As Áreas Dedicadas à COVID-19 (ADC) foram uma das várias respostas dos Conselhos de Administração dos Centros Hospitalares e Hospitais e das Unidades Locais de Saúde no combate à pandemia. No concelho, o Centro de Saúde de Porto de Mós foi o pólo escolhido para acolher esta área. A partir do momento em que a COVID-19 se tornou uma pandemia e que o vírus já estava em Portugal, era necessário entrar «na fase da mitigação para conter a transmissão», explica a médica, Tânia Pereira, uma das responsáveis pela ADC. Era por isso importante criar «equipas que só se dedicariam a doentes com suspeita de COVID-19», mantendo outra equipa a funcionar para «serviços mínimos» noutras patologias diversas. A cada quinzena fica uma unidade local responsável pela área COVID-19, e foram ainda escolhidos os “chefes de equipa” em reunião com o Agrupamento de Centros de Saúde do Pinhal Litoral (ACES Pinhal Litoral). Nos primeiros 15 dias esteve a enfermeira Anabela Sousa, da Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados de Porto de Mós (UCSP) aos comandos do trabalho. Seguiu-se a Unidade de Saúde Familiar Novos Horizontes, que tem como responsável a médica, Tânia Pereira. O número de profissionais afetos a esta área depende da unidade que está a liderar cada quinzena, sendo que quem cumpre esta função não presta depois «serviços diretos ao público e está resguardado dos outros profissionais». Falámos com as duas profissionais de saúde para nos retratarem como tem sido o trabalho desenvolvido, no concelho, nesta luta contra o coronavírus.
O funcionamento estruturado
Quando um utente tem sintomas relacionados com o coronavírus, é feita uma triagem, «um fluxograma de questões como se tem febre, falta de ar, se esteve com um caso suspeito…», explica Tânia Pereira. Esta triagem pode ser feita na tenda de triagem que está montada no Centro de Saúde de Porto de Mós para esse mesmo efeito, nas sedes das unidades que continuam em funcionamento e que encaminham o processo para ADC ou até mesmo pelos meios de comunicação disponíveis. Se os profissionais perceberem, através da resposta a estas questões, que o caso não é suspeito de COVID-19, o utente é encaminhado para o interior do Centro de Saúde, onde se mantém o atendimento das situações normais.
Os médicos da ADC fazem também «serviço de Trace COVID», ou seja, «sempre que há um caso suspeito, esse doente é colocado numa plataforma e essa plataforma obriga a que os médicos telefonem todos os dias ao doente que está em domicílio para avaliar os sinais vitais, se tem tosse, se tem dores, se está com febre, entre outras questões». Se o estado deste doente «se agravar é encaminhado para o hospital», se «o seu estado se mantiver e melhorar, terá alta no domicílio». Tânia Pereira garante «que nenhum doente fica ao abandono».
Estar na linha da frente no combate à pandemia «não é fácil», assume a enfermeira Anabela Sousa. «Os elementos da equipa têm-se apoiado muito uns nos outros, se um está mais em baixo, o outro ajuda», confidencia. As profissionais de saúde contam também que o espírito de camaradagem contou na hora de definir as equipas que iam estar na área de COVID: «Tivemos a preocupação de poupar os colegas mais velhos, com doenças crónicas, que tenham filhos ou familiares idosos», contam.
O balanço positivo sem esquecer o trabalho de equipa
«A união das equipas das unidades funcionais locais» e das «unidades de saúde pública», que Anabela Sousa faz questão de nomear, como a «Unidade de Cuidados Continuados (UCC), a Unidade de Recursos Assistenciais Partilhados Pinhal Litoral (URAP) e também a Unidade de Saúde Pública e a Unidade de Apoio à Gestão (UAG)», a juntar aos apoios «de pessoas e entidades», como «a Junta de Freguesia de Serro Ventoso que ofereceu equipamentos de proteção individual, o Município de Porto de Mós», «as entidades privadas» que permitiram que existam «condições» para que a ADC funcione, é uma das causas «de sucesso», refere Anabela Sousa. A população tem também surpreendido, pela positiva: «As pessoas compreendem a situação, o nosso estado de espírito e têm feito muitos contactos telefónicos para evitar vir presencialmente».
Tânia Pereira partilha da mesma opinião, dando «os parabéns à população de Porto de Mós», no entanto, salienta, «começam-se a afrouxar medidas». Na opinião da médica é preciso que seja mantida «a cautela, manter os cuidados tidos até agora» porque assim a população estará a ajudar-se «a si própria e aos profissionais de saúde». «Portugal foi muito elogiado lá fora, pelas medidas e pelos bons resultados mas o vírus continua aí e se as pessoas voltarem à vida que tinham antes de março, poderemos lidar com aquilo que tentámos tanto evitar», afirma. A profissional prevê que as rotinas futuras vão ser diferentes e defende que é necessário que assim seja: «Quem fazia compras todos os dias, deve fazer uma vez por semana, devem manter a distância social, ter os cuidados preconizados pela Direção Geral da Saúde (DGS), e a nível dos centros de saúde, procurar agendar, programar as consultas, privilegiar o telefone», frisa.
Não deixe de ir ao médico
Tânia Pereira e Anabela Sousa reconhecem que uma das mudanças positivas que a COVID-19 trouxe foi o facto de a população estar a aderir aos meios tecnológicos, seja por telefone ou por e-mail, para entrar em contacto com os profissionais de saúde. Essa deve ser, de facto, a política, «contactar por telefone antes de se deslocarem ao centro de saúde de forma a que equipa possa agendar uma hora segura para evitar aglomerados», dizem, frisando outra coisa muito importante: não deixar de ir ao médico se estiver com qualquer outro problema de saúde. Os serviços mínimos, explica a enfermeira Anabela Sousa, estão a dar prioridade «à vacinação, doenças agudas, bebés até 1 ano, grávidas, doentes da diabetes e com hipertensão descontrolada» e sobretudo estes grupos não devem deixar de lado os seus cuidados de saúde, mas as unidades continuam a funcionar para todos.
Mesmo antes de o Centro de Saúde ter uma tenda de triagem, já as unidades funcionais se estavam a organizar «para fazer uma espécie de triagem» para que as pessoas percebessem «que não era preciso ter medo» e que nunca foi colocado em perigo o atendimento dos doentes. A enfermeira não tem notado, sobretudo no diz respeito à vacinação das crianças, um decréscimo de afluência, até porque «a vacinação nestas idades é estipulada em prazos». Reconhece que nas primeiras duas semanas «as mães ligavam a perguntar se podiam vir» e a resposta era e é afirmativa. Anabela Sousa reafirma: «Como é lógico, não íamos colocar os nossos utentes em perigo», portanto, tudo está montado para dar resposta aos doentes ou com suspeitas de COVID-19 mas sem descurar a restante população.