«À minha imagem», é assim que Ricardo Trindade define a sua oficina, a R20 Auto, aberta desde fevereiro no Juncal que pretende marcar «pela diferença e qualidade». É natural de Alcobaça mas foi nesta vila que encontrou o espaço que procurava para o negócio. São cinco boxes no total, três dedicadas «ao serviço normal comum a todas as oficinas, de eletricidade e diagnóstico, serviços rápidos e mecânica em geral», e depois duas com serviços diferenciadores. «Uma box dedicada a carros híbridos e elétricos onde se consegue fazer também reconstrução de baterias», para a qual existe uma parceria «com uma empresa do mercado para a investigação e desenvolvimento de veículos elétricos», explica. Depois há a box race dedicada a carros de corrida e à qual está associado um Centro de Investigação e Desenvolvimento Automóvel, que trabalha «para algumas empresas e construtores, desenvolvendo veículos». «Temos a capacidade de desenhar peças, fazer prototipagem e construir. Não só em carros de competição, mas também no restauro automóvel, fazemos muitos restauros a nível mecânico. Quando já não existem certas peças no mercado, conseguimos reproduzi-las com qualidade superior à original».
A oficina tem as condições «todas para fazer qualquer serviço» mas o objetivo do proprietário é adquirir mais máquinas específicas, sobretudo para a box race. «São equipamentos que não são necessários numa oficina mas que quero adquirir para fazer upgrades a todos os níveis», explica. O que é que o levou a querer investir neste mundo? «Sempre gostei muito de automóveis, das corridas, sempre estive ligado a esta área, comecei a investir em material específico e a fazer assessoria em oficinas, estive 16 anos a fazer assessoria de norte a sul do país e também em Espanha», conta. Com formação base em mecânica automóvel, tem também cursos na área de mecatrónica, eletrotecnia naval e em supervisão de manutenção aeronáutica e foi-se apercebendo, enquanto prestava assessoria, «das lacunas nas condições de trabalho, na maneira de trabalhar e falta de formação que existe». Para Ricardo Trindade, é obrigatória a «formação dos funcionários» e, mais do que isso, é obrigatório «estar em constante formação».
Precisamente da sua formação em aeronáutica, tentou trazer o modus operandi, «ou seja, o controlo de qualidade, controlo nas ferramentas e em todos os processos», uma vez que é uma área onde não pode haver a mínima falha. Ricardo Trindade assume que quer que esta se torne «uma oficina de exemplo no distrito» e até agora tem conseguido captar a atenção dos clientes. «Nas boxes específicas de híbridos e elétricos e race temos muito trabalho porque também foi trabalho que criei durante 16 anos», explica o proprietário, que foi conhecendo muitas pessoas nas oficinas e competições onde esteve. «Agora até surgiu a oportunidade de desenvolvermos dois carros para uma marca de ralis», salienta. Nas boxes de manutenção geral o trabalho «vai aparecendo»: «As pessoas não conhecem, mas vão conhecendo aos poucos. Mesmo quem tem pouca sensibilidade na condução nota bastante diferença depois da viatura vir cá, principalmente nos consumos. Conseguimos reduzir bastante os consumos numa manutenção normal, porque além de uma revisão normal, fazemos limpeza de sensores, linearização e calibragem de sensores e isso é extremamente importante no carro».
O espaço cowork
Um dos espaços que vai compor esta oficina é um espaço de cowork e lazer tanto para os funcionários como para os clientes. «Hoje em dia as pessoas fazem muito teletrabalho e, assim, é menos uma desculpa para não virem à oficina, terão aqui um estúdio com todas as comodidades para trabalhar», refere Ricardo Trindade. A ideia é aliar a este espaço duas marcas, uma de lubrificantes e uma de bebidas energéticas, para ir ao encontro da box race. A R20 Auto terá uma equipa de assistência nas competições de rali e todo-o-terreno onde estas marcas também poderão estar representadas. Quanto a este espaço de cowork permite também, na opinião do proprietário da oficina, «uma maior transparência» para com o cliente: «Poderá, enquanto trabalha, ver o que estão a fazer no seu carro».
Carros adaptados
«Além da capacidade para desenvolver algumas peças e sistemas também conseguimos fazer a adaptação de veículos a pessoas com mobilidade reduzida», explica. Ricardo Trindade assume que era uma «área que não conhecia», mas que por ter amigos com mobilidade reduzida, começou a perceber que «tinham dificuldade em adaptar os seus veículos». «Há empresas que se dedicam à transformação de ambulâncias ou carros de GNR e PSP, mas quanto à adaptação a pessoas com mobilidade reduzida, há duas ou três empresas a fazê-lo mas com dificuldade, normalmente compram peças no exterior», esclarece. No caso da R20 Auto, por conseguirem construir e montar os próprios sistemas conseguem fazê-lo de forma mais eficaz.
Oficina-escola
«A ideia é dar formação na oficina a pessoas da área da engenharia, nomeadamente do Instituto Politécnico de Leiria e mesmo a pessoas de outras oficinas, ou seja, tornar-se numa oficina-escola em pós-laboral», explica. O mecânico tem Certificado de Competências Pedagógicas que lhe permite dar formação. «Estou a fazer a aquisição de equipamentos específicos que outras oficinas não têm e, assim, é uma forma destas oficinas terem mais profissionalismo e fazerem outro tipo de manutenção», frisa. O proprietário garante que não se importa «de partilhar conhecimento, antes pelo contrário».
Conceito clean
Todas as sextas-feiras trabalha-se mais uma hora «para fazer a limpeza da oficina», relata. A ideia é ter uma oficina clean onde além da manutenção da limpeza se tentam usar máquinas e ferramentas que permitam fazer o trabalho com a menor sujidade possível. «Há um controlo desde os pequenos consumíveis, como panos e esse tipo de coisas», acrescenta o proprietário.
Descontos para serviços à comunidade
Já há protocolos feitos com empresas para que possam ter um desconto no arranjo dos seus carros, mas agora a ideia é alargar isso a «bombeiros, GNR, PSP e algumas associações, como lares», revela. «É uma forma de nos ajudarem com trabalho e nós ajudarmos com o preço de custo de manutenção de viaturas», afirma. Este desconto aplica-se também às viaturas pessoais dos bombeiros voluntários.
Foto | Jéssica Moás de Sá