Obrigado por tudo, O Portomosense. Foi uma honra fazer parte desta história

3 Janeiro 2025

Hoje, dia 3 de janeiro de 2025, assino aquele que é o meu último editorial enquanto Diretor desta nobre casa. Faço-o por escolha própria, de forma consciente e muito ponderada, com a total convicção de que fiz tudo aquilo que estava ao meu alcance para dignificar este quinzenário durante dois longos anos.

Estar à frente de um jornal local com quatro décadas de história não estava nos meus horizontes quando 2023 chegou. Tinha (e mantive) um emprego full-time na área que amo, que é o jornalismo, responsabilidades acrescidas e uma outra equipa a meu cargo, a vida pessoal estava estabilizada e os próximos passos acautelados. Mas boa parte dos planos alteraram-se quando em março daquele mesmo ano recebi um convite impossível de recusar. 

Semanas antes, recordo-me, havia estado pela primeira vez nos estúdios da Rádio Dom Fuas, a ser entrevistado pela Maria João Novo, no seu programa Conta-me Histórias. À saída, cruzei-me com o presidente do Conselho de Administração da CINCUP, Pedro Vazão, com quem troquei meia dúzia de palavras sobre a minha experiência no mundo do jornalismo online e ainda sobre uma maleita que a ambos afeta: o sportinguismo ferrenho. Um par de semanas depois, o telefone tocou. Era o Pedro. A sua diretora, Catarina Correia Martins, por quem tenho elevada estima e consideração pelo papel que desempenhou neste periódico, ia embora, também ela por motivos pessoais. Disse-me então que procurava quem a substituísse dali a umas semanas, mas queria trazer algo novo. O desafio que tinha em mente era o de aproximar esta histórica publicação dos meios digitais, aumentando a sua presença nas redes sociais, atraindo leitores mais jovens e criando um novo website. Tudo isto, claro, sem desvirtuar O Portomosense do caminho que até então havia sido trilhado.

Ora, de que forma é que um jovem de 26 anos poderia voltar as costas a um comboio que só passa uma vez? Aceitei. E passados dois anos digo sem pudor que esta foi a missão mais difícil da minha vida, mas deixo-a cumprida. Em tão pouco tempo, superaram-se muitas metas, quebraram-se barreiras que de início se julgavam impossíveis e abriram-se portas para um futuro pautado pelo sucesso. Conheci pessoas incríveis, tive a oportunidade de desvendar as histórias que algumas das nossas freguesias ainda escondiam, e, por sorte, estive “cá” para viver na pele a simbólica edição N.º 1000.

Olhando para trás, dizer “sim” ao Pedro em 2023 pode ter sido um ato algo irrefletido, próprio da juventude, mas valeu por cada momento. Embora este seja um barco que vai vivendo de acordo com as marés – e estes dois últimos anos ficaram marcados por muitas tempestades em alto mar -, houve sempre um voto de confiança, uma palavra amiga e uma palmada nas costas para nos motivar a ir em frente.

Cheguei a O Portomosense pressionado pelo relógio, sem ter grande experiência no planeamento de edições impressas, na liderança de uma equipa onde todos tinham mais anos de casa do que eu, mas a verdade é que encarei o desafio tal como encaro tudo na vida, de frente, a fazer conta com o clássico trabalho árduo e com a obstinação que me reconheço, talvez até a contar com uma ponta de sorte aqui e ali. 

A coisa deu-se. Saio com novas bagagens para abraçar o não menos exigente desafio profissional que este mês me traz, saio com o sentimento de dever cumprido e saio com a certeza de que vivi intensamente tudo aquilo que Porto de Mós teve para me dar.

Foram incontáveis as horas extraordinárias que se fizeram aqui, não só pelo que a profissão impõe, mas também por aquilo que o peso dos galões demanda. Eram estas as regras do jogo que aceitava, de bom grado, jogar. Afinal de contas, estamos a falar de uma publicação com quase 42 anos de história, bem cimentada no concelho e com uma base de milhares de assinantes que cada vez que renovam a anuidade nos oferecem mais um voto de confiança. E os resultados estão à vista. O Portomosense atualizou-se, está cada vez mais ativo nas redes sociais, aumentou sobejamente a sua rede de colaboradores e colunistas voluntários, desenvolveu parcerias, saiu mais à rua , esteve “lá” sempre que conseguiu estar, reaproximou-se de muitos dos que por um motivo ou por outro haviam deixado de acreditar na qualidade da imprensa local, e acima de tudo informou, com isenção e rigor, sem nunca sucumbir a pressões externas ou aos múltiplos desafios inerentes a qualquer meio de comunicação de índole local.

Hoje, O Portomosense lança um site reformulado (oportomosense.com), mais rápido, mais intuitivo, constantemente atualizado e que nos próximos dias adiciona às tradicionais assinaturas da versão impressa a leitura de artigos exclusivos online, assim como o pagamento da anuidade sem a obrigatoriedade de visitar as nossas instalações (que continuam e continuarão SEMPRE de portas abertas para o receber). Esta transformação digital chegou tarde, mas chegou, e é fruto do árduo trabalho de toda uma equipa que diariamente vai ao limite para lhe fazer chegar a melhor informação. É por isso que digo que não fiz nada sozinho nestes dois anos. Tive a sorte de ter sempre do meu lado um grupo de jornalistas excepcionais, que não me canso de referir que poderiam estar a escrever para qualquer jornal deste país. Porto de Mós pode orgulhar-se.

Foram, no total, 19 os colegas de trabalho que tive durante este tempo. Com todos aprendi e de todos levo um pouco. Espero que seja recíproco.

Quero, com este último editorial, expressar publicamente o meu mais profundo agradecimento à Jéssica Moás de Sá, a minha diretora-adjunta, que está comigo desde o primeiro minuto e que tem feito um trabalho formidável nos bastidores. A partir da próxima edição, assume em conjunto com o Isidro Bento a Direção de forma interina, com toda a justiça, diga-se de passagem. Aos dois, desejo o maior sucesso, pois estou seguro de que ajudarão O Portomosense a alcançar o patamar que sempre lhe vaticinámos. Ao Isidro, à Jéssica Silva, ao Pedro Vazão, ao Luís Carvalho, à Regina Ferreira, ao Pedro Pestana e ao João Moleano, uma palavra de apreço. Fazem parte do núcleo duro desta casa que tive o privilégio de dirigir e são parte da identidade de O Portomosense que todos hoje conhecemos. Por fim, à Rita Santos Batista, ao Bruno Fidalgo Sousa, ao Renato Simão, à Sónia Paulo, ao Samuel Ferreira, à Juliana Santos, à Cristiana Oliveira, ao Rafael Duque, ao Fábio Sousa, e ao Filipe Santiago, a minha eterna gratidão. Foram também eles os obreiros dos sucessos e das grandes mudanças destes últimos anos. Pessoas que, nas suas respetivas funções, fizeram com que o jornal mudasse para melhor.

Obrigado, O Portomosense, e obrigado, portomosenses, por terem confiado em mim. Foi uma honra fazer parte desta história.