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Olaria: uma arte (quase) extinta

9 Junho 2020
O Portomosense

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O Portomosense

9 Jun, 2020

Há cerca de 50 anos que José Alves Santos foi obrigado a trocar os livros da escola pela roda de oleiro. Nessa altura, o pai, que tinha agarrado recentemente o negócio da família, uma antiga olaria que já vinha a ser explorada desde os seus tetravós, decidiu criar a empresa Olaria de Barro Vermelho, na Tremoceira. Para ajudar o pai a fazer face ao elevado número de encomendas, José Alves Santos tomou a decisão de deixar de estudar, entregando-se à arte de trabalhar o barro. Desde então que passou a integrar de forma plena a atividade familiar, dando-lhe seguimento até aos dias de hoje.

A vasta experiência como oleiro foi alcançada através da observação do pai e de uma curiosidade muito própria. Hoje, aos 62 anos, constata que é uma profissão que tende a caminhar para a extinção. «A freguesia das Pedreiras, se calhar, chegou a ter mais de 100 oleiros, hoje está reduzida praticamente a mim», adianta José Alves Santos. Na sua opinião, são inúmeros os fatores que têm levado a que a olaria tradicional seja vista como uma atividade cada vez menos atrativa. «Nesta área, ninguém consegue ganhar dinheiro. A olaria é uma profissão dura, suja e não é rentável. Por isso é que toda a gente foge disto», sublinha.

A sua empresa é composta por sete pessoas que «fazem um bocadinho de tudo», no entanto, há uma tarefa que é da sua exclusiva responsabilidade: «Só eu é que sei trabalhar na roda, mais ninguém consegue», confessa. A justificação que José Alves Santos encontra para que cada vez menos pessoas se dediquem à olaria prende-se com o facto de, nessa profissão, a persistência ser a palavra de ordem, uma qualidade que, no seu entender, não está ao alcance de todos. «A arte do oleiro é muito bonita mas é preciso ser-se muito teimoso e insistir bastante porque torna-se fácil desistir», sublinha.

Além do tempo despendido no processo de criação de uma peça, há o risco de esta se quebrar e esse é, segundo o oleiro, um dos principais entraves que leva as pessoas a “fugirem” desta atividade. «Quando a peça vai ao forno está sujeita a partir-se toda e aí todo aquele trabalho foi por água abaixo. É uma grande desilusão e tristeza porque nós fazemos as coisas com carinho e assim, perde-se a motivação de fazer mais», desabafa. Com a chegada das grandes indústrias que produzem em série, a olaria tradicional feita com mão de obra, passou a viver momentos negros. «Nós não podemos competir com máquinas e valores comerciais. A maior parte das pessoas quer o que é barato, muitas até acham bonito e dizem para não desistirmos, mas quando é na hora de pagar dizem: “Isso é muito caro!”», adianta.

A propagação da pandemia veio acentuar ainda mais a crise que já estava instalada no setor. A empresa que vendia uma vasta variedade de produtos, viu-se «praticamente a zeros». Com o cancelamento de eventos, como tasquinhas e feiras medievais, e o encerramento da restauração, o principal público desta atividade, milhares de peças foram canceladas e a empresa viu-se obrigada a entrar em lay-off. Por isso, José Alves Santos mostra-se pessimista em relação ao futuro que se avizinha: «Trabalhamos também muito com exportação e o que nos dizem é que se isto continuar assim, têm loiça de reserva para dois anos».

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