A Mulher Século XXI – Associação de Desenvolvimento e de Apoio às Mulheres celebrou, este mês, um ano desde que, através do Gabinete Girassol, presta apoio psicológico a crianças e jovens vítimas de violência doméstica. Durante estes 12 meses, a associação já apoiou 114 casos. A presidente da associação, Susana Pereira, revelou a O Portomosense o porquê do início desta resposta: «A 16 de agosto de 2021, houve uma alteração à lei que nos veio dizer que todas as crianças e jovens que assistam ou estejam expostas a contextos de violência, passam a ser consideradas vítimas primárias de maus tratos por violência doméstica», começou por esclarecer. «Nesse sentido, depois de aparecer uma resposta a nível nacional, Leiria abriu uma outra, que dê apoio psicológico e psicoterapêutico a estas crianças e jovens, que vínhamos a notar, há muito tempo, que necessitavam, mas que eram, até aquele momento, consideradas vítimas secundárias e, por isso, não havia esse apoio», explica a responsável.
No dia 15 de outubro de 2021, a Mulher Século XXI abriu assim a Resposta de Apoio Psicológico para crianças e jovens, à qual deu o nome de Gabinete Girassol, com sede em Leiria. «Temos um espaço próprio para atender crianças daqui [Leiria], mas temos uma abrangência a toda a região, vamos, de forma itinerante, a todas as comunidades da região de Leiria», sublinha. Embora a associação tivesse consciência da necessidade deste apoio, os números não deixaram de surpreender. «Não contávamos que fosse tanto, num ano tivemos 114 casos e estamos a falar de crianças e jovens entre os 4 e os 18 anos. Desses 114 casos, ainda estão a ser acompanhados 75 e vamos continuar a aceitar mais», salienta Susana Pereira. A associação dá o caso por «terminado» quando a «criança ultrapassou, saiu da situação de violência, está mais ou menos bem, dentro dos possíveis, ou já tem mais de 18 anos e seguiu para outro tipo de resposta dentro da Mulher Século XXI».
A realidade de Porto de Mós
Em Porto de Mós, existem «seis ou sete casos» de crianças e jovens a receber este apoio: «Temos poucos casos, talvez ainda não cheguem até nós todos os que há». Em comparação com a realidade do distrito, Porto de Mós é um concelho pouco afetado. «Vamos três dias por semana, neste momento, a Pombal e Marinha Grande, os locais onde nos estão a surgir mais casos, a par de Leiria», revela, frisando, no entanto, que existem casos «em todos os territórios da Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria (CIMRL)». «O único sítio onde não vamos nós ter com as crianças e jovens é em Leiria, são eles que vêm ao nosso espaço, em todos os outros municípios da CIMRL temos protocolos com as Câmaras Municipais, Juntas de Freguesia, Centros de Saúde, para termos uma sala e marcarmos um espaço para a manhã ou para a tarde, consoante a necessidade», esclarece.
Violência “está a aumentar”
Segundo os dados de que dispõe a associação, nomeadamente o número de pessoas que pedem ajuda, tudo indica que «a violência doméstica está a aumentar», frisa Susana Pereira. Por isso, acredita a presidente, o facto de todas as estruturas envolvidas nesta área, desde tribunais, municípios, equipas de intervenção, trabalharem cada vez mais estas respostas de apoio, fará com que seja mais «fácil» chegar, cada vez mais, junto destas crianças e jovens. Para continuar a poder dar esta resposta, a associação espera que os fundos comunitários de apoio a estes projetos continuem a chegar: «Nem sequer devia haver nenhum tipo de pensamento que pudesse levar a que este tipo de projetos acabasse, é uma necessidade tão grande que nós estamos a contar que realmente vá continuar, seja através de fundos comunitários, seja através do Orçamento do Estado, não pode é acabar, é muito grave se isso acontecer», reforça.
