Em dezembro de 2017, nascia na vila de Porto de Mós um novo evento. A partir dali, no primeiro domingo de cada mês, a zona do Rossio e o jardim municipal passavam a acolher a Feira de Velharias, uma iniciativa dinamizada pela Câmara Municipal, mas em muito impulsionada por Félix dos Reis, comerciante de velharias, natural do Alqueidão da Serra. «Foi logo um espetáculo», atira o alqueidoense, acrescentando que, para começar, convidou «20 e tal colegas» vendedores, que já conhecia de outros eventos semelhantes e «a Feira cimentou-se», tendo hoje «sempre 20 ou 30 expositores, mesmo tendo a concorrência de Óbidos e de Tomar [que têm também feiras de velharias no primeiro domingo do mês]», explica. Hoje, a feira começa junto ao antigo Café Milá e estende-se jardim fora, mas no início, Félix dos Reis e «mais dois ou três» vendedores “assentavam arraiais” junto à dependência bancária, ao pé da rotunda da Igreja, para chamar a atenção de quem passava: «Nestas coisas, ou estamos a estorvar ou as pessoas não nos veem. E, mesmo assim, acredito que haja uma pessoa ou outra, que, se não souber que há a Feira, passe ali de carro e não repare», refere.
Quatro anos depois, a iniciativa tem um regulamento próprio que dita que todos os expositores têm de ser «comerciantes de velharias», já que não se trata «de uma feira de bagageira, em que as pessoas têm umas coisas nos sótãos ou nas garagens, metem na bagageira e vão para ali vender». Segundo Félix dos Reis, «todos os que ali estão, estão coletados e têm poder para exercer a compra e venda de velharias», e são de várias zonas do concelho, mas também de outras zonas do distrito como Caldas da Rainha, Bombarral, Pombal, Leiria ou Marinha Grande.
Na sua opinião, não só como impulsionador, mas como comercial que é presença regular na Feira, há já «clientes assíduos, o termo correto é fidelização», são «pessoas que vêm e que são sempre potenciais compradores». «No primeiro domingo do mês, Porto de Mós era morto e agora tem muita vida. Foi uma ação que teve muito sucesso e acho que nunca mais vai a baixo, dificilmente vai morrer. As feiras sem feirantes não são nada, mas sem clientes também não, precisamos deles, mesmo que uns estejam só a ver ou a passear, animam sempre. Há sempre pessoas que não vão a fazer conta de comprar nada, mas veem uma peça engraçada e compram», revela.
Convívio e oportunidade de negócio
Benvinda Costa, das Covas Altas, na freguesia do Alqueidão da Serra, é vendedora na Feira de Velharias de Porto de Mós «praticamente desde o início», vem com o marido, que faz alguns artigos em madeira, que vendem a par com as velharias. «Isto é um convívio, também vimos para ver se fazemos algum dinheiro, mas isto está fraco. Por isso, às vezes vamos aos outros amigos [vendedores] no final e compramos alguma coisa, que depois vendemos noutro sítios», revela, adiantando que tem «corrido o país» nas feiras deste género. Na sua opinião, este evento «é bom para dar movimento a Porto de Mós» e há «certos meses em que há muita gente», como foi o caso do passado mês de março. «Este mês está mais fraquito, mas acho que é porque há uma peregrinação em Fátima e há muita gente que vai para lá. Às vezes nota-se que, no final da missa [na Igreja de São Pedro], há mais pessoas a passarem por aqui», diz.
Por sua vez, Ludovic Vieira, da Fonte do Marcos, na freguesia de Porto de Mós, é novo nestas “andanças”. A participar pelo segundo mês, vende «um pouco de tudo», desde coisas que já não usa a peças de cerâmica, pintadas à mão, «de uma velha fábrica que fechou há muitos anos». «São artigos que trouxe de França, sou francês, tinha uma empresa e trouxe algumas coisas que estou agora aqui a vender», adianta. «A minha primeira feira foi no mês passado e ganhei mesmo bem, por isso agora estamos cá sempre», diz.
Filomena Vieira vende peças de artesanato, costuradas por si. É «um bocadinho de tudo, para todas as idades, desde aventais, coisinhas para os bebés, mochilas, fitinhas da chucha, alguns brinquedos, carteiras…», que faz «com a ajuda da internet»: «Não gosto de dizer que invento, a gente vai à internet e está lá tudo, estão lá os moldes e tudo e eu sirvo-me disso», conta. Há mais de dois anos que vem à Feira, começou para experimentar, mas depois houve «vários motivos» que a levaram a querer continuar: «Muitas vezes, de um mês para o outro, fico com encomendas, além disso, é uma maneira de conhecermos novas clientes, já angariei algumas aqui», conta.
Mercado de Produtos Locais com clientes regulares
Em simultâneo com a Feira de Velharias, nasceu o Mercado de Produtos Locais, que acontece no mesmo dia e no mesmo espaço físico, partilhando, de alguma forma, clientes. Rosa Vala, de Porto de Mós, é uma das vendedoras e, por ser funcionária da Câmara, tem também a responsabilidade de organizar o mercado. «Este é um mercado de produtos locais, apoiado pela União Europeia, temos um regulamento interno e todos os produtores que aqui estão são do concelho e vendem os seus próprios produtos, não deixando qualquer pegada de carbono, já que tudo o que aqui está vem da horta diretamente para o mercado e não há intermediários», começa por explicar. Ao todo são já 17 vendedores “registados” e, por norma, «há sempre um vendedor novo em cada mercado». O objetivo é atingir as três dezenas de expositores, número que pretendem conseguir com publicidade, que planeiam fazer assim que o regulamento for publicado em Diário da República. Enquanto vendedora, Rosa Vala afirma que há «clientes assíduos, que vêm todos os meses e que já sabem o que querem, e que sabem que aqui vão encontrar produtos de primeira qualidade e muito frescos».
Deolinda Vieira, de Serro Ventoso, participa há cerca de um ano e a opinião que tem é de que «não há muita gente, mas quem vem, vem para comprar». Veio a convite, mas agora diz que «tem corrido bem e é para continuar».
Uma das bancas é da Vertigem – Associação para a Promoção do Património. Rui Cordeiro, presidente da associação, explica que a participação vem desde o começo do mercado e que, além dos produtos feitos na associação «como os licores e o mel», esta banca serve também para vender produtos dos «vizinhos» da Bezerra, onde está a residência da associação. «Trazemos e vendemos para eles», produtos como «frutas, vegetais, pão ou bolos». Para os voluntários estrangeiros que vêm para a associação, esta é também uma oportunidade para «conhecerem Porto de Mós, não só na componente das vendas, mas também a população e ver que há outros espaços no concelho», uma vez que, na Bezerra, «estão muito isolados».
Fotos | Catarina Correia Martins