Luís Vieira Cruz

Natal com presentes? Sim, por favor. Mas com os certos.

6 Dez 2023

“Hoje, quero presentes. Quero que os “meus” estejam presentes. Quero que os que já não estão presentes possam estar presentes”

As luzes e enfeites que adornam as vilas, freguesias e lugares do nosso concelho já não deixam ninguém esquecer o que aí se avizinha: o Natal. E tal como as luzes e os enfeites, também as rádios, os jornais e as televisões deste país começam a reproduzir as inevitáveis campanhas natalinas que de pronto fazem esquecer os distraídos que, aqui há coisa de dias, se viram chegar tarde para usar os descontos da Black Friday. À medida que os dias se esgotam, começa a ascender em nós a ânsia de arranjar algo para oferecer aos dos nossos círculos mais próximos. Claro que ninguém quer esquecer-se de ninguém… É por isso que todos sacamos da caneta e do papel e apontamos os nomes daqueles que achamos merecedores de um pouco de atenção em forma de embrulho.

Desde pequenito que recebo prendas. Desde pequenito que me lembro da magia daquilo que agora a juvena chama de “unboxings”. Sempre foi com excitação ou um traço de fascínio pela incógnita que rasguei papéis. Se umas vezes fiquei com aquele brilhozinho nos olhos por adorar o que ali estava à minha espera, por outras fiz, sem querer, “aquela cara” que nem vale aqui a pena descrever, pois estou certo que todos já passámos por isso -, e exclamei “obrigado, era mesmo isso que eu queria!”, enquanto sentia, bem cá no fundo, que aquelas meias garridas ou aquela garrafa de vinho menos “exótico” jamais me trariam proveito.

Aqui há dias, numa das minhas viagens de comboio, esbarrei com o olhar num artigo um tanto ou quanto curioso. Lia-se que há famílias portuguesas a aderir a uma “moda”, a de se juntar no Natal com um compromisso que parece simples: não trocar prendas. À primeira, e só pelas “gordas”, não liguei assim tanto, até porque a conjuntura económico-social que temos vivido ao longo dos últimos anos tem feito, junto de alguns que bem conheço, deixar as trocas “para outra altura”. Mas esforcei-me por extrair um pouco mais de sumo, e lá o achei. Afinal, a corrente que aquela família seguia não tinha origem nas suas debilidades financeiras. Tinha algo com o qual me venho a identificar à medida que o tempo passa. Com a troca de presentes por… presentes. Difícil de compreender? Rapidamente lhe explico. Há presentes, como acima refiro, que nos tocam (e muito bem). Outros, que depressa viram empecilhos (e muito mal). Mas há presentes que só com a idade aprendemos a, de facto, valorizar. Dessem-me a escolher em garoto um monte de caixas por abrir ou uma mesa pejada de doces e rodeada pelos “meus” que eu logo vos dizia o que preferia… E isto porquê? Não por falta de educação. Essa nunca faltou, felizmente. Mas por ser mais um jovem enfeitiçado pelo clima supérfluo a que me habituaram os jingles, os cartoons e os anúncios que me afastavam do mais importante.

Hoje, quero presentes. Quero que os “meus” estejam presentes. Quero que os que já não estão presentes possam estar presentes. Portanto, a resposta àquela questão tornou-se um pouco diferente agora.

Um Natal com presentes? Sim, por favor. Mas com os certos.