Início » Mulher agredida em Mira de Aire

Mulher agredida em Mira de Aire

30 Setembro 2022
Catarina Correia Martins

Texto

Partilhar

Catarina Correia Martins

30 Set, 2022

Uma mulher de 66 anos foi, no passado dia 21, agredida em Mira de Aire. Dina Carvalho, residente na vila, ter-se-á deslocado à casa dos pais, já falecidos, que fica junto à Rua das Flores, bem perto da Igreja Matriz, como faz regulamente, para verificar se tem correspondência e também «para ver se as coisas estão em condições». Isto porque, de acordo com Dina Carvalho, as famílias de etnia cigana que ali residem «têm danificado muito a casa». A mulher diz que, quando saiu do carro, para verificar a caixa do correio, viu «um monte de lixo debaixo da mesa [que se encontra no centro de uma rotunda, envolvendo uma árvore e com bancos de pedra], eram cuecas sujas, estava tudo porco e sujo», conta. Por isso, decidiu pegar no seu telemóvel e fotografar como, segundo a própria, fora aconselhada a fazer quando, há alguns meses, teve uma reunião com a Câmara Municipal, a Junta de Freguesia e a GNR para debater este assunto, em conjunto com outros habitantes da vila. «Tinham-me dito, se eu visse alguma coisa, para ir tirando umas fotos porque era mais uma coisa para fazer pressão, para ver se eles abalavam», adianta. «Quando me viram com o telemóvel na mão, começaram logo a tirar telemóveis, a tirar-me fotos, a intimidar-me, a chamar-me nomes. Comecei a ver que as coisas estavam a ficar um bocadinho mais complicadas, dei meia volta para me vir embora e quando me viro, sinto um murro muito forte nas costas. Aí ainda me aguentei, mas quando me surge um murro tão forte, tão forte, tão forte na cara, caí logo redondamente no chão com os sentidos perdidos», conta. A partir daí, Dina Carvalho não sabe precisar o que aconteceu. Quando voltou a si estava sentada num banco, «no meio daquela porcaria toda». Ligou para a GNR, pedindo ajuda e, segundo o que disse ao nosso jornal, terá obtido uma resposta que não esperava: «Disseram que não tinham ninguém para me vir acudir, que não tinham elementos, só se viesse alguma patrulha de Porto de Mós ou da Batalha. Deixei-me estar ali e quando comecei a ver que estava capaz de me vir embora, meti-me no carro e fui ao médico particular», conta. Dina Carvalho apresentou também queixa na GNR e foi vista no Instituto de Medicina Legal, que quer voltar a observá-la daqui a sensivelmente duas semanas.

As queixas desta mirense não são de agora. Diz que, na casa dos pais, «os estores estão todos furados das pedras que para lá atiram» e que já viu as mesmas pessoas «a beber cerveja e atirar as garrafas vazias contra as portas» da, agora, sua casa. Dina Carvalho diz ainda que estas famílias «não arrendaram nada [as casas onde vivem], ocuparam o que não era deles, partiram as portas, partiram as casas todas, escavacaram tudo e entraram». Depois da ampla divulgação, a vítima diz ter «muito medo de represálias», para consigo ou com a sua família.

Autarcas preocupados

O Portomosense procurou contactar o presidente de Junta, Alcides de Oliveira, que, de acordo com alguns jornais nacionais, terá sido também ameaçado, mas não conseguiu, em tempo útil, obter resposta. Porém, em declarações à SIC, o autarca disse que as pessoas em causa «têm algumas dificuldades de relacionamento com a [restante] população» e que, por isso, «para além de não se integrarem, importunam as pessoas que ali passam». Alcides de Oliveira avançou também que, «em algumas alturas do dia, nomeadamente à tarde e ao início da noite, as pessoas são importunadas e avisadas de que, ao passarem ali, têm que olhar com cuidado porque aquele espaço pertence àquelas famílias». «São casas ocupadas, eventualmente poderá existir algum contrato de arrendamento», acrescentou ainda.

O presidente de Junta disse também que, segundo as informações que tem, o efetivo de militares no posto da GNR de Mira de Aire «não lhes permite fazer passagens recorrentes naquela zona». «Se eu, como presidente de Junta, for perguntar à generalidade da população de Mira de Aire, o que as pessoas queriam era que aquelas pessoas saíssem daqui. Agora, reconheço que há uma grande dificuldade em pegar nas pessoas para elas abandonarem o espaço. A Junta de Freguesia só queria que deixassem de agredir verbalmente as pessoas e de as intimidar», concluiu.

Também o presidente da Câmara, Jorge Vala, se diz «muito preocupado» com a situação, até porque «está instalado o medo» naquela vila. O autarca avisa, porém, que a intervenção que a Câmara pode ter nestes casos, «infelizmente, é praticamente nula». «Neste momento estamos a tentar sensibilizar as autoridades para terem uma ação mais presencial, porque sabemos que esta não é uma situação pontual, mas recorrente, sobretudo ao nível das agressões verbais», adianta. Jorge Vala salvaguarda, no entanto, que «as pessoas foram instaladas, aparentemente, legitimamente, têm um contrato de arrendamento naquelas casas». Depois de revelar também que, na passada segunda-feira, já reuniu com as forças de segurança, tendo pedido ainda uma reunião ao Ministério Público, Jorge Vala frisou que «foi posta em causa a segurança e a ordem pública em Mira de Aire e isso, só por si, já é um motivo de preocupação»: «O grande problema é que estas comunidades, como se sabe, juntam-se com muita facilidade, criam alguns distúrbios e criam sobressalto junto de uma comunidade mais idosa, que se habituou a viver de uma forma pacífica», concluiu.

GNR confirma baixo efetivo

Ao nosso jornal chegaram mais relatos, de outros habitantes, acerca do medo e da insegurança sentida pela população em geral, aumentando ainda a indignação o facto de tudo isto se passar muito perto do centro da vila, numa artéria próxima do largo da igreja. Os testemunhos que fomos ouvindo não se referem apenas a esta situação, mas também a outros assaltos, que por vezes se verificam, como é o caso de um roubo por esticão, que aconteceu no dia 23, em que cinco homens foram detidos em flagrante. De acordo com um comunicado da GNR, esse roubo aconteceu na sequência de outros, realizados no mesmo dia, nas localidades de Vieira de Leiria, Colmeias, Caranguejeira e São Mamede. Os bens foram recuperados e os suspeitos foram presentes a primeiro interrogatório judicial, no Tribunal de Peniche, ficando em prisão preventiva.

Perante tudo isto, O Portomosense procurou esclarecimentos junto da GNR. O capitão Daniel Matos começou por sublinhar que as situações do roubo e da agressão em nada se relacionam. De acordo com o agente da autoridade, «a evolução da criminalidade em Mira de Aire acompanha a criminalidade a nível nacional» e não é pela presença «daquela comunidade que existe mais criminalidade em Mira de Aire», adiantando ainda que, apesar de haver outras queixas, se trata mais de «problemas de vizinhança» do que de crimes propriamente ditos.

Relativamente ao caso da agressão em particular, o capitão Daniel Coelho confirma a chamada da vítima, e que do posto lhe disseram que a patrulha poderia demorar uma vez que estava em Porto de Mós. De acordo com o militar, «a vítima exigiu rapidez e acabou por prescindir da patrulha». «Mira de Aire não tem um efetivo grande e temos tentado alocar uma ou duas patrulhas por dia, quando é possível. Quando o não é, porque há três turnos diários, as situações são acompanhadas pela patrulha de Porto de Mós», explicou. Daniel Coelho disse que, no início do ano, foi feita uma reunião, referida também pela vítima, e que na sequência disso mesmo, foi feito um reforço das operações no local e, em fevereiro, foi feita uma operação especial de prevenção da criminalidade. O capitão da GNR adiantou ainda que os «giros com militares» foram reforçados na Rua das Flores.

Assinaturas

Torne-se assinante do jornal da sua terra por apenas: Portugal 19€, Europa 34€, Resto do Mundo 39€

Primeira Página

Publicidade

Este espaço pode ser seu.
Publicidade 300px*600px
Half-Page

Em Destaque