O “espírito natalício” não é igual para todos. Uns vivem fervorosamente esta altura do ano e começam a pensar na árvore de Natal ainda em novembro, outros vão sendo invadidos aos poucos pela quadra. Para quem já não tem independência é mais difícil controlar a forma como vive o Natal e exemplo disso são os utentes dos lares. Com a ajuda das diretoras técnicas de três instituições do concelho, percebemos melhor a forma como o Natal é vivido neste contexto e em diferentes regimes: Estrutura Residencial, Centro de Dia e Apoio Domiciliário.
Teresa Filipe, diretora técnica do Abrigo Familiar Casa de São José de Mira de Aire e Ana Sampaio, com o mesmo cargo no Solar do Povo do Juncal, têm utentes a viver diariamente na instituição e ambas revelam um esforço por transformar o mês de dezembro num mês especial. Embora haja «um antes e depois da pandemia», a verdade é que o Natal continua a ser assinalado. «As decorações da instituição são feitas no início do mês com a ajuda dos idosos, fazemos um presépio, a árvore de Natal, tal e qual como se fosse numa casa particular», explica Teresa Filipe, frisando que esta prática se manterá este ano. No dia 24 a lógica continua a ser a mesma, aproximar a tradição do que se faz na casa de cada um: «Há comidas tradicionais, especialmente o bacalhau na consoada e outro prato típico no almoço de Natal. Fazemos os fritos e doces habituais desta época e fazêmo-lo desde sempre», revela ainda a responsável pela instituição mirense.
Ana Sampaio tem testemunho semelhante.«Habitualmente enfeitávamos a instituição, colaborávamos com todas as atividades que existiam a nível da Câmara e da Junta, em termos de presépios e árvores de Natal. Os utentes ajudavam a enfeitar a instituição, colaboravam os que gostavam de estar envolvidos, um verdadeiro espírito natalício», explica. No entanto, num ano em que se pensava que isto poderia voltar, a instituição juncalense, ao contrário das outras, continuou privada desta tradição devido a um pequeno surto de casos. «Este ano vamos enfeitar um pouco mais que o ano passado mas infelizmente no dia 24 de novembro surgiram-nos três casos positivos e por isso mantivemos essas atividades em stand-by, depois surgiram-nos mais dois. Ou seja, desde esse momento tivemos cinco casos em utentes, não houve nenhuma funcionária positiva. Felizmente não houve sintomas graves, está tudo tranquilo», revela Ana Sampaio. O que não vai faltar, garante, são as ementas natalícias. «No jantar de 24 há sempre o bacalhau com as couves e batatas, os fritos e o bolo-rei e no dia 25 já fizemos leitão, peru, borrego, vamos rodando, mas continuamos sempre com os fritos, o bolo-rei e temos uns bombons para lhes dar nesta altura», explica.
O que não se vai realizar, pelo menos no mesmo formato, são as habituais festas de Natal que as instituições fazem. «Normalmente fazíamos a festa antes do Natal com as colaboradoras, idosos e famílias, este ano será só interno, só com os idosos e colaboradoras. Vamos ter missa [na capela da instituição] da parte da tarde e depois um lanche convívio com algumas apresentações», revela Teresa Filipe. As visitas dos familiares poderão ser feitas no dia 24, no dia 25 «ainda não se sabe», acrescenta a diretoria técnica da instituição de Mira de Aire. A responsável acredita que os utentes e também as funcionárias vivem muito o espírito: «Isto acaba por ser uma família, as funcionárias estão aqui muito tempo, conhecem-nos, têm relações próximas com os idosos».
No lar do Juncal a situação é idêntica. À semelhança do ano passado as visitas dos familiares não vão ser possíveis no dia 25 de dezembro por ser impossível fazê-lo de uma forma controlada. Os familiares eram também parte da Festa de Natal, que este ano não se vai realizar. «Em relação à noite de Natal, antes da pandemia, muitos utentes saíam e passavam-na na casa dos familiares, agora isso não é possível», revela. A missa dentro da instituição não se vai realizar de forma presencial, celebração que normalmente acontecia «na semana antes como já era habitual». Uma das tradições que se vai manter em ambas as instituições é a distribuição de presentes pelos idosos e funcionárias.
A realidade de um Centro de Dia
Apesar de não ter utentes a dormir e a viver na instituição 24 sobre 24 horas, a realidade no Centro de Dia de Casa do Povo do Alqueidão da Serra não é tão diferente assim. A diretora técnica da instituição, Anabela Simões, explica as tradições de Natal: «Todos os anos fazemos a festa de Natal, isto até ao ano passado. A festa é normalmente no dia 23 e trazíamos para cá também os utentes em apoio domiciliário, aqueles que gostem e possam vir. Normalmente tínhamos a missa e depois um almoço melhorado com a comida característica da época, ou o bacalhau ou o peru. Depois, um momento de teatro e outro de música alusivos ao Natal», conta. A juntar a isto havia ainda a distribuição de prendas pelos idosos e funcionárias e um lanche partilhado para depois regressarem a casa».
«De há dois anos para cá não podemos fazer assim. O que fizemos no ano passado, foi assinalar de uma forma mais simbólica. Com um almoço, com a distribuição das prendas e um pouco de música alusiva ao Natal», revela Anabela Simões, que este ano deverá repetir a fórmula. Um dos aspetos que falta em relação à realidade pré-COVID é a presença «de pessoas da comunidade» que se juntavam à festa. Quanto à decoração, essa, mantém-se. «Já temos a árvore de Natal feita, o presépio lá fora e normalmente até se fazia um cartão para mandar para os utentes em apoio domiciliário, este ano não fizemos», explica. As refeições entregues a estes utentes, que estão nas suas casas, é também reforçada. «No Natal reforçamos sempre as refeições e enviamos os nossos coscorões, filhoses, o bolo-rei e o arroz doce», conclui.