O vento, um movimento de ar atmosférico, tantas vezes alvo de desprezo e rejeição é para Dário Ruivo, de Leiria, e David Allen, de Ansião, o “maior aliado”. Não fosse o facto de ser um elemento imprescindível para a prática de um desporto a que, há largos anos, decidiram dedicar-se.
Falamos dos carros à vela, uma modalidade que pode ser desenvolvida em areia, terra ou alcatrão e que corresponde a um carro com três rodas e uma vela. Foi precisamente a abundância de vento em São Bento, no concelho de Porto de Mós, que proporcionou a criação de uma pista, inaugurada no passado dia 24 de novembro, como noticiou O Portomosense na edição 907.
Esta modalidade desportiva que, como tantas outras, exige provas e campeonatos, ainda é por cá pouco conhecida, no entanto, encontra-se em franca expansão. Em Portugal, pode-se dizer que “os ventos mudaram” em 2017, altura em que a primeira equipa portuguesa, composta por Dário Ruivo e David Allen marcou presença no 52.º Campeonato Europeu de Carro à Vela, na Irlanda. A dupla confessa que ficou surpreendida com o espírito que por lá encontrou, até com o próprio juiz da prova que ao ver a bandeira mal colocada optou por não desclassificar: «O espírito da vela é muito este: de ajuda», atira Dário Ruivo.
Com o regresso, veio também a ideia de criarem uma associação, mas a concretização não foi fácil. Várias portas se fecharam, com as associações a criarem dificuldades ao avançar do projeto, excetuando uma: o Núcleo de Espeleologia de Leiria (NEL). Foi assim que nasceu o NEL Pédevento, uma secção que se dedica «exclusivamente aos carros à vela» e que conta, atualmente, com oito pessoas que velejam frequentemente.
A ideia de se criar a pista no antigo campo de futebol de São Bento surgiu através de um colega e foi, de imediato, aceite. «Nós adorámos o espaço. O vento é um fator garantido e as condições da pista são muito boas», refere Dário Ruivo, de 43 anos. Além disso, recorda que foram logo «muito bem» recebidos pelo Clube Desportivo de São Bento.
“Gostávamos de ter alguém de Porto de Mós [inscrito]”
Hoje em dia, cerca de uma vez por mês, a dupla desloca-se à escola como forma de praticar o desporto e responder às solicitações das pessoas. Apesar de haver datas agendadas não é garantido que a sua realização seja levada avante: «A dependência em relação ao vento é o ingrato deste desporto», explica.
Dois anos e meio passados desde a criação do NEL Pédevento, o objetivo continua a ser tornar o carro à vela um desporto como qualquer outro através da criação de cursos de «nível 1, 2 e 3», que vão desde o batismo até à competição. Dário Ruivo considera que esta distribuição por níveis de conhecimento faz com o grupo seja pioneiro. E justifica: «Noutros países, se chegas a uma escola e dizes que queres ser velejador, eles dão-te as bases e depois tens que te desenrascar», explica.
Para conduzir um carro destes não é preciso reunir requisitos especiais, sendo uma modalidade acessível a pessoas de várias idades, das mais pequenas às mais velhas. Incluindo pessoas de mobilidade reduzida. Em São Bento, a maior parte dos velejadores tem entre 30 e 40 anos. Contudo, nenhum é do concelho. «Gostavámos de ter alguém de Porto de Mós. É uma luta que temos tido», desabafa. Apesar disso, confessa que os portomosenses costumam aderir aos dias abertos.
Sobre o valor investido na prática da modalidade, Dário Ruivo entende que este «não é um desporto caro», justificando com o facto de que já tem uma vela há 14 anos, que continua a usar. E adianta que um «carro novo com uma boa vela» pode chegar aos «1 600 euros».
Com uma vida sempre ligada ao desporto, Dário Ruivo confessa que gosta de aliar a aventura ao contato direto com a natureza. «Costumo dizer que a serra é o myspace porque posso fazer de tudo», conta.