barbas e as sobrancelhas são falsas, de lã, algodão ou feltro, a farta barriga também, claro, mas tudo o resto – a amabilidade, a afeição e o carinho – são bastante reais. E qualidades essenciais para se desempenhar o papel de Pai Natal, diz-nos um dos homens que anualmente enverga a farda escarlate do mítico São Nicolau.
Nuno Varela é natural das Pedreiras e não da Lapónia, mas há três anos que assume a figura de Pai Natal, no âmbito do Natal Encantado de Porto de Mós, através da empresa que gere com a família, a Pimponeta Varela. Aos fins de semana, enfia-se nas calças encarnadas, aperta bem o cinto e abotoa o casaco antes de abrir a sua “Casa”, na Praça Arménio Marques, na vila sede de concelho, e, acompanhado por um dos seus “duendes”, pelo trenó e pelas renas, começa a receber as crianças que visitam o espaço, sentado num cadeirão tão escarlate quanto o seu próprio fato, para lhes perguntar que presente querem este Natal, como se portaram durante o noite e se já escreveram a carta.
«A parte boa é a interação com as crianças e o entusiasmo, há sempre uma ou outra que tem medo do Pai Natal, mas no geral é aquela admiração quando olham para o Pai Natal, essa parte é muito engraçada. O que mais valorizo e mais gratificante é mesmo a paixão que as crianças têm pelo Pai Natal, vêm logo ter comigo dar-me um abraço. As crianças são genuínas», explica-nos Nuno Varela, que relata várias histórias, todas elas centradas naqueles de quem se diz ser o Natal.
Algumas chegam com pedidos mais banais, outras, com «pedidos atrevidos»: «Pedidos tão simples como por exemplo uns sapatos, uma camisola, há crianças que me pedem para estar com o pai no Natal porque está ausente, está a trabalhar no estrangeiro. E esse tipo de pedido às vezes mexem um bocadinho connosco, porque nós somos demasiado consumistas e às vezes aqueles pedidos tão simples fazem-nos pensar que realmente há coisas tão importantes na vida» e que, por vezes, não lhes é dado o devido valor, acredita.
Por outro lado, «se estiver calor acaba por ser um bocadinho desconfortável» utilizar o fardamento, um pormenor que não atrapalha contudo Nuno Varela, que confessa, ainda assim, que teve de se «reinventar», de se «adaptar» ao papel, para conseguir «ao máximo encorpar aquela figura do Pai Natal». O facto de trabalhar com crianças também lhe exige alguns cuidados no trato, na forma como aborda e fala com os menores de idade, o que levanta uma questão: «Agora, se toda a gente tem esse tipo de [cuidado]? Não, eu acho que não, é preciso algumas características, é preciso que seja uma pessoa afável, uma pessoa que vá procurar a criança, que saiba comunicar com a criança», explica.
Nuno Varela «gosta de fazer aquele trabalho». «Gosto de lidar com a simplicidade, com a sinceridade, as crianças trazem-me alguma [paz], aquele momento em que vou para ali acabo por estar um bocadinho descontraído, é um momento de reflexão», acredita.