No dia 7 de fevereiro realizou-se na Associação Serviço e Socorro Voluntário de São Jorge (ASSVSJ) a palestra SobreViver com o Cancro. O evento resultou de uma parceria entre a ASSVSJ, a Unidade de Saúde Familiar Novos Horizontes e a Farmácia Nogueira, da Calvaria de Cima. Perante uma plateia constituída por mais de 80 pessoas, sete especialistas abordaram o cancro desde a prevenção ao tratamento, passando pelo apoio. Houve, ainda, tempo para ouvir testemunhos de pessoas que estão a lidar com a doença.
A primeira a intervir foi Lurdes Graça, farmacêutica da Farmácia Nogueira, que referiu que «somos o que comemos e por isso devemos fazer escolhas conscientes e saudáveis e dar preferência a alimentos frescos ou o menos processados possível». A farmacêutica deixou o alerta: «Açúcares, óleos hidrogenados e carnes processadas, todos provocam inflamações mesmo que não visíveis. Os açúcares são, aliás, o maior fertilizante do cancro e por isso é urgente diminuir drasticamente o seu consumo». Uma alimentação preventiva do cancro inclui muitos e variados vegetais, frutos vermelhos, ervas aromáticas e especiarias.
A enfermeira da USF, Lina Beato, disse que o primeiro passo para a adoção de um estilo de vida saudável pode começar por ter sopa às refeições ou fazer uma caminhada, mas que não basta mudar, há que ser agente de mudança e passar a mensagem acerca dos fatores de risco que era suposto todos conhecerem, mas que continuam a ser ignorados.
“Não devemos descurar os sinais de alerta”
Mara Galo, médica da USF, referiu os sinais de alerta gerais, como perda de apetite, cansaço fora do normal, perda de peso, suores noturnos, dores que não passam ou que não respondem à medicação, o aparecimento de algum nódulo, frisando, contudo, que na maior parte dos casos não se trata de cancro. De qualquer forma há que estar vigilante e falar com o médico de família sempre que surjam estes sinais. Na pele devemos ter em atenção nódoas negras que se formam com facilidade, pele ou olhos amarelos, ferida que não cicatriza ou um sinal que é diferente de todos os outros na forma, tamanho ou cor. Ao nível da cabeça, convém perceber a origem de dores em quem nunca até aí as teve ou que são agora diferentes do habitual. Alterações súbitas a nível dos sentidos e alucinações visuais também devem ser analisadas. Ao nível do torax, tosse que não passa, sangue na expetoração, rouquidão arrastada ou dificuldade em engolir. Na zona do abdómen, fezes e/ou urina com sangue, alteração dos hábitos intestinais, sensação de que o intestino não ficou vazio depois de evacuar, fezes brancas. Por último, na mulher, sangramento na relação sexual ou hemorrogia após a menopausa. No homem, nódulo nos testículos.
Leonel Santos, outro dos médicos da USF, deu a conhecer os rastreios oncológicos que existem e explicou que são fáceis de fazer e não invasivos. Um rastreio feito a tempo permite baixar a mortalidade em 30% no cancro da mama, 20% no cancro colorretal e 80% no do cólo do útero.
João Freire, oncologista do Instituto Português de Oncologia, explicou, numa perspetiva mais científica, como é que a partir de uma alteração dos genes, em consequência de agentes químicos, físicos ou biológicos, se evolui para um cancro e lembrou que qualquer tumor só é detetado se for maior que uma ervilha mas que graças aos exames imagiológicos há muitos que são descobertos por acaso e numa fase inicial. A confirmação de que de facto estamos perante cancro chega na sequência de biópsia ao tumor.
Doentes têm plano personalizado de medicação
Sandra Almeida, farmacêutica do Hospital de Leiria, explicou que o CHL «é centro de referência no tratamento dos cancros mais comuns», contando com uma equipa multidisciplinar «muito empenhada e coesa e que dá o melhor de si aos doentes», considerando, por sua vez, «fundamental que estes confiem na equipa que os acompanha e no próprio hospital». Uma das vertentes desse acompanhamento é a consulta farmacêutica onde é definido um plano personalizado com os fármacos que vão ser utilizados, as doses e os horários de toma.
A última oradora foi Sónia Leirião, psicóloga do CHL, que começou por dizer que tão importante como cuidar da saúde do corpo é cuidar da saúde da alma e num processo como o cancro «perde-se muita coisa e no final ficamos com aquilo que realmente somos». «Cada um vai descobrir uma pessoa que até aí não conhecia porque o cancro transforma-nos», sublinhou. No seu entender, o cancro deve ser visto como uma doença crónica e por isso a pessoa deve continuar a fazer o seu dia-a-dia o mais normal possível porque a vida tem de continuar e a doença é apenas uma das partes dessa mesma vida.
Sónia Leirião explicou que «é perfeitamente normal sentir-se medo mas devemos pensar antes no “como quero viver agora” e definir um caminho nesse sentido não nos privando do convívio com as pessoas que amamos e nos fazem sentir bem, e das atividades que nos dão prazer». A psicóloga lembrou que «o cancro não se pega» e por isso é importante que os afetos e a sexualidade continuem presentes na vida dos casais mesmo que, nalguns casos, isso possa obrigar a uma adaptação mútua a limitações físicas, consequência da doença. «Não é por estar com um cancro que uma pessoa não precisa de carinho ou que se vai magoar com um beijo ou um abraço, muito pelo contrário!», concluiu.