Início » Nova USF pode fechar alguns centros de saúde no concelho de Porto de Mós

Nova USF pode fechar alguns centros de saúde no concelho de Porto de Mós

18 Maio 2023
Catarina Correia Martins

Texto

Partilhar

Catarina Correia Martins

18 Mai, 2023

Outra vez a Saúde… Num cenário que parece estar mais caótico, foram vários os presidentes de Junta que, na última Assembleia Municipal (AM) de Porto de Mós, lançaram questões sobre a falta de médicos no concelho. O primeiro foi Alcides de Oliveira, na frente dos destinos autárquicos de Mira de Aire, que depois de traçar um cenário negro sobre o “estado de sítio” que se verifica no “seu” centro de saúde, lançou a questão: «E a Mira de Aire, com cinco mil utentes, quem é que irá prestar consultas médicas? Serei eu? Se calhar, vou tirar um curso rápido de medicina», ironizou. Também o presidente da Junta do Alqueidão da Serra, Filipe Batista, se mostrou insatisfeito, dizendo mesmo que é, para si, «pouco gratificante, nesta altura, ser presidente de Junta». «As pessoas interpelam-me e eu confesso que já não sei o que dizer», avançou. Salvaguardando que sabe que o presidente da Câmara «não é a pessoa a quem se devia perguntar» e que nem o presidente nem a vereadora com o pelouro da Saúde «são os culpados», quis saber, sem rodeios, «o que temos em cima da mesa? O que é que vai acontecer à Saúde no concelho, principalmente nestas freguesias?», questionou. O autarca deixou ainda a proposta de que a nova coordenadora da Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados de Porto de Mós (USCP-PM) pudesse ser chamada à AM para «dar uma explicação», já que considera que «a nova responsável não tem a mínima noção do que é o concelho em termos da sua estrutura» no que à Saúde diz respeito. «É muito grave o que se está a passar», rematou. A presidente de Junta de Alvados e Alcaria, Sandra Martins, solidarizou-se com os colegas, acrescentando que os seus fregueses, utentes de Porto de Mós e de Mira de Aire, estão também sem médico.

Em resposta, o presidente de Câmara, Jorge Vala, disse que o executivo municipal e a AM não estão «nem parados nem confortáveis», antes «preocupados, muito preocupados». «Isto é um problema de Mira de Aire, mas também de Arrimal e Mendiga, São Bento e Alqueidão da Serra», começou por referir, deixando alguma esperança entregue ao próximo concurso de médicos, ao qual Porto de Mós concorreu a seis vagas: «Vamos ver se são preenchidas. Se forem, provavelmente ficaremos com o problema resolvido», apontou. Jorge Vala deu ainda alguma informação adicional acerca da criação da Unidade Local de Saúde da Região de Leiria (ULS-RL), que está em processo de formação e que se pretende que possa minorar os problemas existentes em toda a região, com uma nova forma de gestão. «Depois de ter sido criado um grupo de trabalho, [a ULS-RL] está a avançar. Neste momento, a informação que recebemos é que a coordenadora da UCSP-PM fez uma candidatura a uma Unidade de Saúde Familiar (USF) [com o nome Aire e Candeeiros], que não pressupõe manter abertas as extensões de saúde de Arrimal, Mendiga, Alqueidão da Serra e São Bento, concentrando os utentes do Alqueidão em Porto de Mós e os restantes em Serro Ventoso», adiantou, acrescentando que se prevê ainda prestar assistência «de proximidade, com uma instalação de balcões SNS 24».

Município dará parecer desfavorável

Uma vez que, para a elaboração do plano de negócios da ULS-RL não houve «uma prévia consulta ao Município», o executivo decidiu enviar os seus contributos, num documento que terá sido considerado pela Comunidade Intermunicipal e que, «aparentemente terá sido integrado no documento relativo à ULS-RL». Informando que «o concelho de Porto de Mós se caracteriza por grande dispersão geográfica, de baixa densidade, com elevada percentagem de pensionistas (33%), com uma taxa de envelhecimento superior à média nacional, com um índice de dependência de 59,7%, com fraca mobilidade e o menor poder de compra do território de influência da ULS-RL», o autarca diz que o Município considera que «a compensação através da instalação de balcões SNS 24 não se coaduna com a população referenciada» e que «a USF a ser criada deverá responder às necessidades da população, garantindo um serviço de proximidade». Nesse sentido, a autarquia «tem mapeada no programa operacional 2030 a construção de dois equipamentos de saúde que integram a sede; um equipamento de unidade de saúde que irá responder aos utentes da União de Freguesias de Arrimal e Mendiga e outro que irá responder aos utentes da freguesia de Alqueidão da Serra», apontou. Jorge Vala rematou, dizendo que o projeto de criação da USF vai precisar de um parecer do executivo que será, «seguramente, desfavorável». «O parecer não é vinculativo e, portanto, terá que ser alguém a assumir a responsabilidade de uma coisa que nós, em representação da população, não aceitamos», disse.



Dias melhores “não vêm”

Respondendo ao repto deixado por Filipe Batista, a presidente da AM, Clarisse Louro, disse que já tinha intenção de convidar a coordenadora da UCSP-PM a estar presente na sessão «para falar um pouco da saúde no concelho», mas que, por uma questão de falta de disponibilidade sua para efetivar o convite, acabou por não acontecer. «Não nos virá dizer nada de novo, mas acho importante que a ouçam e percebam como é que as coisas estão organizadas ou como pensa organizá-las. Irei pensar como fazer para a doutora vir cá falar ou reunir com um grupo», garantiu.

Clarisse Louro não quis, além disso, deixar de traçar um cenário pouco animador sobre o estado geral da Saúde. «Vai piorar. Não temos médicos. O senhor ministro lançou o concurso para 900 médicos, mas não os tens e, por isso, está sossegado, assim como o senhor ministro da Economia ou das Finanças. [Estes médicos] Não podem ser colocados porque não existem, não estão em Portugal, foram embora e não os temos. Por isso, a Saúde vai mesmo ao fundo», reiterou. A presidente da AM terminou, alertando que «não se esperem dias melhores, porque eles não vêm».

Foto | Jéssica Moás de Sá

Assinaturas

Torne-se assinante do jornal da sua terra por apenas: Portugal 19€, Europa 34€, Resto do Mundo 39€

Primeira Página

Publicidade

Este espaço pode ser seu.
Publicidade 300px*600px
Half-Page

Em Destaque