Carla Vitorino tem 47 anos e há 12 que luta contra um linfoma, «um cancro da parte dos cancros líquidos, que se situa no sistema linfático e, por isso, não é operável», como a própria explica. Atualmente, e depois de já ter feito «todos os tratamentos que estão disponíveis» e ainda não ter sido «possível acabar com a doença», Carla Vitorino procura um dador compatível para poder receber um transplante de medula óssea.
Tudo começou em 2007 quando começou a sentir-se muito cansada, no entanto, como era «profissionalmente muito ativa» sempre associou esse cansaço à sua «atividade profissional super exigente e ao facto de ter três filhas». Depois, a este sintoma «juntaram-se outros» que levaram Carla Vitorino a «realizar exames mais específicos e a descobrir a doença», lembra. A busca do dador é recente, uma vez que «primeiro tenta-se resolver a doença com quimioterapia», o problema é que o corpo de Carla Vitorino nunca reagiu a esses tratamentos: «As células cancerígenas nunca regrediram», aliás, com a quimioterapia intensiva «de 24 horas ligada às máquinas durante uma semana, as células cancerígenas avançaram», conta. Após experimentar outros tratamentos, a doença foi controlada, tornando a alqueidanense numa possível recetora de um transplante de medula. Começou então a busca por um dador, que foi encontrado através do banco internacional de dadores. «Era compatível comigo nove em 10, era muito bom… Mesmo. Estava tudo preparado, inclusivamente eu própria estava preparada, já tenho tudo o que é preciso para receber a transfusão, e um dia antes de começar a radioterapia que era necessária para fazer o transplante, recebo a notícia de que o meu dador tinha uma doença no sangue e não podia ser dador. Desmoronou tudo aí, voltei à estaca zero», explica.
Foi então que um grupo de pessoas decidiu juntar-se para ajudar. Criaram a Operação Garimpo, «o resultado da movimentação de amigos e família para tentar ajudar a encontrar» o ouro de que Carla Vitorino precisa, um dador. A Operação Garimpo teve a sua primeira edição no passado sábado, em Leiria, onde excecionalmente as pessoas podiam inscrever-se como dadores de medula óssea. «Foi tudo conversado, combinado e previamente preparado com o Centro Nacional de Dadores de Células de Medula Óssea, Estaminais ou de Sangue do Cordão (CEDACE). Os laboratórios Beatriz Godinho disponibilizaram-se para participar, têm sido extremamente atenciosos e muito prestáveis. Eles próprios entraram em contacto com o CEDACE e da parte técnica eu fiquei completamente de fora», começa por explicar Carla Vitorino. O mesmo grupo ofereceu «as instalações, os técnicos, não só de colheita, mas também os que vão fazer o preenchimento da documentação legal exigida, ou seja, implica muita mão de obra e muito trabalho e todas estas pessoas que vão trabalhar, vão fazê-lo de forma voluntária. Afinal ainda há gente muito boa e que gosta de participar nestas coisas, parece que não, mas há, há gente com muito bom coração», emociona-se. A Operação teve ainda a colaboração de um gráfica, que fez os cartazes, e do Município de Porto de Mós, que emprestou um autocarro para levar pessoas de Valverde, onde Carla Vitorino reside, de Porto de Mós e do Alqueidão da Serra, até ao ponto de recolha em Leiria. Nesse dia, cerca de 200 novas pessoas passaram a figurar no banco internacional de dadores.
«Se podemos salvar alguém, temos essa obrigação e devemos dar aquilo que temos e que não custa nada», avança Carla Vitorino que reitera que está a «dar a cara por esta campanha», mas que «se não forem dadores para a Carla, podem ser chamados para ser dadores em qualquer parte do mundo». Sem datas agendadas, Carla Vitorino revelou ao nosso jornal que há a possibilidade desta Operação se repetir noutras zonas do país, uma vez que algumas pessoas demonstraram interesse em organizá-la.