Outra vez a Saúde… Num cenário que parece estar mais caótico, foram vários os presidentes de Junta que, na última Assembleia Municipal (AM) de Porto de Mós, lançaram questões sobre a falta de médicos no concelho. O primeiro foi Alcides de Oliveira, na frente dos destinos autárquicos de Mira de Aire, que depois de traçar um cenário negro sobre o “estado de sítio” que se verifica no “seu” centro de saúde, lançou a questão: «E a Mira de Aire, com cinco mil utentes, quem é que irá prestar consultas médicas? Serei eu? Se calhar, vou tirar um curso rápido de medicina», ironizou. Também o presidente da Junta do Alqueidão da Serra, Filipe Batista, se mostrou insatisfeito, dizendo mesmo que é, para si, «pouco gratificante, nesta altura, ser presidente de Junta». «As pessoas interpelam-me e eu confesso que já não sei o que dizer», avançou. Salvaguardando que sabe que o presidente da Câmara «não é a pessoa a quem se devia perguntar» e que nem o presidente nem a vereadora com o pelouro da Saúde «são os culpados», quis saber, sem rodeios, «o que temos em cima da mesa? O que é que vai acontecer à Saúde no concelho, principalmente nestas freguesias?», questionou. O autarca deixou ainda a proposta de que a nova coordenadora da Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados de Porto de Mós (USCP-PM) pudesse ser chamada à AM para «dar uma explicação», já que considera que «a nova responsável não tem a mínima noção do que é o concelho em termos da sua estrutura» no que à Saúde diz respeito. «É muito grave o que se está a passar», rematou. A presidente de Junta de Alvados e Alcaria, Sandra Martins, solidarizou-se com os colegas, acrescentando que os seus fregueses, utentes de Porto de Mós e de Mira de Aire, estão também sem médico.
Em resposta, o presidente de Câmara, Jorge Vala, disse que o executivo municipal e a AM não estão «nem parados nem confortáveis», antes «preocupados, muito preocupados». «Isto é um problema de Mira de Aire, mas também de Arrimal e Mendiga, São Bento e Alqueidão da Serra», começou por referir, deixando alguma esperança entregue ao próximo concurso de médicos, ao qual Porto de Mós concorreu a seis vagas: «Vamos ver se são preenchidas. Se forem, provavelmente ficaremos com o problema resolvido», apontou. Jorge Vala deu ainda alguma informação adicional acerca da criação da Unidade Local de Saúde da Região de Leiria (ULS-RL), que está em processo de formação e que se pretende que possa minorar os problemas existentes em toda a região, com uma nova forma de gestão. «Depois de ter sido criado um grupo de trabalho, [a ULS-RL] está a avançar. Neste momento, a informação que recebemos é que a coordenadora da UCSP-PM fez uma candidatura a uma Unidade de Saúde Familiar (USF) [com o nome Aire e Candeeiros], que não pressupõe manter abertas as extensões de saúde de Arrimal, Mendiga, Alqueidão da Serra e São Bento, concentrando os utentes do Alqueidão em Porto de Mós e os restantes em Serro Ventoso», adiantou, acrescentando que se prevê ainda prestar assistência «de proximidade, com uma instalação de balcões SNS 24».
Município dará parecer desfavorável
Uma vez que, para a elaboração do plano de negócios da ULS-RL não houve «uma prévia consulta ao Município», o executivo decidiu enviar os seus contributos, num documento que terá sido considerado pela Comunidade Intermunicipal e que, «aparentemente terá sido integrado no documento relativo à ULS-RL». Informando que «o concelho de Porto de Mós se caracteriza por grande dispersão geográfica, de baixa densidade, com elevada percentagem de pensionistas (33%), com uma taxa de envelhecimento superior à média nacional, com um índice de dependência de 59,7%, com fraca mobilidade e o menor poder de compra do território de influência da ULS-RL», o autarca diz que o Município considera que «a compensação através da instalação de balcões SNS 24 não se coaduna com a população referenciada» e que «a USF a ser criada deverá responder às necessidades da população, garantindo um serviço de proximidade». Nesse sentido, a autarquia «tem mapeada no programa operacional 2030 a construção de dois equipamentos de saúde que integram a sede; um equipamento de unidade de saúde que irá responder aos utentes da União de Freguesias de Arrimal e Mendiga e outro que irá responder aos utentes da freguesia de Alqueidão da Serra», apontou. Jorge Vala rematou, dizendo que o projeto de criação da USF vai precisar de um parecer do executivo que será, «seguramente, desfavorável». «O parecer não é vinculativo e, portanto, terá que ser alguém a assumir a responsabilidade de uma coisa que nós, em representação da população, não aceitamos», disse.
Dias melhores “não vêm”
Respondendo ao repto deixado por Filipe Batista, a presidente da AM, Clarisse Louro, disse que já tinha intenção de convidar a coordenadora da UCSP-PM a estar presente na sessão «para falar um pouco da saúde no concelho», mas que, por uma questão de falta de disponibilidade sua para efetivar o convite, acabou por não acontecer. «Não nos virá dizer nada de novo, mas acho importante que a ouçam e percebam como é que as coisas estão organizadas ou como pensa organizá-las. Irei pensar como fazer para a doutora vir cá falar ou reunir com um grupo», garantiu.
Clarisse Louro não quis, além disso, deixar de traçar um cenário pouco animador sobre o estado geral da Saúde. «Vai piorar. Não temos médicos. O senhor ministro lançou o concurso para 900 médicos, mas não os tens e, por isso, está sossegado, assim como o senhor ministro da Economia ou das Finanças. [Estes médicos] Não podem ser colocados porque não existem, não estão em Portugal, foram embora e não os temos. Por isso, a Saúde vai mesmo ao fundo», reiterou. A presidente da AM terminou, alertando que «não se esperem dias melhores, porque eles não vêm».
Foto | Jéssica Moás de Sá