Catarina Correia Martins

O estado de saúde da Saúde

18 Abr 2023

Depois de tantos caracteres escritos, neste e noutros jornais, sobre o estado da saúde em Porto de Mós, eis que, no final da semana passada, surgiu um comunicado com uma nova voz. Até aqui, as reclamações vinham de autarcas e utentes, com mais problemas que soluções. Desta vez, o assunto foi puxado por outros intervenientes, os profissionais de saúde, neste caso a nível local. A coordenadora da Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados de Porto de Mós (UCSP) veio dar a cara para dizer que, no fundo, não pode fazer mais, nem ela, nem os que a acompanham na hercúlea tarefa de zelar pela saúde dos portomosenses.

Se os médicos que servem no nosso concelho fazem o máximo ou o mínimo, não sei. Se se preocupam com os utentes ou cumprem horário, desconheço. Se são grave e frequentemente insultados quando pouco ou nada podem fazer, também não sei. Se os utentes têm sempre razão ou, muitas vezes, só falta de paciência, não posso responder. Mas sei que no Serviço Nacional de Saúde, e certamente em Porto de Mós, há bons profissionais, que se esfalfam pelos seus utentes, que trabalham fora de horas, que atendem telefonemas, que respondem a e-mails, que acedem a quem quer “dar só uma palavrinha”. Sei que os há, conheço alguns e acredito que estejam extenuados, exaustos e até frustrados. Por isso, e porque, de facto, não conheço, não questiono a veracidade de tudo o que a doutora Ana Maria Henriques diz naquele comunicado, que remeteu para inúmeros endereços, entre os quais o nosso, e que tratámos para dar a conhecer aos nossos leitores (na última página desta edição).

É um facto que as coisas não podem continuar como estão. E é também verdade que os utentes estão já saturados de terem que mover mundos e fundos sempre que têm uma dor de barriga e precisam de ser vistos por um profissional. Mas qual é o caminho? Não sei. As manifestações têm-se mostrado pouco frutíferas e os utentes de um concelho tão pequeno como este parecem ter pouca força quando decisões governamentais são tomadas. Porém, enquanto tudo isto acontece, há vários milhares de pessoas que não têm os cuidados devidos, que se veem privados de um direito tão essencial como ser assistido quando a sua saúde assim o pede.

Desta vez, a voz é da coordenadora da UCSP, mas da próxima pode ser a minha ou a sua. Não sei bem o que se pode fazer, só sei que assim ninguém mais pode continuar.