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Muros de Pedra Seca: os bastidores da candidatura

17 Setembro 2020
Jéssica Silva

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Jéssica Silva

17 Set, 2020

Findo o concurso das 7 Maravilhas da Cultura Popular, em que participaram os Muros de Pedra Seca, procurámos traçar a linha do tempo com os acontecimentos e o trabalho que esteve por trás da candidatura, desde que a Câmara entrou nesta aventura até à gala final, a 5 de setembro, em que foi anunciado o veredito.

Em meados de abril, o Município anunciou que tinha entrado na corrida com 14 patrimónios, dois por cada categoria: Artesanato, Lendas e Mitos, Festas e Feiras, Músicas e Danças, Rituais e Costumes, Procissões e Romarias e Artefactos. «Cada candidatura tinha que ter uma descrição porque era aí que o júri ia selecionar e procurámos juntar pessoas que soubessem contar bem a história, de forma a que fosse melódico e poético», explica o vereador da Cultura, Eduardo Amaral. Todos os elementos submetidos foram nomeados, no entanto, os Muros de Pedra Seca foram a única candidatura do concelho que, na fase seguinte, esteve entre os 21 patrimónios locais mais votados a nível distrital. «Os muros acabaram por ter um poema associado e penso que foi a grande diferença», destaca. A partir do momento em que os Muros passaram a fazer parte dos 140 finalistas e tendo em conta que para muitos, segundo Eduardo Amaral, «o muro é uma carrada de pedras que está na serra há muito tempo», o Município começou a pensar numa estratégia. Fizeram um «brainstorming» e chegaram à conclusão de que os Muros «não podiam servir só para dividir propriedades» e foi então que surgiu o mote Muros que unem.

Uma das ações que fez parte dessa estratégia, foi a criação de uma página de Facebook com essa mensagem, onde as pessoas foram convidadas a publicar fotografias pessoais em que o muro estivesse presente. Posteriormente, o Município utilizou esse material, dando-lhe «a roupagem do voto» e replicando-o. Houve a necessidade de «dar escala e mais força à candidatura» e para isso, existiu a «aproximação com os vários presidentes de Câmara, entre os quais, da CIMRL, Aldeias de Xisto e Açores». A essas figuras, juntaram-se outras como o diretor regional do ICNF, o presidente do CEPAE e algumas amplamente conhecidas do grande público como Manuel Melo, ator, Rúben Palmeira, músico, e Inês Henriques, campeã do mundo e da Europa dos 50 quilómetros em marcha.

Peripécias das viagens

Em meados de julho, a vila da Batalha acolheu o programa do distrito. Antes disso, já vários elementos do Município de Porto de Mós pensavam sobre a melhor forma de aí conseguir ter um muro. O vereador da Cultura recorda que, num primeiro momento, a ideia era de «aproveitar as pedras de cada sítio» para construir o muro, mas chegou-se à conclusão que, em termos logísticos, não era exequível. «Na Batalha, levámos a pedra na carrinha e o muro foi feito no local, o que nos deu hipótese de levar mais gente», afirma Eduardo Amaral, acrescentando que nesse programa houve uma aposta na etnografia através da presença de várias «personagens da terra». Os Muros de Pedra Seca apuraram-se para as meias-finais do concurso, passando a ser a única candidatura a representar o distrito.

Na segunda meia-final, a 30 de agosto, em Torres Novas, a estratégia para que o muro estivesse presente teve que ser diferente, o que obrigou a um “jogo de cintura” em questões logísticas: «Fomos ver o sítio, mas era difícil levar lá a carrinha da pedra e perdíamos muito tempo. Então montámos um muro ambulante em cima de um trator», descreve. Conscientes de que «deslocar uma tonelada de pedra não é fácil» e sem quererem arriscar ir no próprio dia, os vários elementos decidiram facultar dormida em Torres Novas. Porto de Mós ficou a saber nesse dia que os Muros de Pedra Seca já tinham um lugar na final do concurso. Mais uma vez as características do espaço, em Bragança, obrigaram a uma ginástica considerável no transporte do muro. «Os nossos funcionários passaram um mau bocado porque aquilo era muito inclinado mas eles estiveram no seu melhor», salienta Eduardo Amaral. O presidente da Câmara aproveitou para destacar a «grande disponibilidade» dos trabalhadores do Município que, segundo frisa, «acarinharam desde o início a participação».

«Fomos acrescentando valor ao muro. Fomos para Torres Novas numa perspetiva de “vender” e promover os Muros, mas sabíamos que era difícil vencer, então fomos para Bragança já numa perspetiva de “vender” Porto de Mós e os nossos produtos», admite Eduardo Amaral. Exemplo disso, as gralhas feitas no FABLAB, as cestas de junco do Juncal e as mantas de Miras de Aire que estavam junto ao muro aquando da promoção daquela candidatura. Além disso, no vídeo promocional na gala houve imagens do Castelo que, segundo Jorge Vala, «é a marca identitária de Porto de Mós».

Muros originam novos projetos no concelho

Ciente do «potencial da candidatura» e paralelamente à participação no concurso das 7 Maravilhas da Cultura Popular, o Município de Porto de Mós tem estado a trabalhar no sentido de candidatar o saber fazer dos Muros a património imaterial da UNESCO. «São processos lentos que é necessário amadurecer, mas estamos em fase de consolidação da ideia e do trabalho científico. Até meados do próximo ano, avançaremos com uma proposta documental», explica o presidente da Câmara, Jorge Vala. Porém este é apenas um dos muitos projetos que o Município tem em vista para os próximos tempos a contemplar os Muros. «Vamos tentar lançar um projeto com o IEFP para que as pessoas possam vir a receber formação nessa área», adianta Eduardo Amaral. Ao nível das escolas, a ambição é que haja um projeto educativo na perspetiva do saber fazer dos Muros, porque pelas construções que têm «acabam por ter um papel didático». Além disso, está prevista a conceção de um livro sobre a temática «dando vida à tese de mestrado do arquiteto Fernando Pereira» que foi a «única pessoa que conseguiu recolher toda a informação e escrever sobre o tema». Na vertente turística, a ambição do Município é a criação de um conjunto de rotas e de oficinas de fim de semana com o objetivo de que «as pessoas que visitem Porto de Mós, descubram a serra rendilhada e que elas próprias ajudem a construir um muro», explica Eduardo Amaral, destacando que o objetivo é que a atividade não se esgote naquele momento, mas que as pessoas tenham um motivo para regressarem a Porto de Mós.

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