Catarina Correia Martins

O papel de cada um

26 Jul 2022

Trazemos, nesta edição, a “celebração” dos 30 anos de sacerdócio de dois padres a “operar” no nosso concelho, Vítor Mira e José Alves. Tive o prazer de fazer este trabalho e, por via dele, conversar com estes dois homens que acreditam fazer a missão que Deus lhes confiou. E que boas conversas foram. Não aquelas conversas rápidas que, por vezes, temos, em que é um jornalista a falar com a sua fonte para obter informação sobre determinado assunto ou evento, mas uma conversa de escuta atenta, de ouvir a história do outro, de lhe conhecer os meandros. Sou crente, católica praticante, sou dirigente do Corpo Nacional de Escutas e já fui catequista, mas creio que qualquer pessoa que goste de histórias e de pessoas teria entrado de cabeça nestas duas conversas e tê-las-ia apreciado de igual forma. Naquele momento, eu tomei consciência (ou voltei a tomar) de que o padre faz mais do que celebrar missas, casamentos e batizados. Cada padre que tente cumprir pelo melhor a sua missão, terá um papel fundamental na comunidade em que está.

Estes dois casos são prova disso mesmo, cada um na sua medida e na sua escala. José Alves, pelas comunidades onde passou, deixou um rasto inegável, com a criação de associações que se prolongam além do seu tempo nas paróquias em que esteve ao serviço e que terão, para sempre, o seu nome, inscrito na fundação. Já Vítor Mira foi além fronteiras e é, com certeza, lembrado na Diocese do Sumbe, em Angola, por tudo o que lá deixou materialmente, mas por todas as mentes e personalidades que ajudou a formar.

Com certeza haverá quem ache exagerado o que aqui escrevo e acho possível que até os próprios não considerem de muito sentido este meu editorial, porém a reflexão a que estas conversas me levaram foi tão interessante, para mim, que não podia deixar de partilhá-la.

De facto, cada um de nós, seja qual for a função que desempenhe, tem o seu papel no mundo e pode fazer a sua parte. Às vezes, a parte que queremos fazer é tão grande, que ficamos assoberbados e nem nos atrevemos a começar. Todavia, não menos vezes, é nas pequenas coisas que deixamos a nossa marca. É nos pequenos passos, nas pequenas decisões, nos pequenos apoios, ajuda, naquela palavra de incentivo ou na presença que marcamos que mostramos aos outros o nosso papel, o quão fazemos a diferença, a importância do que dizemos. Estas duas pessoas, sem fazerem nada de extraordinário, apenas partilhando comigo a sua história, deixaram a sua pequena marca em mim.