No passado dia 18 de abril celebrou-se o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios que foi assinalado pelo Município de Porto de Mós através de duas ações: uma visita às obras de requalificação da Estrada Romana do Alqueidão da Serra e uma visita noturna ao Castelo de Porto de Mós. O Portomosense acompanhou a visita à via que foi usada pelos romanos, no século I, e que ligava Colipo, na altura sede de concelho, ao Vale do Tejo.
«Estamos aqui hoje para ver a evolução dos trabalhos e perceber se tem corrido de acordo com as expectativas da empresa, tendo em conta a importância histórica que esta via tem para o concelho», salientou o presidente da Câmara, Jorge Vala. O arqueólogo municipal, Jorge Figueiredo, fez um enquadramento da obra, lembrando que a Estrada Romana já tinha sido intervencionada em 2001: «Na altura terá havido um abate de eucaliptos e terão circulado máquinas por cima da via e foi isso que provocou esta destruição, porque o monumento estava estável», recorda. Nesse momento «houve uma intervenção de emergência com o intuito de conter a destruição como medida temporária», no entanto, ficou a recomendação de «se fazer um projeto de conservação e restauro». O projeto chegou agora, 20 anos depois, com uma ideia muito clara: manter o traço original da via. Em conjunto com a Direção Regional de Cultura do Centro, foi feito «um levantamento de pormenor para resolver uma série de questões técnicas e éticas também, porque uma das questões que se colocava era que tipo de abordagem ia ser feita, se uma intervenção marcadamente contemporânea que marcasse todo o contraste de uma forma muito clara ou se, pelo contrário, seria mais conservadora», explica Jorge Figueiredo. Optou-se pela segunda alternativa, «encarando que esta via sempre foi reconstruída e restaurada ao longo dos tempos e que não fazia muito sentido fazer intervenções ultra modernas, repondo apenas a via».
E de que forma vai ser feita esta reposição? Diogo Gaspar, conservador da Arqueohoje, empresa responsável pela obra, explica. «As obras que vamos fazer têm o intuito de preservar a parte estrutural da estrada, não vamos mexer no nivelamento da mesma. Os roços que aqui vemos é da utilização, faz parte da história da estrada, não vamos intervir nesse aspeto», frisa. Será feita uma reposição da pedra nos buracos e vai ser intervencionada a «parte do fecho da estrada». «Vamos utilizar argamassa e rede de fibra de vidro, que é um material com durabilidade para separar o original da intervenção», especifica Diogo Gaspar. Estes materiais vão ser usados para fazer esta diferenciação, mas a pedra utilizada para preenchimento será pedra local: «A pedra, na periferia, junto do original, vai levar argamassa, tudo o resto vai funcionar de forma tradicional, por encosto e aperto».
Além do trabalho de limpeza e restauro, será também feito um trabalho arqueológico de interpretação da obra. João Perpétuo, arqueólogo da Arqueohoje é o responsável por esta parte e acredita, à partida, que não será provável encontrar materiais: «Independentemente de poder aparecer nestas limpezas algum material associado, eventualmente deixado por esquecimento ou perdido durante a utilização da via, é pouco provável tendo em conta a proximidade da via à localidade mais próxima, não justificaria nas proximidades a existência de uma estalagem de um ponto de mudança de cavalos, de qualquer forma se aparecer algum material nós estamos cá para o identificar e recolher». Mais importante do que os materiais que se possam descobrir, salienta o arqueólogo, é o que «estas limpezas vão permitir» identificar. «Poderemos entender melhor a forma como a via foi construída, nomeadamente nas áreas onde tiveram que fazer uns taludes maiores de contenção e em que meteram mais material, eventualmente poderemos até reconhecer se esta zona por onde passamos será original ou se poderá haver um lajeado anterior, mais antigo e este ser apenas a reconstrução da via», completa.
Esta obra tem um orçamento de 28 mil euros mais IVA prevendo-se que esteja concluída em dois meses. Da parceira do Município com a Arqueohoje faz parte também a realização de um plano de manutenção que se vai focar essencialmente «em limpezas, diagnóstico de novas fragilidades e eventuais obras», explica Jorge Figueiredo.