José Henrique Rosário já foi outrora apresentado nas páginas de O Portomosense. Praticou atletismo em estrada durante vários anos, o que o notabilizou como um dos melhores atletas do concelho. Depois de uma paragem de oito anos, voltou ao desporto através do trail, uma modalidade que o ligou ainda mais à Natureza. Os trilhos são agora os caminhos pelos quais se move à procura de superação e é precisamente sobre os trilhos que falamos com o atleta.
É um dos desportistas, embora frise «não ser o único», que procura “abrir caminho” e explorar novos trilhos para que novos lugares e paisagens estejam à disposição de quem queira fazer-se aos quilómetros por serras e vales do concelho. «As pessoas acabam por andar sempre pelos mesmos caminhos, pelas estradas ou trilhos já abertos pela Câmara ou Juntas, mas eu não gosto da ideia de fazer sempre os mesmos trilhos, há muitos locais bonitos por explorar», explica. É com esta motivação, de “fazer o que ainda não foi feito”, como já dizia Pedro Abrunhosa, que de «há dois anos» para cá tem encontrado na limpeza dos trilhos um dos seus passatempos, para onde leva «principalmente amigos ou atletas» com quem treina. Não são trilhos oficiais, até porque José Henrique Rosário sabe que não os pode partilhar como tal, mas são caminhos que vai descobrindo e que mesmo sem fazer por isso têm chegado a outras pessoas. «O que acontece é que eu vou a sítios novos com amigos que depois partilham com outros ou há pessoas que fazem o caminho e depois partilham nas aplicações que existem e depois as pessoas vão descobrindo assim», conta. José Henrique Rosário lamenta que muitas pessoas explorem outros concelhos, que os admirem e que «cá dentro não conheçam nada ao pé da porta», precisamente «por não explorarem».
O atleta, que no último ano fez uma paragem no trail (sobretudo por causa da COVID-19), dedicando-se às caminhadas, não consegue eleger um lugar do concelho como o melhor e o mais bonito para desenvolver esta atividade, porque, diz, «no nosso concelho é tudo bom e bonito» e é por isso que lamenta a falta de aposta em novos trilhos por parte das autoridades públicas. «Há muita gente no concelho a abrir trilhos, individualmente ou nos clubes, para algum evento, e é pena que a Câmara e as Juntas não apoiem essas pessoas. Nem estou a falar de dinheiro, mas mesmo a abrir e a manter as coisas», salienta José Henrique Rosário. O desportista diz que além de ser uma forma «de as pessoas ficarem a conhecer outras coisas, de andarem pela serra, é também uma forma de, por exemplo, em caso de incêndio, o espaço estar mapeado e os bombeiros irem mais rápido aos locais porque há um trilho». Estando parte dos trilhos em zona protegida do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, colocam-se ainda mais problemas, «porque é muito difícil conseguir autorizações» para mapear oficialmente alguns destes trilhos.
“O baloiço do Resinga”
Pode dizer-se que os baloiços em paisagens naturais já não são estranhos a ninguém, uma vez que por todo o país são várias as autarquias que têm aproveitado as suas paisagens para construir um baloiço e ganhar assim mais um ponto de atração para visita e claro, para a fotografia. José Henrique Rosário seguiu a tendência e também construiu um baloiço no concelho, mas direcionado a um público muito específico. «Eu primeiro comecei por fazer um trilho a que chamei O trilho da Cornuda que tem início no Catadouro, Rio Alcaide. O “baloiço do Resinga”, como o intitulou, fica a uns 300 metros, mas não é para toda a gente, é para quem esteja habituado a caminhar, porque as pessoas vão para os baloiços de carro e, às vezes, de salto alto, e ali não é possível», explica. «Eu sei que as pessoas que vão para aquele baloiço são pessoas da Natureza, da corrida e da caminhada, que não deixam lá lixo», acrescenta.
E como nasceu este trilho? «Foi uma brincadeira do confinamento, não existia nada naquele sítio, ao longo do rio. Agora no verão não é tão bonito, mas no inverno, com água, fica muito bonito e há poucas pessoas que conheçam aquela parte do rio», explica. E o nome “Cornuda”, vem de onde? «Eu tive lá um acidente, fui mordido por uma cobra cornuda, é a única cobra venenosa que temos aqui e como eu gosto de brincar e apanhar as cobras, tive esse incidente e daí o nome do trilho». Não sabemos se pelo nome ou não, o que é certo é que este trilho tem sido um sucesso: «Tenho trilhos em que tenho de fazer manutenção e este não tem fechado porque vai lá muita gente» sublinha.