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O prazer dos livros cabe numa carrinha

3 Junho 2019
Catarina Correia Martins

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Catarina Correia Martins

3 Jun, 2019

Foto: Catarina Correia Martins

Há 14 anos que, todas as semanas, a Biblioteca Municipal sai de portas e vai ao encontro dos leitores, levando-lhes os livros “a casa”. Durante uma manhã, O Portomosense acompanhou a biblioteca itinerante Bibliomóvel, que visita escolas, lares, centros de dia e faz uma ou outra paragem em locais públicos para que todos tenham acesso.

Ana Valente é a responsável pelo serviço e a condutora da característica carrinha branca. Às 9h30 da passada terça-feira, entrávamos no portão do Centro Escolar de Pedreiras para iniciar o primeiro serviço da semana. A rotina para receber as crianças começa com a preparação da própria carrinha: tirar as barras protetoras que impedem os livros de cair durante a viagem e preparar o sistema informático para “dar baixa” dos livros entregues e proceder à requisição de livros novos.

Era dia da visita ao pré-escolar – que neste Centro Escolar se faz quinzenalmente – e o primeiro passo é a entrega dos livros anteriormente requisitados. Educadoras e auxiliares recolhem os livros entregues pelas crianças e devolvem-nos à Bibliomóvel ainda antes dos pequenos leitores chegarem para fazer novas escolhas. Como o processo pode ser algo moroso, as crianças são “poupadas” a este passo e ficam só com a parte divertida: mexer nos livros e escolher o predileto.

Cumprido este primeiro requisito, chega a primeira turma. Ordeiramente, meia dúzia de alunos entram na carrinha e com a ajuda de Ana Valente, começam a pegar em livros. Para alguns, é “amor à primeira vista”, noutros casos é preciso sentar nos almofadões dispostos no chão, para o efeito, folhear o livro e perceber se as imagens valem ou não a pena. Escolhida a sua próxima leitura, os alunos colocam-se em fila, com o cartão da biblioteca previamente guardado no bolso e aguardam a sua vez para requisitar mais uma história. E assim se processou toda a manhã, com três turmas de pré-escolar, constituídas por algumas dezenas de crianças.

Foto: Catarina Correia Martins

À conversa com as educadoras, percebemos que todas consideram o projeto «muito importante, para as crianças e para a família», já que é uma «oportunidade de contactarem com muitos livros, de os levarem para casa, aprenderam a estimar», como referiu Ana Fernandes, educadora, atualmente com a turma dos 3 anos. Confessa que é «muito intrometida» quando os seus alunos estão a escolher os livros porque quer «que escolham livros interessantes»: «À medida que vão crescendo, vamos-lhe dando um livro que contribua para o seu desenvolvimento, que esteja de acordo com a sua idade, com aquilo que precisam de ouvir…», explicou. Maria do Rosário Vazão, outra das educadoras, esta com a turma dos 4 anos, que salienta o aspeto da autonomia, pelo facto de poderem ser as crianças a escolher, de terem a responsabilidade de, durante aquele período de tempo, guardarem o seu cartão, assim como de levar e trazer o livro em bom estado.

«Temos biblioteca na escola, mas é constituída pelos livros que já tínhamos nas escolas e que juntámos quando viemos para o Centro Escolar. Apesar de termos bastantes livros, também são requisitados pelos alunos do primeiro ciclo e são sempre os mesmos. A Bibliomóvel é uma lufada de ar fresco, com livros novos, que eles podem levar para casa», contou-nos a coordenadora do Centro Escolar e educadora com a turma dos 5 anos, Sílvia Fino. Além disso, aponta este serviço como um agente que fortalece «a relação das crianças com os livros» já que, muitos alunos, antes de escolherem «sentam-se um bocadinho na carrinha, folheiam o livro, vêem se gostam ou não e às vezes folheiam três ou quatro até chegarem ao que querem [levar]», afirma.

Com a visita a chegar ao fim, é tempo de inverter todos os processos feitos no início: arrumar os livros que as crianças deixaram fora do sítio, desligar o computador e “fazer as malas” para rumar a outra paragem. A viagem d’O Portomosense terminou por aqui, mas a Bibliomóvel continuou, nessa tarde, a distribuir livros e sorrisos noutra zona do concelho. E à semelhança desse dia, outros se seguiram até a semana terminar e começar uma nova, com as viagens a repetirem-se e os livros a renovarem-se.

Projeto sofre ajustes ainda este ano

Esta biblioteca itinerante existe desde 2005, num projeto financiado pelo programa LEADER. «É um serviço que a biblioteca pública presta a todos os cidadãos que vivem em zonas distantes» da sede de concelho, onde está implantada a Biblioteca Municipal, explica a O Portomosense a diretora, Margarida Vieira, acrescentando que é possível, assim, «alcançar públicos que, de outra forma, não teriam acesso à leitura». Como o objetivo é chegar ao maior público possível, os livros são escolhidos «de acordo com as necessidades dos utilizadores».
Até ao final do ano, serão introduzidas algumas alterações ao serviço. A intenção é percorrer todas as freguesias, «oferecendo outras valências, por exemplo serviços de atendimento ao cidadão, internet, entre outros», adianta a diretora. «É nosso objetivo ir ao encontro das necessidades dos nossos munícipes, facilitando-lhes através deste equipamento, outro tipo de serviços. Estamos focados nas pessoas, são elas que fazem a Biblioteca, devemos estar atentos aos seus interesses e corresponder às suas expectativas», termina.

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