Realizou-se no passado dia 21 de julho, na Batalha, a homenagem anual a Mouzinho de Albuquerque, ilustre militar batalhense, patrono da Arma de Cavalaria.
A cerimónia promovida por aquele ramo do Exército Português foi presidida pelo diretor honorário da Arma de Cavalaria, Tenente-General, Carlos Manuel de Matos Alves, e contou, entre outros, com a presença do Comandante das Forças Terrestres, Tenente-General, Rui Ferreira.
As honras militares foram prestadas por um grupo de 27 cavaleiros que, em representação de todas as unidades de Cavalaria do Exército e da Unidade de Segurança e Honras de Estado, da Guarda Nacional Republicana, integraram a habitual marcha a cavalo de homenagem a Mouzinho de Albuquerque. Marcha essa, de dois dias, iniciada a 19 de julho na Escola das Armas, na vila de Mafra.
Durante a cerimónia, o presidente honorário da Arma de Cavalaria e o presidente da Câmara da Batalha, Raul Castro, depositaram uma coroa de flores junto ao busto de Mouzinho de Albuquerque e no final da mesma, descerraram no monumento o sabre, símbolo da Cavalaria.
No seu discurso, o presidente da Câmara da Batalha disse que «estes momentos de celebração» servem não só para homenagear os predicados de Mouzinho de Albuquerque «enquanto militar de apurado espírito cívico e enraizado sentimento patriótico, mas também para manter viva a memória deste batalhense, nascido há 169 anos, na Quinta das Várzeas» e que deixou «um legado glorioso e de feitos impossíveis que muito honraram e devem continuar a honrar o Exército Português».
Raul Castro apresentou Mouzinho de Albuquerque como «militar animado de apurado espírito cívico e enraizado sentimento patriótico, estadista dotado de ampla visão estratégica, hábil e competente mas também pedagogo e educador», sublinhando que «o reconhecimento que lhe foi feito por vários países, Reino da Prússia, Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Reino Unido e Itália é bem demonstrativo daquilo que foi o seu percurso de vida».
Assim, afirmou o responsável autárquico, «a cerimónia que ano após ano aqui se vai fazendo, é um contributo importante para lembrarmos que os feitos de Mouzinho de Albuquerque, fazem parte da História do nosso País, lembrando-nos que devemos manter bem viva a nossa história, naquilo que é a preservação da nossa memória coletiva».
Por sua vez, diretor honorário da Arma de Cavalaria, Tenente-General, Carlos Manuel de Matos Alves, em nome do Exército Português e da Arma de Cavalaria em particular, expressou «o sincero apreço pela forma como, na senda da exemplar e profícua disponibilidade que sempre tem demonstrado a Câmara Municipal da Batalha apoiou de novo a concretização uma vez mais deste tributo da arma de Cavalaria ao seu patrono».
O responsável militar congratulou-se também pela presença do sobrinho-neto do homenageado e de, mais uma vez, cavaleiros da GNR se terem juntado à marcha.
Matos Alves afirmou que «vivendo uma época em que as referências históricas, éticas, morais e espirituais são muitas vezes questionadas, negligenciadas, ou menosprezadas. Em que o respeito pelo próximo e o altruísmo cedem lugar ao desrespeito por si e pelos outros, ao materialismo e ao egocentrismo. Em que tudo é efémero e nada está garantido, é imperativo tudo fazer para inverter e contrariar tais tendências pois renegar o nosso
passado compromete irremediavelmente o nosso futuro».
Neste contexto, «sendo Portugal detentor de importantíssimo legado consubstanciado num passado glorioso repleto de vivas memórias que muito dignificam e enobrecem e devem orgulhar os portugueses, é obrigação de todos e, em particular, do Exército», considerou, «preservar este admirável património histórico e dá-lo a conhecer às gerações que nos sucedem para que o honrem, valorizem e cultivem», e é aqui que se baseia o propósito de mais uma vez recordar «aquele que foi irrefutavelmente um dos portugueses mais prestigiados e carismáticos do último quartel do século XIX», explicou.
Para o Tenente-General, «a história de Mouzinho de Albuquerque é o repositório de facto absolutamente cultivante da vida, de um soldado valoroso, brioso, irrepreensível, mentoral e comprovadamente competente. De um cidadão esclarecido, integro, temente dos seus deveres, com sentido cívico enraizado num espírito patriótico. Um governante com vincado sentido de Estado, com visão estratégica, hábil, dinâmico e empreendedor. E não menos marcante, de um homem naturalmente com vicios, qualidades e defeitos».
Do percurso de Mouzinho de Albuquerque o diretor honorário da arma de Cavalaria destacou a ação desenvolvida em Moçambique onde conseguiu importantes vitórias. No seu entender, «foram páginas brilhantes da história de Portugal» as que Mouzinho escreveu pela sua «actuação impar no comando das tropas, na personificação do espirito cavaleiro e liderando os seus homens pelo exemplo, pela notável capacidade de decisão no campo de batalha, pela audácia na execução, pela constância na ação, a inquebrantável determinação e e crença absoluta no cumprimento da missão».
«Pela atualidade dos conceitos, pela notabilidade de valores, de sentimentos, atitudes e comportamentos, Mouzinho de Albuquerque foi, é e será inquestionavelmente inspiração dos militares da nossa arma pelo que os exorto, cavaleiros de hoje, a procurarem igualar a coragem moral e cívica, a verticalidade e o desapego do bem material, pela total devoção à causa pública, e não menos importante transmitir aos que os sucedem o culto dos valores, das tradições e da honra que a figura de Mouzinho representa nas dimensões de cidadão e de militar, para nele encontrarem ânimo e inspiração que lhes permitam enfrentar as adversidades e a superar os desafios com que se vão deparar», concluiu.
Perfil
Joaquim Mouzinho de Albuquerque nasceu a 12 de novembro de 1855 na Quinta da Várzea, às portas da vila da Batalha. Descendia de uma das famílias portuguesas mais ilustres, sendo neto de Luís da Silva Mouzinho de Albuquerque, figura de militar, político e estadista, escritor e cientista da
maior projecção na primeira metade do Século XIX, a quem se ficou a dever a notável recuperação do Mosteiro da Batalha.
Alistou-se em Cavalaria no ano de 1871. Em 1886 seguiu para a então Índia Portuguesa, onde prestou relevantes serviços, ascendendo a Secretário Geral do Governo do Território. Transitou dali para Moçambique, por altura do ultimato inglês, a fim de assumir o cargo de Governador do Distrito de Lourenço Marques, que desempenhou de 1890 a 1892.
Regressado à Metrópole, volta a partir para Moçambique, em 1895, como Comandante da força de Cavalaria incorporada na expedição chefiada pelo Coronel Eduardo Galhardo enviado àquela colónia para dominar os régulos que, a incitamento de colonialistas britânicos, se haviam revoltado contra a presença portuguesa.
Em 10 de Dezembro de 1895 foi nomeado Governador Militar do Distrito de Gaza e, logo a 29 desse mês, promoveu a heróica captura de Gungunhana, o último imperador do Império de Gaza, área do território que hoje é Moçambique.
A 13 de Março de 1896 foi nomeado Governador–Geral de Moçambique e, em 25 de Novembro seguinte, Comissário Régio. Em meados de 1897 empreendeu a gloriosa campanha de Macontene.
Regressado à Metrópole, em Dezembro de 1898, foi nomeado pelo Rei D. Carlos aio do Príncipe Real D. Luís Filipe. Faleceu a 8 de dezembro de 1902.
Fotos | Isidro Bento