Vindos da Ucrânia para Portugal, foram muitos os refugiados que se viram obrigados a sair do seu país por causa da guerra, deslocando-se para outros lugares à procura de alguma paz e segurança. Verónica Khaletska, uma das milhares de vítimas do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, veio para Portugal e diz estar agora «a começar do zero». A cidadã estrangeira, que passou a integrar a equipa do Centro Paroquial de Assistência do Juncal (CPAJ), revela estar satisfeita pela oportunidade de trabalho e acrescenta que, apesar de não dominar a língua, vai conseguindo comunicar de outras formas.
O Portomosense foi ao encontro desta ucraniana, que está atualmente a morar no Juncal, e com a ajuda imprescindível de Oleg Khrobatyn, que está já há 22 anos em Portugal, pudemos perceber como está a ser o processo de adaptação de Verónica Khaletska ao país, à língua e à nova cultura. Acompanhada pelos filhos e por mais alguns membros da família, Verónica Khaletska admite estar focada no presente e no futuro e, por isso, elaborou uma lista de objetivos, onde delineou o trajeto pessoal e profissional que pretende percorrer agora por terras lusitanas.
«Tivemos muita sorte», foi assim que começou por descrever a sua chegada a Portugal, onde diz ter sido «muito bem acolhida». Está a ser acompanhada desde que chegou por uma funcionária da segurança social, Carina Morais, que ficou responsável por ajudar na documentação, na integração dos filhos de Verónica na escola e foi ainda quem lhe arranjou um trabalho no CPAJ. Verónica Khaletska conta que a sua primeira morada em Portugal, também no Juncal, foi em casa de Sandra Leitão, alguém que considera ter sido uma «ajuda crucial» para se conseguir estabilizar no país.
A luta pela independência em Portugal
Passados cerca de cinco meses desde a sua chegada, consegue sentir-se mais independente, agora que saiu de casa de Sandra e está a morar com a sua família no Juncal. Com os filhos na escola e com um trabalho que se relaciona com aquele que tinha na Ucrânia, Verónica diz sentir-se bem e feliz, sobretudo pelos filhos estarem «finalmente seguros» e isso, para ela, é motivo de «felicidade».
Verónica Khaletska era psicóloga na área infantil, trabalhava com crianças com dificuldades no desenvolvimento físico e mental, e admite estar empenhada em conseguir exercer a sua profissão em Portugal. Para isso, reconhece que terá de ultrapassar alguns obstáculos relacionados com a língua, seguindo depois para o próximo passo: conseguir equivalência da sua profissão. No CPAJ, continua a ter contacto diário com crianças, o que de certa forma se aproxima do trabalho que desenvolvia na Ucrânia. A ucraniana auxilia a colega de sala nas tarefas do dia-a-dia, como alimentar, mudar a fralda e brincar com o grupo. Verónica Khaletska está muito grata por estar ali e diz até que, embora não domine o português, ela e a colega conseguem entender-se «muito bem», através de palavras-chave, palavras simples e repetidas que Verónica vai adquirindo ao longo do tempo, tornando-se, assim, mais fácil conseguir aprender. Ainda assim, está focada em tornar a comunicação ainda mais rica, por isso está a frequentar um curso básico de língua portuguesa no concelho e pensa frequentar ainda outro que lhe foi recomendado. A ucraniana está motivada em ficar em Portugal e, para além de ambicionar exercer psicologia no país, Verónica Khaletska pretende ainda tornar-se uma cidadã portuguesa e «construir uma vida em família aqui».
Língua Portuguesa: um desafio a superar
A língua é apontada como a principal barreira para Verónica, que ainda não lhe permite sentir-se «como peixe na água», dificultando de alguma forma o processo de integração. Para já, Verónica Khaletska não pretende regressar à Ucrânia e o foco é trabalhar para a sua independência em Portugal, juntamente com a sua família. Os filhos de Verónica Khaletska, Anastasia e Oleksandr, estão a adaptar-se ao país, no entanto, para a filha tem sido mais difícil o processo por ser adolescente, «por ter deixado muitos dos seus amigos e, mais uma vez por estar num país com uma língua tão distinta da sua língua materna», refere. A mãe conta ainda que para o filho Oleksandr «tem sido mais fácil» o processo de integração por ter o primo por perto, na mesma escola. A mulher realça ainda que foram bem acolhidos pelos colegas na escola e que nunca sentiram qualquer tipo de discriminação, muito pelo contrário, sublinha.
Verónica Khaletska diz sentir-se feliz em Portugal e que a sua luta diária agora consiste em deixar a carga do passado para trás, não esquecendo o que aconteceu, mas tentar ao máximo desligar o pensamento dos momentos trágicos e de dor, focando-se no seu caminho em Portugal. O que ficou para trás, essencialmente «a casa e os amigos, não se recupera, mas vai-se tentando compensar a saudade com conversas online e videochamadas», de resto, o «caminho é para frente» e, por isso é importante pensar nesse sentido, frisa Verónica Khaletska, admitindo que Portugal tem três coisas que adora: mar, marisco e comida mediterrânica.
CPAJ apoia missão de ajuda aos refugiados ucranianos do Município
«Integrar a Verónica na comunidade para que rapidamente conseguisse obter uma fonte de rendimento e se sentisse acarinhada pelo meio envolvente», foi o principal objetivo do CPAJ ao receber a refugiada ucraniana nas suas instalações, avança a diretora técnica de creche, Marta Silva em declarações a O Portomosense. A responsável refere ainda que a instituição está bastante satisfeita com o trabalho de Verónica Khaletska, que se mostra todos os dias muito empenhada na aprendizagem da língua e na execução das suas tarefas com as crianças.
O CPAJ está inserido num projeto do Município de Porto de Mós que tem como missão apoiar refugiados ucranianos no processo legal e na sua integração social e, por isso, acolheu a cidadã estrangeira na sua equipa. Verónica Khaletska é neste momento «ajudante de ação educativa numa sala de berçário», e tem sido apoiada por toda a comunidade do CPAJ, também com «bens alimentares, roupa, entre outros apoios», conta Marta Silva. Verónica Khaletska é uma «pessoa proativa, calma e simpática», descreve a diretora técnica de creche. Marta Silva acredita, pelo feedback que vai recebendo da ucraniana, que Verónica Khaletska, «está feliz com a oportunidade e que se sente acarinhada pelos colegas de trabalho».
Fotos | Rita Santos Batista