
Foto: Jéssica Moás de Sá
Teresa Duarte e Joaquim Luís estão numa relação há oito anos e há seis que estão juntos também a nível profissional. O casal que trabalha atualmente numa empresa de transportes do concelho, a Translégua, entrou para este mundo por necessidade, uma vez que ambos se econtravam em situações profissionais precárias. No caso de Joaquim Luís, que trabalhava na área da construção civil, teve que «optar por outra via», dada a «quebra muito elevada» deste setor profissional. Já Teresa Duarte trabalhava numa empresa «que entrou em processo de insolvência», onde os «ordenados já não eram garantidos». Foi neste contexto que, primeiro Joaquim e depois Teresa, decidiram tirar a carta de pesados para se lançarem nesta aventura, sem qualquer influência externa e sem nunca ter sido um objetivo para ambos até àquele momento. Teresa admite mesmo que «não gostava e não tinha o bichinho dos camiões» e é dessa forma que se sente ainda hoje, ao afirmar, mesmo depois de seis anos, que continua a «não se sentir camionista».
De tudo o que a vida de um camionista envolve, o casal concorda que a «a falta de tempo para tudo e todos» é a «pior parte». Apesar de não considerarem que se trata de «uma profissão complicada», reconhecem que «não estar presente nos eventos familiares» por trabalharem quase sempre «aos fins de semana» não é fácil. No caso de Teresa, o facto de já ter netos e não «poder acompanhar o crescimento deles» de forma mais assídua, causa-lhe algum desânimo. A camionista garante até que nunca teria seguido esta atividade se os seus filhos «ainda fossem pequenos e dependessem» dela.
Gerir a relação como casal quando se anda «seis dias por semana, 24 horas por dia, dentro de um camião com um espaço reduzido» não é, também, «tarefa fácil», assume Joaquim Luís. Apesar do par concordar que «tem conseguido manter» a relação em boa direção, Teresa confessa que, com tantas horas juntos «chega-se a uma altura em que não há nada para dizer» e a rotina repete-se «um dorme, o outro conduz». A condutora admite ainda, entre risos, que é Joaquim que mais tem contibuído para levar a relação a bom porto por ser «muito mais calmo» que a companheira.
Apesar das viagens internacionais que fazem regularmente, foi em Portugal, na vila de Auroca que viveram a viagem que mais os marcou até ao momento. Além de se terem deparado com «caminhos muito estreitos e inclinados» e do «GPS não funcionar bem», o camião não conseguiu subir até à empresa onde iam carregar, «por estar muito leve», e teve que «ser puxado por uma máquina de cortar os eucaliptos», explica Joaquim. Se não fosse a ajuda da máquina, o casal confessa que «não conseguia sair dali», uma vez que quando tentaram fazer marcha atrás embateram «num muro e o camião ficou atravessado na estrada». Para terminar esta aventura, «enganados pelo GPS», tiveram que dormir «no meio da serra, entre eucaliptos e eólicas».

Foto: Jéssica Moás de Sá
Do presente ao futuro
As viagens que este casal de camionistas faz destinam-se ao transporte de mercadorias, que, ao nível da exportação, não tem um produto específico. Quanto ao que trazem da Europa para Portugal, é «100% carne». Já atravessaram quase uma dezena de países, entre eles, Teresa destaca a «Áustria como o país mais bonito». O limite máximo de horas seguidas que Joaquim e Teresa podem conduzir é de 20 horas, mas são obrigados a trocar entre si a cada quatro horas e meia.
Relativamente ao facto de ainda estar em minoria no mundo dos camionistas, Teresa reconhece que há ainda «algum preconceito por ser mulher» mas que nunca o sentiu de forma «muito evidente». Foi no estrangeiro, na Polónia, que sentiu «a estranheza nos rostos das pessoas» de forma mais notória, uma vez que lá «não havia mesmo mulheres a conduzir». Joaquim esclarece que atualmente «já é natural ver muitas mulheres» neste mundo e reforça que «não há diferenças nenhumas» entre a condução de homens e mulheres.
Os companheiros de vida e profissão partilham o descontentamento face à «falta de respeito» que «os condutores, em geral, têm pelos camionistas e camiões». Joaquim acredita que a «maior parte das pessoas que se aproximam de um camião não sabem o perigo que correm», e que isso se vê «nas ultrapassagens perigosas e nas rotundas». O motorista explica ainda que, ao contrário do que as pessoas pensam, «os camionistas não conseguem ver tudo à sua volta». Teresa lembra a necessidade de «além de estar atento» à própria condução de ter que se estar atento «à condução dos outros».
Joaquim gostava de «voltar à construção civil», onde começou carreira, Teresa não tem «nenhum objetivo concreto», mas os dois «não se imaginam muitos anos nesta profissão». Teresa explica que, quem vive nesta atividade, «não tem vida para além do trabalho, às vezes apenas com uma folga» por semana. O camionista considera, no entanto, que «com as condições que os camiões têm hoje, esta poderia ser uma profissão maravilhosa» se pudessem, pelo menos «dormir todos os dias em casa». Juntos, Joaquim e Teresa, partilham a rotina diária, com a certeza que «viver dentro do camião não é para toda a gente».