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Paginação: sem ela, não havia jornal

12 Janeiro 2021
Jéssica Moás de Sá

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Jéssica Moás de Sá

12 Jan, 2021

O jornal chega às bancas, mas até lá, há todo um caminho a percorrer. Há pessoas para quem esse caminho pode interessar pouco, outras, que gostavam de o “percorrer” connosco e é para isso que aqui estamos. Um dos momentos cruciais para que um jornal chegue ao leitor, é a paginação, que tal como o jornal, ou melhor, a par dele, foi evoluindo com o passar dos anos. Paginar, é, simplificando, colocar os textos e as imagens ao longo das páginas, formando assim um jornal, neste caso, O Portomosense. João Carlos Moleano integra atualmente o conselho de administração da CINCUP (Cooperativa de Informação e Cultura de Porto de Mós), da qual faz parte o jornal O Portomosense e a Rádio Dom Fuas, e também ele cresceu na casa. Aos 14 anos começou a dar apoio técnico nos programas de rádio, sobretudo por carolice e motivado pela sua aptidão natural para as tecnologias. «Nada era como agora», admite João Carlos Moleano, não só na rádio, que, há muitos anos, era feita de uma forma amadora, como na própria paginação, na qual começou a trabalhar mais tarde.

Hoje a paginação é feita de forma integral na redação e depois, quando finalizado, o jornal é enviado de forma digital, através de um ficheiro, para a gráfica, onde é impresso. A paginação demora algumas horas e vai sendo feita à medida que os textos estão prontos, mas o envio do documento para a gráfica, hoje, está à distância de um clique e a sua rapidez depende apenas da qualidade do computador e da rapidez da internet, mas estamos a falar de minutos (a própria internet evoluiu, porque antes poderia demorar duas horas). Embora continuem a existir variáveis a considerar, a verdade é que o processo se descomplicou. «Antigamente o jornal era feito numa gráfica em Mira de Aire e era lá que tudo era paginado. Era impresso quase folha a folha e só depois é que era montado, enquanto que neste momento, o jornal é impresso numa impressora rotativa, que, quando acaba, o jornal sai pronto. Era um processo mais demorado», recorda.

Depois, passou-se para um processo intermédio. Já com a habilidade para os computadores calibrada, João Carlos Moleano começou a fazer alguma paginação na própria redação. «No início só iam as páginas a preto e branco e iam em papel vegetal. As páginas as cores não resultavam ainda muito bem no vegetal, mas mais para o fim começámos a enviar também essas», explica. O processo de impressão denomina-se offset, que João Carlos Moleano clarifica: «O que o offset fazia era passar no rolo que tem tinta, como se fosse um carimbo e depois passar na folha. Nós fazíamos o vegetal porque é translúcido e por isso permitia a passagem para chapa que reagia à luz». Este processo continua semelhante, mas muito mais rápido, devido à modernização das máquinas.

Há histórias e peripécias que o, atualmente informático, não esquece. «Era raro terminarmos a paginação antes das quatro ou cinco da manhã. Na altura as máquinas eram mais lentas, trabalhava-se a outro ritmo. Havia “cartórios” [publicações de escrituras e outras obrigatórias] para colocar no jornal que chegavam no próprio dia [no fecho da edição], e que ao contrário de agora, chegavam em papel, ainda tinham que ser passados a computador», lembra. Já a trabalhar com uma gráfica do norte do país, João Carlos Moleano recorda outras histórias: «Essa gráfica fazia outros jornais e todos os dias passava às cinco da manhã a carrinha que trazia os vários jornais diários impressos para distribuir e que ia a Lisboa deixar o jornal O Primeiro de Janeiro. Quando voltavam para cima levavam os vegetais do nosso jornal que minutos antes tínhamos deixado numa estação de serviço. De vez em quando lá acontecia nós chegarmos tarde e o carro já tinha passado. Na maior parte das vezes a solução era irmos diretos para Leiria e tentar despachar no Expresso mas houve alturas em que tivemos mesmo de ir a Oliveira de Azeméis levar os jornais, mas o jornal saiu sempre», recorda, entre risos. Hoje, isto não aconteceria. «No máximo o que hoje poderia atrasar era estarmos sem internet no momento de fechar a edição, mas mesmo assim se não havia internet na redação, havia noutro lado. As distâncias neste momento são mais curtas», frisa.

O “layout” do jornal e a sua importância

Os programas onde foi sendo feita a paginação do jornal «não mudaram muito», foram apenas aperfeiçoando ou ganhando novas funcionalidades para facilitar o trabalho de quem está a encontrar a melhor forma de dispor os conteúdos pelas páginas. O que mudou foi o design e João Carlos Moleano, que não esteve de forma contínua no jornal, mas foi mantendo contacto, descreve isso mesmo. «Houve uma evolução natural que foi acompanhando as mudanças de todos os jornais, sobretudo foi-se simplificando cada vez mais», salienta. Razão para isso, acredita, é a «profissionalização que foi acontecendo», uma vez que numa fase inicial quem paginava era amador e com o passar do tempo começaram a ser contratadas pessoas com formação na área. Os jovens estão hoje também mais despertos para estas áreas: «O nível de conhecimento é muito maior. A maior parte dos estagiários ou alunos de secundário sabem pôr um texto no programa», refere.

Algo que não se fazia numa fase inicial era um plano do jornal, que define de uma forma antecipada em que página cada conteúdo fica e que facilita o trabalho do paginador. Existem também “páginas-tipo”, ou seja, modelos de páginas que já estão pré-feitas e em que é apenas necessário adaptar o conteúdo ao modelo da página. Todas estas ferramentas foram sendo implementadas pelos vários paginadores que fizeram parte da casa. João Carlos Moleano acredita que a paginação é «90%» do jornal: «Não é tudo, porque as notícias são de facto o que importa, mas a verdade é que podes ter um texto muito bem escrito, que se não tiver apresentável, ninguém vai ler. É para isso que serve o design», defende.

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