Ao longo de três dias foram muitas as temáticas abordadas na 5.ª edição da Feira da Saúde e Bem-Estar de Porto de Mós, olhando a diferentes áreas dentro deste tema. No entanto, foi sob o mote Coração Saudável que se realizou esta edição, com várias sessões, palestras e mesas-redondas dedicadas ao coração. O Portomosense esteve num desses momentos.
“Sabe o que faz mal ao coração?”
Dinamizada pela USF Novos Horizontes «em articulação com o grupo de internos das Comunidades Práticas Formativas» de Porto de Mós, Batalha e Marinha Grande, a palestra Sabe o que faz mal o coração? teve como principais tópicos os problemas cardiovasculares mais recorrentes, os fatores que contribuem para estas doenças e a forma de os prevenir. O ataque cardíaco e o Acidente Vascular Cerebral (AVC) «são muito frequentes em Portugal, doenças que podem limitar muito» os pacientes. «Por isso, na USF tentamos controlar, prevenir, para que as doenças não prevaleçam, tentamos que os doentes de risco apareçam nas consultas, de forma a viverem mais tempo sem estes problemas», começou por referir Joana Azevedo, interna de medicina geral e familiar na USF Novos Horizontes, que iniciou a sessão apresentada por mais três médicos internos.
Para esta palestra, os profissionais de saúde “convocaram” um doente fictício, o senhor António, que serviu de exemplo para os fatores de risco destas doenças. Com 77 anos, 82 quilos, 1,61 metros e um Índice de Massa Corporal (IMC) de 30.1 kg/m2 (níveis já de obesidade), o senhor António admitia saber que tinha colesterol alto, mas que não era presença assídua nas consultas. Fuma um maço de tabaco por dia há 30 anos e bebe em média cinco cervejas com os amigos ao final do dia. Faz viagens curtas, mas as que faz, faz de carro. Durante a noite tem tendência para a ronquidão e, por isso, «por causa das queixas da esposa», passou a usar uma máscara para respirar de forma mais adequada.
Os fatores de risco
Se há fatores que não podemos controlar, «como a idade, ser do sexo masculino ou a bagagem familiar» que já trazemos nos genes, há fatores de risco que podemos prevenir e que “o senhor António” não está a ter em conta. Os médicos internos destacaram cinco patologias principais para o aumento de risco de doenças “do coração” – o tabagismo, alcoolismo, dislipidemia, obesidade e síndrome da apneia obstrutiva do sono.
O tabagismo, por exemplo, foi, em 2019, responsável pela morte de mais de 13 500 pessoas. Os químicos «que estão no cigarro» levam a um «aumento momentâneo da tensão arterial e da frequência cardíaca; aumento da viscosidade do sangue; redução da quantidade de oxigénio que chega aos tecidos, nomeadamente ao cérebro», sendo estas apenas algumas das consequências. Quanto ao alcoolismo, além das «perturbações ao nível físico, psicológico e até familiar», aumenta também a tensão arterial, os triglicéridos e leva à miocardiopatia dilatada, que «compromete a função cardíaca». Portugal tem um consumo de álcool «acima da média da União Europeia». Um homem pode consumir até uma cerveja e meia (tamanho de uma imperial normal) e uma mulher apenas uma (voltando ao senhor António, está bem acima deste consumo diário).
Quanto à dislipidemia, que de forma mais simplista tratamos como “colesterol alto”, mede o nível de gordura no sangue (sendo que há dois tipos de gordura, o colesterol e os triglicéridos). Este é atualmente o «primeiro fator de risco para doença coronária e o quarto fator de risco para um AVC». O excesso de gordura no sangue «leva à formação de depósitos (placas) nas paredes das artérias» que, ao ficarem mais rígidas, sobrecarregam o coração, «que tem de “fazer mais força” para que o sangue chegue a todo o corpo». Além disso, «compromete a entrega de oxigénio e nutrientes aos tecidos».
A obesidade é «um problema atual de saúde pública» que afeta, em Portugal, mais de 50% das pessoas com mais de 18 anos, segundo o Instituto Nacional de Estatística. Para chegar ao IMC e avaliar o grau de obesidade de um utente é medida a relação entre o peso em quilos e a altura em m2 e sempre que for igual ou superior a 30, o utente está num nível de obesidade. Por fim, os médicos falaram na síndrome da apneia obstrutiva do sono, uma síndrome que afeta 936 milhões de pessoas entre os 30 e os 69 anos em todo o mundo. É caracterizada por «pausas respiratórias através do bloqueio das vias respiratórias» durante o sono, aumentando o risco de hipertensão, «que por sua vez aumenta o risco de arritmias e até mesmo insuficiência cardíaca».
Apesar de serem patologias diferentes, o estilo de vida, onde se inclui uma boa alimentação, uma boa higiene do sono e, a prática de exercício físico são fatores que previnem todas elas. Parar de fumar e consumir álcool de forma moderada «é essencial». Os médicos frisaram que, em consulta, podem dar alguns truques de forma a que os pacientes possam ir mudando os seus hábitos, tal «como o senhor António vai fazer»: «O senhor António voltou à consulta e prontificou-se a reduzir os consumos maléficos, a andar mais a pé e a deixar de fumar».
Fotos | Jéssica Moás de Sá