Obras da Escola Secundária de Porto de Mós: Novo ano traz “alterações profundas” na dinâmica escolar

20 Dezembro 2024

Jéssica Silva

11 de dezembro, 10 horas. Dirigimo-nos à entrada da Escola Secundária de Porto de Mós, dizemos ao que vimos e desde logo uma funcionária exclama, com ar satisfeito: «Há 20 anos que se fala destas obras e finalmente estão a avançar!». Entretanto, o diretor do Agrupamento de Escolas de Porto de Mós (AEPMOS), Pedro Gil Vala, junta-se a nós e, munido da Planta de Estaleiro, impressa numa folha A4, inicia a visita às obras de requalificação e ampliação da instituição, quase 50 anos depois da sua construção. Começamos por percorrer um corredor ladeado por uma vedação, onde são visíveis diversas placas que indicam o caminho a seguir. Pouco depois, há mais uma funcionária que após um cordial “bom dia” dirige-se ao diretor do AEPMOS e olhando, quase comovida, para a maquinaria pesada em funcionamento, não resiste em dizer: «A nossa escolinha vai ficar cinco estrelas…». 

Passou um mês desde o início dos trabalhos na Escola Secundária de Porto de Mós. Trabalhos que nem o frio que se faz sentir nessa manhã parece perturbar os funcionários da empresa responsável pelas obras, que com a ajuda de uma retroescavadora arrancam mais uns enormes pedaços de piso, junto à entrada. «Estão a preparar o terreno, a limpar, e já estão a intervencionar no primeiro pavilhão, o mais pequenino, para depois começarem a construir o edifício que terá rés-do-chão e primeiro andar», refere. Nesse edifício, além «das salas de aulas, haverá cozinha, refeitório, toda a parte administrativa, biblioteca, um auditório com capacidade, penso, para 150 pessoas, e laboratórios». 

Por enquanto, as obras ainda não estão a ter grande impacto naquela que é a dinâmica escolar, pelo menos essa é a convicção de Pedro Gil Vala: «Estão a decorrer com normalidade. Até agora, esse impacto ainda não se faz sentir porque estamos à espera de haver um nível de obra mais intenso, com mais movimentações, mais ruído e mais restrições». Por isso, considera, a adaptação da comunidade escolar à nova realidade tem sido positiva: «Estamos todos alinhados nesta vontade de termos uma escola nova e estamos dispostos a ter alguma alteração mais drástica do nosso quotidiano mas é por um objetivo maior». Os alunos, tal como os pais, garante, estão «expectantes». «Estão à espera de ver o sonho concretizado, de termos uma escola moderna e capaz de dar resposta às exigências atuais do sistema de ensino. Isto também é projeto educativo e terá uma cota importante no sucesso», considera.

À medida que vamos avançando, o diretor do AEPMOS explica que todas as obras vão ser realizadas «em simultâneo», pelo que está prevista a «instalação de seis salas-contentor», cada uma com capacidade para 28 alunos, onde terão aulas aqueles cujo pavilhão onde costumam ter aulas esteja ser requalificado. À medida que um pavilhão estiver pronto, os alunos que estavam, até esse momento, numa sala-contentor serão substituídos por outros, dos outros pavilhões a serem intervencionados. «Os alunos que saem daqui, vêm para aqui e assim sucessivamente. Vai-se fazendo este jogo», explica Pedro Gil Vala, recorrendo ao Plano de Estaleiro, para demonstrar, em termos práticos, como será feita essa gestão.

Obras obrigam a mudar local dos exames nacionais

Se, por estes dias, as atividades letivas decorrem com aparente normalidade, dentro de duas semanas tudo irá mudar. O dia 6 de janeiro de 2025 marca o retomar das aulas após a interrupção letiva de Natal, mas também grandes mudanças na dinâmica de circulação na Escola Secundária e que começa, desde logo, na entrada, que passará a ser feita provisoriamente junto ao Pavilhão Gimnodesportivo. «É uma portaria bastante mais estreita», reconhece. Será aí onde ficará instalado um contentor que «vai ter os telefones e os sistemas de controle de entradas e saídas dos alunos». Imediatamente ao lado, será o portão de entrada das «viaturas de serviço e emergência». Será assim pelo menos até ao verão de 2026, data prevista para a conclusão das obras, daquele que é um projeto pensado pela Câmara Municipal de Porto de Mós e que conta com um investimento de quase 10 milhões de euros. Seguimos caminho. 

«Isto vai desaparecer», aponta para o atual refeitório, revelando, de seguida, que a cozinha passará a funcionar na Escola Dr. Manuel Oliveira Perpétua, na Corredoura, para onde serão transferidos alguns equipamentos de modo a «reforçar a capacidade de produzir refeições». «A comida é feita lá e depois é transportada para cá», refere. Por sua vez, o refeitório vai ser transferido para a sala de alunos – atualmente usada para convívio – um espaço que, reconhece, «não é muito grande», mas que «terá que servir para bar, distribuição de comida e refeitório». «É um processo que envolve várias etapas e se há uma que falha condiciona tudo o resto. Essa parte é aquela que mais nos preocupa. Aí reside uma grande alteração», confessa Pedro Gil Vala, admitindo já a possibilidade de a mudança de funcionamento do refeitório poder ser uma fase marcada por «algum stresse organizacional». Sem sala de convívio para os quase 900 alunos, o diretor do AEPMOS considera já a hipótese da necessidade de criar um espaço para esse fim. «Não há muito espaço para acolher os alunos nos seus tempos mortos. Quando eles chegam às 8 horas, as aulas só começam às 8h30. Para onde é que eles vão?», questiona.

Outra das grandes mudanças que estas obras irão trazer é a alteração do local de realização dos exames e provas nacionais: «Não vamos poder realizá-los aqui. Estamos a pensar fazê-los na Corredoura. Não vai haver condições [aqui]. Os nossos alunos têm que realizar as provas em condições de equidade com outras escolas do país que não têm estas perturbações», frisa Pedro Gil Vala.

Seguimos. Estamos agora na zona do telheiro. De repente toca a campainha e o burburinho que, entretanto, vai aumentando de intensidade, antecipa a chegada de dezenas de estudantes, vindos de vários pontos da escola. É hora do recreio. Dentro de dias, esse ruído dará lugar a um outro, ao das máquinas, e aquela que era até agora uma zona de passagem e de convívio, passará a ser uma zona de obras a decorrer, vedada aos alunos. 

“Esta obra veio mesmo na altura certa” 

Concluídas as obras, a Escola que até aqui albergava perto de 900 alunos passará a ter capacidade para acolher 1 200, contando já com os estudantes que transitam da Dr. Manuel Oliveira Perpétua. «Fui estudante nessa escola e depois vim para aqui para o 3.º Ciclo», recorda o diretor do AEPMOS, fazendo alusão àquele que é o trajeto natural que todos os alunos fazem hoje em dia mas que a partir do ano letivo 2026-2027 deixará de acontecer, com os alunos a começarem logo o 2.º Ciclo na Secundária. «Se o calendário de obra se cumprir, no Natal de 2026, temos a prenda no sapatinho», brinca.

Embora reconheça que a escola apresentava «uma boa forma», Pedro Gil Vala lembra que esta já tem quase 50 anos e que «carece de algumas funcionalidades que hoje em dia existem nas mais atuais e que fazem alguma diferença, como por exemplo os laboratórios mais modernos, as salas de informática, a questão do conforto térmico, do aquecimento». Por outro lado, Pedro Gil Vala não tem dúvidas de que «esta obra veio mesmo na altura certa», sobretudo num momento em que, reconhece, «a escola está sob grande pressão», causada pela chegada de um «grande número» de alunos estrangeiros, registada nos últimos anos. «Nós precisamos de uma sala para qualquer coisa e não há», lamenta. 

Em termos efetivos, as alterações são mais que muitas. As rotinas vão mudar, assim como o espaço de circulação que fica reduzido a metade. «O que vai mudar é, de facto, esse quotidiano que estava criado e que vai ser profundamente alterado. O espaço disponível é 50% do que existia. Esses hábitos de circulação, de liberdade dentro do espaço, vão ser fortemente condicionados», frisa. 

Por agora, Pedro Gil Vala adianta que estão a tentar «planear as próximas etapas» para identificarem «algum constrangimento» que possa surgir e conseguirem «atuar antes». «Estamos confiantes que vai correr bem», conclui.

Foto | Jéssica Silva

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