O presidente da Câmara, Jorge Vala, disse-o há 15 dias a O Portomosense e voltou a afirmá-lo, de forma perentória, na reunião descentralizada que teve lugar a 13 de fevereiro em Alvados: «Ou o promotor do hotel o constrói no loteamento que está reservado para esse efeito, ou então enquanto eu cá estiver [como presidente de Câmara] não faz ali rigorosamente nada. Perde tudo».
De acordo com o autarca, depois de no final do ano passado ter sido feita a alteração ao loteamento, neste momento os dois edifícios destinam-se exclusivamente a hotel, portanto havendo essa condicionante não permitirá que qualquer outra coisa ali seja construída ou que o que já existe venha a ter uma utilização diferente daquela que está prevista e autorizada. «Aquilo não é passível de ser alterado», sublinhou.
O assunto voltou mais uma vez à baila, neste caso pela mão do vereador do PS, Rui Marto, que na sequência das declarações do presidente da Câmara ao nosso jornal, na última edição, teceu alguns comentários sobre esta matéria e pediu esclarecimentos suplementares.
O autarca socialista começou por achar «muito estranho que se fale agora na capacidade de suporte do edifício no fim de já haver ali construção de pisos a mais e de se ter cedido terreno do domínio público para privado». Rui Marto disse que «vamos ter aqui pano para mangas» deixando no ar a ideia de que se estará a tentar encontrar uma desculpa para continuar a protelar o reínicio dos trabalhos e nesse sentido questionou «para quando será expectável que isto [a construção do hotel] de uma vez por todas avance porque sendo uma questão estritamente privada foi suficientemente politizada nos últimos 15/16 anos para que possamos passar ao lado destas situações».
“Hotel é um fait-divers político há muito”
«Eu gostava de ter a mesma confiança que o presidente quando diz que se o promotor não fizer o hotel, perde tudo», disse o eleito socialista reconhecendo, contudo, que desconhece «se existe alguma cláusula de salvaguarda, além dos instrumentos normais de gestão do território, apesar de sabermos que esses vão sendo alterados como aconteceu com o projeto de loteamento». A resposta de Jorge Vala não se fez esperar e foi taxativa: ou se faz o hotel ou não se faz mais nada. O autarca concordou ainda com Marto quanto à politização do assunto, afirmando que «o hotel é um fait-divers político há muitos anos». «Não tenho também dúvidas de que sendo privado, foi, é e será de interesse para todo o município, até porque o nosso projeto [autárquico] assenta muito na capacidade hoteleira, que ainda não temos muita e precisamos de ter, nomeadamente na vila de Porto de Mós, e daí também o nosso empenho em tentar resolver as coisas», afirmou.
Quanto à eventual dificuldade do edifício começado a construir há mais de 15 anos, aguentar com a carga extra, Vala voltou a ser perentório: «Se o promotor ou os engenheiros nos disserem que aquilo que lá está não tem capacidade para aguentar com a carga que lá vão meter, isso é um problema que não é nosso. Eles é que têm de estudar e ver se vão reforçar ou deitar abaixo para construir. O projeto de arquitetura foi aprovado com os índices que tínhamos definido. Agora têm alguns meses para entregar as especialidades e nessa altura vemos como estão as coisas e o que se vai fazer a seguir», concluiu.
“Podemos ficar com uma barracada de cacos à entrada da vila”
Tendo por base, novamente, a peça do nosso jornal, Rui Marto questionou Jorge Vala se ao deixar no ar a ideia de que quer proceder a alterações na zona que acolhe o campo de futebol sintético e as tasquinhas «isso significa que aquilo que é voz corrente em Porto de Mós, passa a ser voz assumida pelo executivo municipal, ou seja, que se pretende mudar aquilo tudo de sítio».
O autarca disse depreender das palavras do presidente que daquele lado da vila «há duas âncoras, a Central e as piscinas, e três espinhos, as tasquinhas, o campo sintético e os camiões». Quanto aos camiões disse também não chegar ali e ficar entusiasmado com a sua presença no mas que prefere tê-los lá «que atrás do Mercado Municipal apesar de haver sinalização que o proibe, ou em cima do passeio na Rua Luís de Camões, na subida para o Bairro de São Miguel». Alertou ainda para o facto da «eventual relocalização e desmantelamento do que lá existe, ter um custo que não é para se brincar porque não estamos a falar de 100 mil euros mas muito mais próximo dos milhões». Em suma «se estamos a falar de estudos, tudo bem, porque estudar para decidir é sempre o caminho certo, mas parece que já estamos mais além», afirmou o vereador do PS.
Em resposta, Jorge Vala confirmou que ainda não há decisões tomadas mas, apenas um estudo e nesse sentido escusou-se, para já, a falar das tasquinhas. Já no caso do campo de futebol frisou haver «apenas duas opções possíveis: ou mantêmo-lo ali e temos de plantar mais um edifício ad hoc, para servir de balneários porque sem isso não é possível ter jogos federados, ou então construímo-lo no sítio que está preparado e infraestruturado para o receber [próximo do Parque de Jogos Municipal]. No seu entender, o atual campo foi colocado naquele local «por razões políticas», mas para si faz mais sentido «do ponto de vista do ordenamento e porque a Câmara adquiriu e preparou o terreno para esse efeito, que fique no sítio para onde foi projetado originalmente». De acordo com o autarca, não está totalmente excluída a hipótese do atual campo poder ficar onde está mas será necessário construir um outro para competição federada.
«Não podemos continuar a plantar coisas umas em cima das outras sem primeiro estudar o que aquilo pode receber e o que vamos fazer de todo o espaço, porque amanhã na entrada direita da vila temos um espaço importante e do lado esquerdo, desculpem-me o termo, uma barracada de cacos», sublinhou, acrescentando que «há uma proposta de trabalho no sentido de organizar aquele espaço e oportunamente será apresentada aos vereadores para discussão havendo já uma rubrica aberta no orçamento na eventualidade de se contratar o projeto».