As memórias de visitas ao mercado da nossa terra perduram na nossa mente desde pequenos. Aquela visita ao mercado com os nossos pais ou avós encontrava sempre um festival de barulhos, cores e cheiros.
Os pregões e as conversas entre os comerciantes e os clientes criam aquele burburinho viciante que nos transporta ao longo do tempo. O mercado é um lugar onde a energia é palpável, com vendedores entusiasmados e compradores curiosos a explorar as bancas.
Os vendedores criam verdadeiras relações de proximidade com os clientes, proporcionando uma sensação de calor humano e conexão com a comunidade. Vendedores que conhecem os gostos e necessidades de cada cliente como ninguém, que guardam aquele produto para o cliente especial que acaba sempre por levar mais qualquer coisa a acompanhar.
Os tons vibrantes de frutas e vegetais frescos, com uma explosão de cores, de frutas e vegetais de todos os tipos. O brilhante das sardinhas e os vermelhos das carnes geram contrastes, cujos registos ficam connosco ao longo dos anos.
O aroma fresco de frutas maduras, com o seu perfume doce e suculento. Laranjas, maçãs e pêssegos, que despertam o apetite, ervas aromáticas e especiarias como o alecrim, manjericão, canela e outras iguarias que dão sabor à culinária local. O cheiro salgado do peixe fresco e o aroma a pão fresco também se juntam a este festival. Verdadeiros, autênticos e únicos sabores locais!
O mercado é também um local de encontros, com os vizinhos, os amigos e a família. Sobretudo para os mais idosos, que muitas vezes podem viver mais sozinhos, encontram no Mercado um sítio de convívio, de partilha e de conversa. Este cenário desperta certamente memórias!
Mas não foi nada disto que encontrei quando me desloquei há duas semanas ao renovado Mercado de Mira de Aire, com o meu filho de quatro anos.
Mercado praticamente vazio, com três ou quatro bancas a funcionar e outros tantos clientes no edifício. Todas as lojas, excepto uma, ainda por ocupar… A desilusão não podia ter sido maior!
As razões para tal “abandono” são várias: alguns comerciantes que tinham loja ali, que foram deslocalizados durante as obras, preferiram não voltar. Outros optaram mesmo por encerrar o negócio definitivamente. Outros, com negócios inovadores, optam por outros mercados e feiras com maior movimento.
Fala-se de aumento de custos, de custos de instalação e de falta de condições (para bancas de peixe por exemplo).
Encontramos neste jornal notícias de outubro de 2022, aquando da sua inauguração, com o título “Mercado de Mira de Aire “devolvido à população””. Neste mesmo artigo encontramos: «objetivo é poder abrir o mercado diariamente» e não apenas ao sábado, pretendendo-se que seja «um espaço quase de fim de linha para quem visita as Grutas…» Ora, decorrido um ano após a sua inauguração, importa questionar aos nossos autarcas o que foi feito para dinamizar aquele local? Quais são os planos?
O Mercado, importante ponto económico, comunitário, de partilha e cultural, onde está?