verdade, não de um Pai Natal, mas de saber que havia um senhor chamado Nicolau que distribuía pelos mais pobres». Precisam também «de vida prática» e, nesse sentido conta, por exemplo, criar uma «mini-hortinha». «A proposta de Montessori é educar a criança para que no futuro seja um adulto que consiga resolver os desafios que tiver, ou seja, ajuda as crianças a que pensem por si próprias, sigam o seu caminho, ao seu ritmo», frisa.

Montessori como sistema de ensino

Apesar do objetivo inicial ser criar «uma comunidade de aprendizagem» com atividades dos 0 aos 6 anos, que «os pais consigam replicar em casa», a verdade é que este é um modelo que dá para aplicar em todo o sistema de ensino. «As crianças não começam todas a aprender a letra “i” porque alguém estudou que o grafismo era mais fácil, começam, por exemplo, pela letra “d” porque se interessam por dinossauros, então captamos a criança por aí. Depois do nome, dizemos se era herbívoro ou carnívoro, há uma interligação natural das matérias», esclarece adiantando que é sempre ensinado o nome correto, não há lugar para termos como “popó” (carro) ou “mémé” (ovelha).

«No 1.º ciclo começamos a falar das grandes histórias, a formação do universo, a história das letras, da linguagem, da matemática, tudo isso cativa as crianças e tudo está interligado, porque quando querem saber como surgiu o universo, vão saber de geografia, de matemática…», sublinha. Fátima Mendes considera redutor que no sistema de ensino tradicional se dividam as disciplinas: «Como é que se pode dizer “agora vamos estudar só matemática”, se a matemática é base de todo o universo?», questiona.

“Adultização” do mundo

Outro dos aspetos que o Método Montessori defende é que se acabe com a “adultização” do mundo das crianças. «As crianças vivem num mundo de adultos, em que não podem fazer nada sem ajuda do adulto, querem lavar os dentes, ir à casa de banho, não podem, querem acender a luz, não conseguem. Neste espaço, vamos ter tudo a uma altura acessível às crianças», realça. Esta autonomia fará, naturalmente, com que as crianças errem, «faz parte da aprendizagem», no entanto é importante dar-lhes «um ambiente em que lhes seja permitido errar, para depois fazerem melhor», considera. «Há muitas crianças que começam a atirar coisas e o que devemos fazer é dizer “as bolas é que são para atirar” e arranjar um cesto para começarmos a atirar bolas», exemplifica. A palavra “não” não deve ser utilizada com frequência: «O nosso cérebro às vezes não processa o “não”, e muito menos o dos pequenitos, então temos de redirecionar em vez de ralhar. Se queremos que não ponham os pés no sofá dizemos “os pés são no chão, o sofá é para sentar. É difícil deixar de usar o “não” mas é treinável», acredita.

A mudança de vida até à marca “Papai Tó”

Fátima Mendes e o marido despertaram para o mundo Montessori quando estavam prestes a ser pais. Leram e estudaram muito, o que os levou depois, também motivados pela pandemia, a investir nesta área, deixando carreiras de vários anos. «Começámos a introduzir materiais Montessori, que o meu marido começou a fazer, na vida dos nossos filhos», conta. Primeiro, as estruturas que construía eram apenas «lá para casa», mas a qualidade dos produtos começou a cativar mais gente.

Para iniciar este projeto, mudaram também de geografia: de Lisboa até ao Alqueidão da Serra, onde vivem desde agosto. «Não conhecíamos o Alqueidão, a única pessoa que conhecíamos era o João Gabriel, irmão de Rui Gabriel (já falecido) que foi nosso mentor de marketing e empreendedorismo», explica. Por acreditarem que as escolas em Lisboa são um “corre-corre” onde não se presta atenção às crianças, vir para um lugar mais pacato onde pudessem desenvolver os seus projetos, era um objetivo. «Viemos cá conhecer a terra e as gentes, começámos a sentir o ar puro e aqui estamos no meio de tudo, chegamos facilmente a todo o lado, temos a Natureza e encontrámos uma escola com ambiente familiar, com cantina, com pessoas interessadas pelas crianças», salienta Fátima Mendes.

Foto | Jéssica Moás de Sá

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