Nasceu de três entrevistas com figuras famigeradas da Rádio – e da Revolução de Abril – e quer «contar também com a participação de pessoas da comunidade» na estreia, em 2024. Ondas da Liberdade é uma peça que só vai entrar em cena aquando dos 50 anos do 25 de Abril, mas que cuja primeira parte – ou primeira estação, já que se refere somente ao episódio relacionado com a Rádio Emissores Associados de Lisboa – já esteve em digressão pelas 10 freguesias do concelho de Porto de Mós, entre 20 e 25 de abril, à boleia de um Unimog 4×4 do Exército.
A peça é uma cocriação do Leirena Teatro – Companhia de Teatro de Leiria, em parceria com o Município de Porto de Mós, que «lançou a proposta no ano passado» à companhia coliponense, como explicou o diretor artístico, Frédéric da Cruz Pires, que também assina a encenação e texto. «Fiz uma investigação sobre qual foi o papel da Rádio no 25 de Abril, e foi muita coisa, das operações que acontecerem, das tomadas da Rádio Emissora Nacional, da Rádio Clube Português, das senhas lançadas, os comunicados lidos». E foi isso isso que partilharam com o público, «a jeito de um teatro de intervenção, um teatro pedagógico, de partilha», explica a O Portomosense. Daí que tenham decidido entrevistar «três profissionais da rádio: Aurélio Moreira, com 60 anos de atividade, depois João Paulo Diniz, que esteve no Rádio Clube Português e Emissores Associados de Lisboa, e também Manuel Tomás, que lançou a senha do Grândola, Vila Morena». Dessas entrevistas nasceu o texto que ainda não está finalizado, confessa: «Nós estamos agora a criar os primeiros episódios, ainda faltam dois». Em concreto, Emissores Associados de Lisboa, Rádio Renascença, Rádio Clube Português e Emissora Nacional. Quatro rádios com um importante papel na Revolução de Abril, e que serão agora homenageadas individualmente.
A primeira parte, que já passou por todas as freguesias de Porto de Mós, teve como protagonistas Otelo Saraiva de Carvalho, o capitão Costa Martins e o locutor João Paulo Diniz, a voz da primeira senha da Revolução: «Faltam cinco minutos para as 23 horas», seguida da música E depois do adeus, por Paulo de Carvalho.
Com a companhia e o Município está o Regimento de Artilharia nº 4, que cederá um total de quatro camiões militares para a cenografia. Um «trabalho simples», considera Fréderic da Cruz Pires, «porque o que interessa é o seu conteúdo, como é que as coisas aconteceram. Embora haja um aparato, com um cenário montado, e há um Mini», que era o veículo de eleição do capitão Costa Martins, e que causou grande gáudio aos espectadores quando entrou pela peça adentro.
Um ano até à peça final
Esta apresentação do primeiro episódio de Ondas da Liberdade «foi uma exceção», explica Frédéric da Cruz Pires, «porque estamos a promover o espetáculo que vai acontecer para o ano». Os outros três episódios não serão apresentados a solo, mas somente no espetáculo final, cuja estreia terá lugar no próximo dia 25 de abril (de 2024), quando se celebram 50 anos da Revolução dos Cravos, na Praça da República, em Porto de Mós. Vai ter «quatro camiões, mais atores, mais rádios, mais movimento, mais carros antigos», de acordo com o encenador. E com um elenco alongado: «Vamos tentar que atores dos grupos amadores e comunidade possam também participar, para o ano, no espetáculo. Enquanto figurante e depois também os [atores dos] próprios grupos amadores que connosco já trabalham, com o Festival Teatro de Rua, poderem também participar e ter personagens» na peça.
Foto | Bruno Fidalgo Sousa
Revisão | Catarina Correia Martins