Nesta edição, entre outros, evocamos o Dia Mundial da Língua Portuguesa. Chamar a atenção para a importância de falar e escrever bem na língua materna é também uma obrigação nossa, até porque o domínio (básico) da língua não é uma exigência apenas para quem segue “Letras”, mas uma necessidade transversal às outras áreas.
Nunca como antes houve tantos portugueses a saber ler e escrever, mas isso, por si só, não chega. Uma das coisas importantes ao nível do domínio da língua é saber interpretar o que se lê e aí é que, muitas vezes, a coisa se complica. O analfabetismo em si atinge hoje níveis quase residuais, já o analfabetismo funcional, ou seja, «a incapacidade que uma pessoa demonstra ao não compreender textos simples» é uma realidade inegável. Temos gente «capacitada a descodificar minimamente as letras, frases, textos curtos e os números», mas que depois não desenvolve «a habilidade de interpretar textos e de fazer operações matemáticas» simples. Saber ler, mas não saber interpretar o que se lê, presta-se, portanto, a todo o tipo de problemas, dificuldades e confusões.
Quando já devíamos estar bastante avançados no desafio da literacia digital, ou seja, quando grande parte da nossa população já devia saber trabalhar com computadores e utilizar a internet para «recuperar, avaliar, armazenar, produzir, apresentar e trocar informação, e comunicar e participar em redes colaborativas», ainda temos os muitos que demonstram grande dificuldade em interpretar um texto ou fazer um cálculo matemático simples. E não se pense que o problema, com maior ou menor gravidade, atinge apenas as pessoas de baixa escolarização. Infelizmente, é mais grave e não poupa sequer indivíduos com formação superior, chegando a afetar pessoas que, em várias áreas da nossa sociedade, têm nas palavras e na língua portuguesa ferramentas essenciais para o exercício da sua profissão.
Basta ler, por exemplo, aquilo que se vai escrevendo nas caixas de comentários das redes sociais dos jornais na internet, para se perceber que esta dificuldade, em interpretar um texto ou o nem sequer atentar verdadeiramente naquilo que se leu, não exclui, à partida, uma pessoa por ter mais ou menos habilitações literárias. Bem, mas aí entramos no domínio da literacia mediática que, só por si, justificaria outro editorial. É importante termos leitores que saibam onde encontrar informação fidedigna e que tenham capacidade de pensar, criticar e opinar sobre a mesma, mas até lá chegarmos, ou em simultâneo, há o “bê-á-bá”, ou seja, ensinar, por exemplo, a diferença entre informação e opinião.